Belém acolheu nos dias 8 e 9 de agosto a Cúpula da Amazônia, com a participação de mandatários dos diferentes países, um evento em que a Igreja se fez presente, sobretudo nos dias prévios em que “a presença da Igreja foi estar ali ao lado dos povos e dos movimentos sociais articulando, animando, fortalecendo e encorajando um diálogo amazônico entre a sociedade e os governos que compõem a Pan-Amazônia”, segundo Dorismeiri Almeida Vasconcelos, da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM).
A Cúpula
foi uma oportunidade para que o cardeal Leonardo Steiner afirmasse que “nós
cuidamos da Amazônia, a Amazônia com seus povos, suas culturas, suas águas,
suas árvores, suas flores, as suas florestas, uma casa comum, onde todos somos
convidados a morar, mas somos todos convidados a cuidar”. O arcebispo de Manaus
denunciou os ataques contra a Amazônia, “tão vilipendiada, tão destruída”, e
junto com isso a ganância em relação à Amazônia e a violência na Amazônia, “a
violência que chega até a Amazônia”.
Dom
Leonardo Steiner insistiu em que “a Amazônia não é violenta, seu povo é calmo,
seu povo é tranquilo, as nossas comunidades, elas são fraternas, são receptivas”.
Diante disso, ele fez um chamado a “repensarmos os modelos que desejamos impor
à Amazônia, essa verdadeira exploração da Amazônia”. Parafraseando uma expressão
do Papa Francisco em relação à África, o cardeal disse: “tirem as mãos da
Amazônia”. Ele afirmou que “a Amazônia, ela não precisa de estruturas novas, a
Amazônia precisa de respeito, a Amazônia precisa de justiça, a Amazônia precisa
da presença do Estado para que diminua a violência, para que diminua a destruição
das nossas matas, para que diminua a poluição das nossas águas, especialmente
pelo mercúrio e pelos dejetos das nossas cidades. Que deixem os nossos peixes,
deixem as nossas águas, mas especialmente deixem as nossas culturas”.
Recordando que
“nenhuma região do Brasil tem tantos povos originários como nós da Amazônia”, o
arcebispo de Manaus insistiu em que “eles apenas pedem de nós respeito, pedem
de nós cuidado, que nós assumamos a responsabilidade pela Amazônia”, lembrando
a dependência de outras regiões do Brasil em relação à Amazônia, o que o levou
a questionar o desmatamento, afirmando que “nós estamos acabando de nos
destruir a nós mesmos”.
O vivido na
Cúpula da Amazônia é visto por Dorismeire Vasconcellos como um processo,
iniciado discutindo com a sociedade civil há três anos, fundamentado “nos
saberes ancestrais dos povos e no modo de economia e de sociedade do bem viver
que os povos vivem na Amazônia”. Ela destaca “o debate com a sociedade civil, discutindo
temas apropriados que referem-se ao tratado de cooperação da Amazônia”,
elaborado com diferentes aportes de diversas instituições, dentre elas a REPAM.
Esses
aportes foram encaminhados aos mandatários junto com uma carta solicitando a
participação da sociedade dentro desses diálogos que tratam da cooperação
amazônica entre os países da Pan-Amazônia, o que foi bem acolhido pelos
governos da Colômbia e do Brasil, segundo a representante da REPAM. Um
documento com 50 propostas sobre oito temas importantes: deflorestação,
direitos dos povos e territórios, mulheres, infraestrutura, uso do hidro
carbono, educação, transparência nos financiamentos, águas, mineração,
resultado de um Seminário que trabalhou o desenvolvimento sustentável na Amazônia.
Nos dias
prévios à Cúpula, aconteceram os Diálogos Amazônicos, cinco plenárias com os
temas mais debatidos pela sociedade, e plenárias transversais, que envolviam
juventudes, mulheres e a Amazônia Negra, sendo recolhidos os debates de cada
plenário em relatórios entregues aos mandatários.
Junto com
isso, a sociedade civil organizou a Assembleia dos Povos da Terra que elaborou uma
declaração dos povos da terra pela Amazônia, entregue aos mandatários, temas
recolhidos na declaração dos mandatários, mesmo sem um prazo para ser aplicado
em cada um dos países em relação ao que é mais emergencial, sobretudo em relação
a mitigar as consequências da mudança climática ou para adaptar a situação de
atendimento aos povos de acordo com as consequências da mudança climática.
Dorismeire
Vasconcellos insiste em que estamos diante de “um processo que se inicia e que
mostra que é possível discutir os mandatários a questão da Amazônia, a questão
da cooperação nos temas abordados. É possível na política internacional de acordos
e tratados, a participação social”. A representante da REPAM vê uma similitude
entre o que foi vivenciado em torno à Cúpula e o atual processo sinodal de
escuta, diálogo e discernimento. Ela considera que “esse caminho é o começo ainda
diante da conjuntura política, social, económica, dos países da Pan-Amazônia,
mas já é um início de sinodalidade na política, na sociedade”.
A
representante da REPAM insistiu em que “esse processo que fizemos como
sociedade civil, como povos da Amazônia tem uma meta, a incidência dos povos da
Amazônia. Não dá para discutir a Amazônia, na Amazônia, pensando no futuro da
Amazônia sem escutar e sem envolver os povos nesta discussão”.
Foi bom ouvir uma pessoa da Repam que participou da Cúpula, enforcando já a questão da sinodalidade na política.Esse é um caminho para salvar a Amazônia e os seus povos
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