Dom Dirceu de Oliveira Medeiros é um dos bispos que representam a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil na Assembleia Sinodal a ser realizada em outubro, algo que ele vive com alegria e responsabilidade. A Igreja do Brasil tem vivido o processo sinodal com participação e entusiasmo, uma Igreja que já vive em certo modo a sinodalidade.
Segundo o
bispo da diocese de Camaçari, aqueles que são contra o Sínodo, eles têm que “confiar
na ação do espírito Santo”, que é “o protagonista do caminho sinodal”. Também se
informar bem e descobrir o Sínodo como “caminho de responsabilidade, de
partilha, onde a totalidade do Povo de Deus, pastores e o povo fiel se reúnem
para perceber então o que a Igreja precisa fazer para se tornar mais fiel a
Jesus Cristo, ao seu Evangelho, a construção do Reino de Deus que Ele pede de
nós em nossos dias”.
O bispo
insistiu na importância das decisões sejam tomadas de modo sinodal. Ele vê o
fato de ser bispo numa Igreja sinodal como uma aventura, mas insiste em que ele
não vê outro caminho. Para isso Dom Dirceu faz um chamado à conversão, a uma mudança
de estruturas, de mentalidade.
Estamos
próximos da Assembleia Sinodal e o senhor é um dos representantes da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para participar nessa assembleia. O
que representa para o senhor poder participar de um sínodo da Igreja universal?
Primeiramente,
uma alegria de poder servir à Igreja, de ser de certo modo porta-voz do
episcopado, de todo o Povo de Deus e da Igreja que está no Brasil, e também uma
grande responsabilidade. Por isso a importância desse encontro que nós estamos
tendo aqui no sentido de compartilharmos as experiências e sairmos daqui também
com uma visão comum, com um conhecimento mútuo já consolidado.
O senhor
foi secretário de pastoral da CNBB, conhece a vida pastoral das dioceses, como
essa sinodalidade é vivida na Igreja do Brasil?
Eu
participei da Equipe de Animação Nacional como padre, no Brasil tivemos uma
resposta bastante positiva, quase que a totalidade das dioceses realizaram a
escuta da fase diocesana e isso nos alegrou muito. Participei também da
confecção da síntese nacional e o que a gente percebe é que muitos
apontamentos, muitas intuições que aparecem aqui, de certa forma na Igreja do
Brasil já tem um caminho percorrido.
As nossas
assembleias diocesanas, quando fazemos nossos planos de pastoral, que são
feitos também por meio de consultas das comunidades, das forças vivas das
igrejas particulares, também o fortalecimento dos nossos conselhos, seja em
nível pastoral ou em nível económico, e também outros. Isso tudo precisa ser
aperfeiçoado, consolidado, mas podemos dizer que na Igreja no Brasil já temos
um caminho percorrido. Tem muito a fazer, mas é preciso celebrar o que já foi
feito.
O senhor
fala de sinais e apontamentos de sinodalidade na Igreja do Brasil, mas também
não podemos negar que existem medos à sinodalidade. O que diria para aqueles
que tem medo da sinodalidade?
O primeiro
ponto é confiar na ação do espírito Santo, porque diz o Instrumentum Laboris
que o Sínodo deveria ser celebrado, tendo como uma fonte a Liturgia, porque o
Espírito é o protagonista do caminho sinodal. Se nós temos fé, não há o que
temer, é confiar na ação do Espírito que governa e inspira a Igreja, vai
abrindo caminhos novos, abrindo estradas para a Igreja universal.
O segundo
ponto é você se informar bem, porque há muita desinformação e muita gente que
ao serviço de Fake News, ou então de desinformação, vai abordando o Sínodo numa
chave meramente parlamentar, ou simplesmente reivindicatória de pautas. É
importante a gente entender como caminho de responsabilidade, de partilha, onde
a totalidade do Povo de Deus, pastores e o povo fiel se reúnem para perceber
então o que a Igreja precisa fazer para se tornar mais fiel a Jesus Cristo, ao
seu Evangelho, a construção do Reino de Deus que Ele pede de nós em nossos
dias.
Sabemos que
o Sínodo é Sínodo dos bispos, mas o senhor fala de reunião de pastores e do
povo fiel. O que essa presença de não bispos, cada vez mais numerosa no Sínodo,
pode aportar aos bispos no discernimento sinodal?
Aqui é
importante firmar, o Instrumentum Laboris deixa muito claro isso, que não se
trata de um esvaziamento da autoridade, a autoridade á algo sadio. O cardeal
Grech disse recentemente em um curso que eu participei, que o bispo tem a
última palavra, mas não deve ter a única palavra. Essa frase é bem emblemática
para entendermos esse casamento que deve haver, essa conjugação entre o princípio
da autoridade, que é importante, que é um serviço, serviço da autoridade, que
não é autoritarismo, e por outro lado também os conselhos, sejam consultivos ou
deliberativos, que podem nos ajudar, nos auxiliar na tomada de decisões.
A gente sabe como é importante partilhar com o
Povo de Deus, com aqueles que compõem a Igreja de Cristo, para que nossas
decisões sejam pensadas, pesadas e sejam tomadas de modo sinodal. Parece um
desafio, e é um desafio, mas é outro caminho para o serviço no mundo atual,
sobretudo devido à complexidade que nós vivemos nos dias atuais.
O senhor
tem pouco tempo como bispos, poderíamos dizer que é um bispo do tempo da
sinodalidade. É difícil ser bispo em uma Igreja sinodal?
É uma aventura ser bispo em uma Igreja sinodal, mas eu não vejo outro
caminho. Se nós
buscamos respostas velhas para situações novas, certamente nós vamos errar e
vamos também nos equivocar e tomar então caminhos que não nos levarão a uma
fidelidade a Jesus Cristo.
É preciso
que haja uma conversão, uma conversão, uma mudança de estruturas, de
mentalidade, uma conversão pessoal e pastoral para que nós entendamos que a
Igreja é essa comunhão que radia, que favorece a participação de todos em vista
da missão. Porque a Igreja existe para evangelizar e a missão é a pedra de
toque, e o fundamento principal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário