No décimo sétimo domingo do Tempo Comum, o Evangelho
de Lucas apresenta Jesus rezando em um certo lugar. Segundo a Ir. Cidinha
Fernandes, “a atitude orante de Jesus provoca e faz brotar em seus discípulos
uma necessidade, da qual nasce um pedido: Senhor, ensina-nos a rezar, como
também João ensinou a seus discípulos”.
A religiosa destaca que “a necessidade de oração nasce
do coração daquela e daquele que se faz discípulo, aprendiz do Mestre. Os
discípulos de Jesus querem que Ele lhes mostre uma técnica, talvez uma prece
que os distinga de outros, mas Jesus vai além. Ele não se nega a ajudar os
seus, ele apresenta um jeito de rezar que é o resumo do Projeto de Deus”.
Segundo a missionária na Diocese de São Gabriel da
Cachoeira, “a oração em Jesus, ilustrada pela parábola de que se deve pedir
sempre e nunca desistir é a demonstração de uma relação, no caso relação de
confiança amorosa e próxima de Deus, o Pai que é nosso! Esta relação é de
diálogo e dialógica, pois traz em si, a necessidade do mundo”.
A Ir. Cidinha afirma que “quando dizemos Pai Nosso,
já nos leva para a dimensão comunitária, não é o meu pai. No mundo em que temos
a tentação de tomar posse de tudo, sermos dono da terra, dos minérios, da
floresta, das pessoas, o Pai Nosso já é profecia de que somos todos irmãos e
irmãs”. A religiosa vai comentando cada um dos pedidos da oração dos cristãos: “Santificado
seja o teu nome: quando tornamos santo o nome de Deus? Certamente que não é
por palavras e sim por gestos de amor, acolhida, cuidado, bênção”.
Ao dizer “Venha o teu Reino, trazemos a
grandeza do seu projeto, queremos o Reino de Deus aqui e agora, não o reino do
consumismo, da exploração, do acumulo de riquezas que condenam milhões de
pessoas a viver com fome, sem casa, sem-terra, sem pátria, com milhões de
refugiados, pessoas traficadas, violadas, sem direito a vida, o reino da
corrupção, da politicagem, dos desmandos, da morte de pessoas, lideranças,
indígenas.... não! O Reino de Deus fala de outro mundo, de outras
possibilidades relacionais, de bem viver, de vida para todos”, disse a
religiosa Catequista Franciscana.
Quando a gente diz Dá-nos a cada dia o pão que
precisamos, pedimos “o pão necessário a cada dia, o pão da partilha, o pão
para todos, o pão que é um grito de profecia ao acúmulo, aos banquetes de
alguns, enquanto outros não tem o que comer”, segundo a Ir. Cidinha. Comentando
o pedido que diz “Perdoa as nossas dividas, assim como nós perdoamos aos
nossos devedores”, ela destaca que “não basta Deus perdoar, também nós
precisamos perdoar, é convite a sermos pessoas reconciliadas”. A religiosa se
pergunta “Quando será paga a dívida que temos com os pobres? Roubados no mais
básico de sua vida cotidiana, em sua dignidade", denunciando que “mais uma
adolescente, vítima de abuso, abandono está sendo enterrada. Até quando? Como
vamos construir uma sociedade de justiça, de amor?”.
“Não nos deixe cair em tentação, mas livra-nos do mal”,
leva a Ir. Cidinha a refletir sobre “a tentação de acomodar, de desistir,
acovardar, de não ver mais saída, de achar que sempre foi assim, ricos muito
ricos e pobres sem nada. A tentação de achar normal a destruição das florestas,
das águas, dos povos, da diversidade. A tentação de ver a morte triunfar sobre
a vida e não mais vislumbrar a Ressurreição”. Finalmente, ela vê o “Livra-nos
do mal! Pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre” como “uma
conclusão de intimidade, de reconhecimento da grandeza de Deus, tudo vem Dele e
a Ele pertence. Amém!”.
A religiosa destaca na primeira leitura a “Abraão
intercedendo pelos justos de forma incansável”, afirmando que “A comunidade
orante reza com o salmista: Naquele dia em que gritei, vós me escutastes, ó
senhor! E aumentastes o vigor da minha alma”, pedindo “Completai em mim
a obra começada, ó Senhor, vossa bondade é para sempre!”.
Finalmente, a Ir. Cidinha pede “que ao rezarmos, na
intimidade com o Pai que nos lança na relação amorosa com a humanidade,
possamos nos encher de força, de vida, de profecia. Que a nossa oração não seja
nunca repetição mecânica de palavras, mas sim um ato de fé, de entrega
confiante e de disposição em sermos discípulas do Reino de Deus!”.
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