quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Cúpula da Amazônia: “Um início de sinodalidade na política, na sociedade”


Belém acolheu nos dias 8 e 9 de agosto a Cúpula da Amazônia, com a participação de mandatários dos diferentes países, um evento em que a Igreja se fez presente, sobretudo nos dias prévios em que “a presença da Igreja foi estar ali ao lado dos povos e dos movimentos sociais articulando, animando, fortalecendo e encorajando um diálogo amazônico entre a sociedade e os governos que compõem a Pan-Amazônia”, segundo Dorismeiri Almeida Vasconcelos, da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM).

A Cúpula foi uma oportunidade para que o cardeal Leonardo Steiner afirmasse que “nós cuidamos da Amazônia, a Amazônia com seus povos, suas culturas, suas águas, suas árvores, suas flores, as suas florestas, uma casa comum, onde todos somos convidados a morar, mas somos todos convidados a cuidar”. O arcebispo de Manaus denunciou os ataques contra a Amazônia, “tão vilipendiada, tão destruída”, e junto com isso a ganância em relação à Amazônia e a violência na Amazônia, “a violência que chega até a Amazônia”.

Dom Leonardo Steiner insistiu em que “a Amazônia não é violenta, seu povo é calmo, seu povo é tranquilo, as nossas comunidades, elas são fraternas, são receptivas”. Diante disso, ele fez um chamado a “repensarmos os modelos que desejamos impor à Amazônia, essa verdadeira exploração da Amazônia”. Parafraseando uma expressão do Papa Francisco em relação à África, o cardeal disse: “tirem as mãos da Amazônia”. Ele afirmou que “a Amazônia, ela não precisa de estruturas novas, a Amazônia precisa de respeito, a Amazônia precisa de justiça, a Amazônia precisa da presença do Estado para que diminua a violência, para que diminua a destruição das nossas matas, para que diminua a poluição das nossas águas, especialmente pelo mercúrio e pelos dejetos das nossas cidades. Que deixem os nossos peixes, deixem as nossas águas, mas especialmente deixem as nossas culturas”.

Recordando que “nenhuma região do Brasil tem tantos povos originários como nós da Amazônia”, o arcebispo de Manaus insistiu em que “eles apenas pedem de nós respeito, pedem de nós cuidado, que nós assumamos a responsabilidade pela Amazônia”, lembrando a dependência de outras regiões do Brasil em relação à Amazônia, o que o levou a questionar o desmatamento, afirmando que “nós estamos acabando de nos destruir a nós mesmos”.



O vivido na Cúpula da Amazônia é visto por Dorismeire Vasconcellos como um processo, iniciado discutindo com a sociedade civil há três anos, fundamentado “nos saberes ancestrais dos povos e no modo de economia e de sociedade do bem viver que os povos vivem na Amazônia”. Ela destaca “o debate com a sociedade civil, discutindo temas apropriados que referem-se ao tratado de cooperação da Amazônia”, elaborado com diferentes aportes de diversas instituições, dentre elas a REPAM.

Esses aportes foram encaminhados aos mandatários junto com uma carta solicitando a participação da sociedade dentro desses diálogos que tratam da cooperação amazônica entre os países da Pan-Amazônia, o que foi bem acolhido pelos governos da Colômbia e do Brasil, segundo a representante da REPAM. Um documento com 50 propostas sobre oito temas importantes: deflorestação, direitos dos povos e territórios, mulheres, infraestrutura, uso do hidro carbono, educação, transparência nos financiamentos, águas, mineração, resultado de um Seminário que trabalhou o desenvolvimento sustentável na Amazônia.

Nos dias prévios à Cúpula, aconteceram os Diálogos Amazônicos, cinco plenárias com os temas mais debatidos pela sociedade, e plenárias transversais, que envolviam juventudes, mulheres e a Amazônia Negra, sendo recolhidos os debates de cada plenário em relatórios entregues aos mandatários.

Junto com isso, a sociedade civil organizou a Assembleia dos Povos da Terra que elaborou uma declaração dos povos da terra pela Amazônia, entregue aos mandatários, temas recolhidos na declaração dos mandatários, mesmo sem um prazo para ser aplicado em cada um dos países em relação ao que é mais emergencial, sobretudo em relação a mitigar as consequências da mudança climática ou para adaptar a situação de atendimento aos povos de acordo com as consequências da mudança climática.



Dorismeire Vasconcellos insiste em que estamos diante de “um processo que se inicia e que mostra que é possível discutir os mandatários a questão da Amazônia, a questão da cooperação nos temas abordados. É possível na política internacional de acordos e tratados, a participação social”. A representante da REPAM vê uma similitude entre o que foi vivenciado em torno à Cúpula e o atual processo sinodal de escuta, diálogo e discernimento. Ela considera que “esse caminho é o começo ainda diante da conjuntura política, social, económica, dos países da Pan-Amazônia, mas já é um início de sinodalidade na política, na sociedade”.

A representante da REPAM insistiu em que “esse processo que fizemos como sociedade civil, como povos da Amazônia tem uma meta, a incidência dos povos da Amazônia. Não dá para discutir a Amazônia, na Amazônia, pensando no futuro da Amazônia sem escutar e sem envolver os povos nesta discussão”.

Um grande convite e um apelo que também faz o cardeal Steiner: “respeitemos a Amazônia e os amazônidas, respeitemos as culturas, respeitemos os povos que aqui habitam”. Para isso ele pede a ajuda de Deus, “e que possamos todos juntos cuidar da Amazônia, preservar a Amazônia para termos uma realidade justa, equânime e fraterna. E assim a nossa região da Amazônia possa ajudar a cuidar de todo o Planeta”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Um comentário:

  1. Foi bom ouvir uma pessoa da Repam que participou da Cúpula, enforcando já a questão da sinodalidade na política.Esse é um caminho para salvar a Amazônia e os seus povos

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