sexta-feira, 21 de abril de 2023

Percurso brasileiro no Sínodo 2021-2024: Processo cíclico entre o Povo de Deus, as Igrejas locais e a Igreja Universal


Um elemento que marca, ou deveria marcar, a vida da Igreja em todos os níveis é o Sínodo 2021-2024, que recentemente encerrou a Etapa Continental. Dentro dos trabalhos da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que está acontecendo em Aparecida (SP) de 19 a 28 de abril de 2023, foi apresentado o percurso brasileiro no atual Sínodo, conduzido pela Equipe Nacional de Animação do Sínodo, uma equipe sinodal, com três bispos, cinco padres diocesanos, dois religiosos, duas religiosas e duas leigas.

Essa equipe, em nome da qual Mariana Venâncio apresentou o caminho percorrido, tem desenvolvido um trabalho de dinamização e assessorias para a realização da etapa diocesana, elaborando posteriormente a Síntese Nacional, feita a partir das sínteses diocesanas, que foi entregue em 15 de agosto de 2022 à Secretaria Geral do Sínodo. Posteriormente, foi essa equipe que organizou a participação brasileira na Etapa Continental, incluindo uma nova escuta e nova síntese.

Como foi lembrado, o Sínodo 2021-2024 foi iniciado com a Fase diocesana, realizada entre outubro de 2021 e agosto de 2022, dando passo à Etapa Continental, que foi encerrada em 31 de março. Com o resultado das assembleias continentais será elaborado o Instrumento de Trabalho para a primeira sessão da Assembleia Sinodal a ser realizada de 4 a 29 de outubro de 2023, que está sendo produzido e deve ficar pronto no final do mês de maio. Os bispos representantes da CNBB serão eleitos nesta 60ª Assembleia Geral. Um processo que em outubro de 2024 terá sua segunda sessão da Assembleia Sinodal. 



No Brasil foram 261 as dioceses que enviaram suas sínteses, o que representa um 93% do total, que foram a base para a elaboração da Síntese Nacional, junto com outros aportes. Todo o processo sinodal, ele é cíclico, segundo foi indicado, superando assim os processos lineares, se falando de um processo de restituição que leva a um diálogo entre o Povo de Deus, as Igrejas locais e a Igreja Universal, como foi enfatizado.

A Etapa Continental na América Latina e Caribe se concretizou em 4 assembleias, participando o Brasil da Assembleia do Cone Sul, realizada em Brasília de 6 a 10 de março. Essas assembleias foram dinamizadas pela equipe escolhida pelo Celam, que produziu entre 17 e 20 de março a Síntese Continental, que expressou o discernimento realizado nas 4 assembleias, um texto que foi lido de 21 a 23 de março pelos secretários gerais e presidentes das Conferências Episcopais, enviado à Secretaria do Sínodo, e que está disponível no site do Celam.

O processo cíclico vai marcar todas as fases do Sínodo como aconteceu na consulta diocesana para a Etapa Continental em torno a três questões: experiências novas ou iluminadoras, tensões ou divergências substanciais e prioridades, temas recorrentes ou apelos à ação, um trabalho respondido por 183 dioceses brasileiras, um número menor pela rapidez com que foi realizado e a época em que aconteceu, em tempo de férias.

Os delegados brasileiros levaram para a Etapa Continental do Sínodo dez prioridades: espiritualidade eclesial centrada na pessoa de Jesus; alargar a tenda; laicato, com especial atenção às mulheres e juventudes; formação para sinodalidade; estruturas de comunhão e participação; diálogo com a sociedade, ecumenismo e diálogo inter-religioso; Igreja missionária a serviço da caridade; comunicação e mundo digital; superação da ideologização da fé; conversão pastoral e evangelização.



Da Assembleia Continental foi destacado a metodologia da Conversa Espiritual. Os participantes foram divididos em comunidades de discernimento, que se reuniam todos os dias para meditar e responder ao documento preparatório desde três passos: escuta ativa, escuta receptiva, partilhar o que nos toca mais profundamente. Uma metodologia para que os grupos não se tornassem espaço de discussão e sim de discernimento para chegar a um consenso comunitário. O número de participantes total foi de 407, o maior número na assembleia do Cone Sul (177), onde o Brasil participou com 80 participantes, representando as vocaciones eclesiais.

A maior novidade do processo é o texto da Síntese Continental, com oito eixos temáticos, que resumem o discernido nas assembleias, e quatro questões centrais, onde aparecem propostas para a sessão sinodal de 2023.

As questões centrais, apresentadas como proposta do Continente para a Assembleia Sinodal, são: Necessário e constante processo de conversão eclesial, com vistas a uma Igreja missionária sinodal, que diz respeito às relações entre eclesialidade, sinodalidade, ministerialidade e colegialidade e encontra fundamento na eclesiologia do Concílio Vaticano II, a partir da noção de Povo de Deus; primazia de uma espiritualidade de comunhão sinodal, cuja centralidade seja a fidelidade a Jesus Cristo e a missão evangelizadora aos povos; “Considerar o admirável intercâmbio entre o magistério do Povo de Deus, pastores e teólogos”,(n. 101); “Redefinir as implicações mútuas entre o particular e o universal, o valor da experiência eclesial nas periferias e seu impacto no conjunto, o equilíbrio certo e tenso entre prioridades locais, nacionais, regionais e globais, e o desafio de estar aberto à harmonia, trabalho do Espírito” (n. 106).

De cara ao caminho futuro foi falado sobre a continuidade do processo nas dioceses, o Instrumento de Trabalho para a Fase Universal e a escolha dos bispos que representarão o Brasil na Assembleia Sinodal. Junto com isso, foi destacado a necessidade de uma formação para a sinodalidade, não se trata de um evento e sim de um modo de ser Igreja, de uma espiritualidade sinodal, e assumir o grande achado da Etapa Continental, a metodologia da Conversa Espiritual, que é capaz de desamar os espíritos e favorece a comunhão.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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