Uma reflexão sobre “a condição da finitude humana desvalida, rejeitada, afastada, mas por Jesus redimida, transformada que faz nascer a gratidão”, foi o ponto de partida da homilia do Cardeal Leonardo Steiner no Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum.
O Arcebispo de Manaus mostrou “a alegria da cura, uma vida-gratidão!”, a compaixão de Jesus diante do pedido dos leprosos, que “pedem para serem curados, mas também purificados, curados, no corpo e no espírito”. Diante da lepra, “Jesus, a compaixão e a misericórdia do Pai, acolhe, liberta do que corrompe e dilacera a integridade humana, abrindo espaço para quem foi descartado”.
A lepra era “o sinal mais expressivo da desintegração interior e religiosa do homem..., todo leproso era considerado como um excomungado por Deus, que devia ser excluído da comunidade”, segundo lembrou o cardeal, citando o Livro do Levítico. O arcebispo relatou como os leprosos eram “separados, segregados, descartados; fora da cidade, fora da sociedade, distantes de todos. Um muro de isolamento os separava de tudo e de todos”, mostrando que eles “eram vistos como pessoas degradadas, religiosamente castigadas”.
O Arcebispo de Manaus também disse como “nos toca profundamente estes homens feridos em sua humanidade, em sua integridade, na sua dignidade, na sua religiosidade”. O purpurado os vê como “ícones da fragilidade humana que da fraqueza, da miséria, do descarte fazem o caminho da purificação, da salvação”, como “pessoas que com coragem carregam, cuidam, amam, assumem a lepra de sua miséria e, acima de tudo, tem a humildade e a coragem de, quebrando todos os grilhões, depositá-las diante de alguém que pode libertá-los. Não só carregam a dor, mas creem que Jesus há de conceder a liberdade e a purificação”.
Um Jesus que, segundo o cardeal, “se enternece como a mãe diante da vulnerabilidade de seu filho, de sua filha. Tomado, pego pela afeição das entranhas os envia pelo caminho da transformação. Tomado por tal afeição, diz: ‘Ide apresentar-vos aos sacerdotes’. Jesus é, ‘com-paixão’: a mais pura boa vontade, pura receptividade e puro acolhimento do outro e, ao mesmo tempo, a pura doação de si ao desvalido, segregado”.
Dom Leonardo convidou a “entrar na
dinâmica de Jesus: pôr-se a caminho, sair!”. Segundo
ele, “na
receptividade amorosa, no toque do sopro do Espírito, na vontade da doação
gratuita, um leproso se apercebe livre do corpo chagado e do descarte em que
vivia”.
Cada um dos leprosos, “na purificação de toda a sua pessoa sente-se reintegrado a seu Povo, à Comunidade dos eleitos. Mergulhado na compaixão e misericórdia do Filho de Deus volta a sentir-se eleito. Já não está só, já não necessita do grito impuro, agora pode oferecer o sacrifício do testemunho de sua purificação; pode voltar a oferecer e rezar com os outros”, afirmou o Arcebispo de Manaus. Ele chamou a descobrir “a sensibilidade necessária para darmo-nos conta do prazer, da alegria, do júbilo, da gratidão de quem sente-se acolhido por Deus e reintegrado na vida social e familiar”.
Refletindo sobre a atitude daquele que volta para agradecer, Dom Leonardo destacou que “integrado, devolvido, libertado, agradece! A sua vida a partir daquele momento será uma vida de gratidão”. Mas também destaca que é “um samaritano, um estrangeiro, marginalizado do povo eleito”, e junto com isso que “a gratidão fez-se estrela guia”. Citando o Papa Francisco, o cardeal vê que “esta narração, por assim dizer, divide o mundo em dois: os que não agradecem e os que o fazem; os que tomam tudo como se lhes fosse devido, e os que aceitam tudo como dom, como graça”.
“O samaritano nos desperta para a beleza e a profundidade da gratidão”, segundo o Arcebispo de Manaus, afirmando que “uma fé gratuita de viver da compaixão de Deus, nos leva a viver na gratidão. Cultivar a alegria e não deixar de agradecer”. Por isso, segundo ele, “se formos portadores de gratidão, o mundo também se tornará melhor, talvez só um pouco, mas o suficiente para transmitir esperança. Estamos necessitados de esperança!”. Uma necessidade diante da “agressão, notícias falsas, especialmente nesse tempo de eleições”.
Dom Leonardo insistiu em que “nos faz falta o espírito da verdade, um espírito livre, solidário, acolhedor e não agressor, para realizar as nossas opções, escolhas. Escolhas baseadas na verdade, não em notícias de WhatsApp. Verdade que preza a convivência, o respeito, o dom da vida”, que o leva a ver o viver como graça recebida.
Finalmente
pediu: “Espírito
Santo, espírito da esperança, faça nascer em nós e entre nós a gratidão! Livra-nos
da violência e da destruição, da mentira e divisão. Dai-nos a graça de
perceber que tudo está unido e interligado! Concede-nos viver o Evangelho da
liberdade, da esperança, da filiação divina, da irmandade. Cuidemos e cultivemos
em nós o Espírito que nos leva à gratidão, à salvação. Amém”.
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