quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Dom Dirceu de Oliveira Medeiros: “É uma aventura ser bispo em uma Igreja sinodal, mas eu não vejo outro caminho”


Dom Dirceu de Oliveira Medeiros é um dos bispos que representam a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil na Assembleia Sinodal a ser realizada em outubro, algo que ele vive com alegria e responsabilidade. A Igreja do Brasil tem vivido o processo sinodal com participação e entusiasmo, uma Igreja que já vive em certo modo a sinodalidade.

Segundo o bispo da diocese de Camaçari, aqueles que são contra o Sínodo, eles têm que “confiar na ação do espírito Santo”, que é “o protagonista do caminho sinodal”. Também se informar bem e descobrir o Sínodo como “caminho de responsabilidade, de partilha, onde a totalidade do Povo de Deus, pastores e o povo fiel se reúnem para perceber então o que a Igreja precisa fazer para se tornar mais fiel a Jesus Cristo, ao seu Evangelho, a construção do Reino de Deus que Ele pede de nós em nossos dias”.

O bispo insistiu na importância das decisões sejam tomadas de modo sinodal. Ele vê o fato de ser bispo numa Igreja sinodal como uma aventura, mas insiste em que ele não vê outro caminho. Para isso Dom Dirceu faz um chamado à conversão, a uma mudança de estruturas, de mentalidade.

Estamos próximos da Assembleia Sinodal e o senhor é um dos representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para participar nessa assembleia. O que representa para o senhor poder participar de um sínodo da Igreja universal?

Primeiramente, uma alegria de poder servir à Igreja, de ser de certo modo porta-voz do episcopado, de todo o Povo de Deus e da Igreja que está no Brasil, e também uma grande responsabilidade. Por isso a importância desse encontro que nós estamos tendo aqui no sentido de compartilharmos as experiências e sairmos daqui também com uma visão comum, com um conhecimento mútuo já consolidado.



O senhor foi secretário de pastoral da CNBB, conhece a vida pastoral das dioceses, como essa sinodalidade é vivida na Igreja do Brasil?

Eu participei da Equipe de Animação Nacional como padre, no Brasil tivemos uma resposta bastante positiva, quase que a totalidade das dioceses realizaram a escuta da fase diocesana e isso nos alegrou muito. Participei também da confecção da síntese nacional e o que a gente percebe é que muitos apontamentos, muitas intuições que aparecem aqui, de certa forma na Igreja do Brasil já tem um caminho percorrido.

As nossas assembleias diocesanas, quando fazemos nossos planos de pastoral, que são feitos também por meio de consultas das comunidades, das forças vivas das igrejas particulares, também o fortalecimento dos nossos conselhos, seja em nível pastoral ou em nível económico, e também outros. Isso tudo precisa ser aperfeiçoado, consolidado, mas podemos dizer que na Igreja no Brasil já temos um caminho percorrido. Tem muito a fazer, mas é preciso celebrar o que já foi feito.

O senhor fala de sinais e apontamentos de sinodalidade na Igreja do Brasil, mas também não podemos negar que existem medos à sinodalidade. O que diria para aqueles que tem medo da sinodalidade?

O primeiro ponto é confiar na ação do espírito Santo, porque diz o Instrumentum Laboris que o Sínodo deveria ser celebrado, tendo como uma fonte a Liturgia, porque o Espírito é o protagonista do caminho sinodal. Se nós temos fé, não há o que temer, é confiar na ação do Espírito que governa e inspira a Igreja, vai abrindo caminhos novos, abrindo estradas para a Igreja universal.

O segundo ponto é você se informar bem, porque há muita desinformação e muita gente que ao serviço de Fake News, ou então de desinformação, vai abordando o Sínodo numa chave meramente parlamentar, ou simplesmente reivindicatória de pautas. É importante a gente entender como caminho de responsabilidade, de partilha, onde a totalidade do Povo de Deus, pastores e o povo fiel se reúnem para perceber então o que a Igreja precisa fazer para se tornar mais fiel a Jesus Cristo, ao seu Evangelho, a construção do Reino de Deus que Ele pede de nós em nossos dias.



Sabemos que o Sínodo é Sínodo dos bispos, mas o senhor fala de reunião de pastores e do povo fiel. O que essa presença de não bispos, cada vez mais numerosa no Sínodo, pode aportar aos bispos no discernimento sinodal?

Aqui é importante firmar, o Instrumentum Laboris deixa muito claro isso, que não se trata de um esvaziamento da autoridade, a autoridade á algo sadio. O cardeal Grech disse recentemente em um curso que eu participei, que o bispo tem a última palavra, mas não deve ter a única palavra. Essa frase é bem emblemática para entendermos esse casamento que deve haver, essa conjugação entre o princípio da autoridade, que é importante, que é um serviço, serviço da autoridade, que não é autoritarismo, e por outro lado também os conselhos, sejam consultivos ou deliberativos, que podem nos ajudar, nos auxiliar na tomada de decisões.

 A gente sabe como é importante partilhar com o Povo de Deus, com aqueles que compõem a Igreja de Cristo, para que nossas decisões sejam pensadas, pesadas e sejam tomadas de modo sinodal. Parece um desafio, e é um desafio, mas é outro caminho para o serviço no mundo atual, sobretudo devido à complexidade que nós vivemos nos dias atuais.

O senhor tem pouco tempo como bispos, poderíamos dizer que é um bispo do tempo da sinodalidade. É difícil ser bispo em uma Igreja sinodal?

É uma aventura ser bispo em uma Igreja sinodal, mas eu não vejo outro caminho. Se nós buscamos respostas velhas para situações novas, certamente nós vamos errar e vamos também nos equivocar e tomar então caminhos que não nos levarão a uma fidelidade a Jesus Cristo.

É preciso que haja uma conversão, uma conversão, uma mudança de estruturas, de mentalidade, uma conversão pessoal e pastoral para que nós entendamos que a Igreja é essa comunhão que radia, que favorece a participação de todos em vista da missão. Porque a Igreja existe para evangelizar e a missão é a pedra de toque, e o fundamento principal.

É importante que nós não busquemos atalhos, que não busquemos caminhos que não nos levarão a uma fidelidade ao Reino de Deus e a Jesus Cristo. Não há outro caminho a não ser esse, o Papa tem expressado isso, que o jeito da Igreja caminhar no segundo milénio será a sinodalidade, uma tradição que não é nova na Igreja. A gente bebe da grande tradição oriental, que vem trazer para nós essa tradição rica e trazer os leigos e leigas, trazer o Povo de Deus também para esse serviço de comunhão que é um grande enriquecimento para nós.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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