terça-feira, 19 de setembro de 2023

Dom Leonardo Steiner: “As assembleias acontecidas até agora demostram uma Igreja que busca viver e levar o Evangelho”


A Igreja do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil está vivenciando de 18 a 21 de setembro sua 50ª Assembleia Regional, recordando a profecia das igrejas particulares, sua história querendo assim alimentar a esperança, segundo afirmou o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 em entrevista coletiva com a imprensa local.

Uma caminhada onde as mulheres tiveram um papel em destaque, segundo a Ir. Rose Bertoldo, secretária executiva do Regional Norte1, que trouxe a memória da “presença fecunda das mulheres nas nossas comunidades, uma presença que marca o caminho e que faz processo”, mostrando sua gratidão por todas elas. A religiosa lembrou nomes concretos de mulheres que a precederam no serviço que ela desempenha hoje, que “contribuíram nesse processo de fazer caminhos e alargar a tenda da Igreja na Amazônia”.

Em representação dos povos originários, Deolinda Melchior da Silva, indígena do povo Macuxi, afirmou que os povos indígenas também estão celebrando 50 assembleias, querendo agradecer “a Deus porque os povos indígenas somos evangelizados, primeiramente com a Palavra de Deus, sobre nossos direitos como povos indígenas, a nossa terra, a nossa vida”. Ela lembrou a continuação da votação do Marco Temporal, pedindo a ajuda de Deus para proteger a terra onde eles sempre moraram.

Dom Edson Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira lembrou das imensas dificuldades enfrentadas pelos missionários chegados, na maioria da Europa, na região. O bispo recordou que “com o tempo, eles foram também se aperfeiçoando, se adaptando à região”, destacando a importância do Concílio Vaticano II e sua adaptação local no Encontro de Santarém em 1972, onde “se tomaram decisões proféticas, é a Palavra de Deus que deve se encarnar aqui na Amazônia, a atenção às comunidades eclesiais de base, a formação de agentes pastorais, homens e mulheres”. Ele também destacou a importância da fundação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), assim como a aprendizado com “o heroísmo desses missionários e missionárias que nos precederam”.



As assembleias acontecidas até agora demostram uma Igreja que busca viver e levar o Evangelho”, destacou Dom Leonardo. Isso “numa Igreja que desejou profundamente se encarnar, com todas as suas dificuldades e contradições, mas procurou se encarnar”, segundo o arcebispo de Manaus, que insistiu em destacar o papel de “uma Igreja que sempre levou em conta as dificuldades”, destacando os frutos do caminho e pedindo que “nossa Igreja que está na Amazônia possa ajudar a perceber a presença do Reino de Deus, Jesus Ressuscitado, Crucificado, vida plenificada porque transformada na morte”.

Entre os desafios atuais o arcebispo de Manaus falou da devastação da Amazônia, mas também afirmou como um dos grandes passos dados, “que crescemos no espírito missionário, nós temos hoje uma presença maior dos leigos na frente da catequese, à frente das comunidades, lideranças, uma presença maior de religiosos e religiosas, a presença maior de igrejas particulares, a presença maior de bispos”. O cardeal destacou que “aquele primeiro desafio de chegar e começar a falar de Deus, a falar do Evangelho, esse a gente pode dizer que está superado, mas estamos sempre iniciando, o Evangelho é uma eterna novidade”.

Sobre o acompanhamento à vulnerabilidade social, Dom Leonardo Steiner destacou a acompanhamento às pessoas que passam fome, o grandíssimo esforço das comunidades, de quem destacou sua solidariedade. Também mostrou a grande preocupação do Regional pelos abusos sexual a crianças e adolescentes, reconhecendo a dificuldade para ser superado, mas mostrando o grande esforço de acompanhamento por parte da Igreja católica. Outro desafio colocado em destaque pelo arcebispo de Manaus é a depredação da Amazônia, denunciando a situação dificílima que está acontecendo, citando como exemplo o garimpo, “uma questão que nos aflige e devemos tentar conscientizar as nossas comunidades e manter um diálogo com os governos”.



Uma degradação ambiental que definiu como ganância, sem pensar na Amazônia, nos povos originários, no futuro do Brasil, no conjunto da casa comum. Nesse sentido, ele insistiu que “se está pensando no meu, naquilo que eu posso usufruir”, e que sem o meio ambiente não sobreviveremos. Daí a importância do agir da Igreja, que está conscientizando as comunidades com a Laudato Si’, criando uma consciência bem maior, mesmo reconhecendo que ainda devem ser dados passos e criar uma consciência do cuidado.

Uma memória do passado que sempre é viva e atual, segundo dom Edson Damian, que definiu a profecia como o Evangelho vivo de Jesus, que quando encarnado na realidade, ele denuncia as injustiças, a exploração das pessoas, a marginalização, a fome e a miséria, que está tão presente aqui na Amazônia. Com relação à esperança, o bispo de São Gabriel da Cachoeira disse que “nós cristãos acreditamos que a esperança é que move a história”, chamando a descobrir, guiados pelo Espírito Santo, novos caminhos para nos colocar ao lado das pessoas marginalizadas, oprimidas, assumindo o grito dos povos indígenas e dizendo não ao Marco Temporal, que iria dizimar os povos indígenas e negar seu direito fundamental ao território.

O bispo de uma diocese onde grande parte da população é indígena disse ter assumido um princípio desde que chegou lá: “A Boa Nova das culturas indígenas acolhe a Boa Nova do Evangelho”, destacando os valores dos povos originários, culturais e humanos que o levam a dizer que o Espírito Santo chegou antes dos missionários. Por isso pediu valorizar os valores presentes nesses povos, como é a vida comunitária, fraterna, a partilha, o cuidado da Mãe Terra, da casa comum, considerando os povos indígenas como mestres no cuidado da casa comum, destacando tudo o que aprendeu com eles.

A líder indígena do povo Macuxi destacou a aprendizado com a Igreja do regional, afirmando que “Deus olha para nós povos indígenas, com nossas culturas, com nossos direitos a terra”. Uma presença da Igreja que a líder indígena insiste em que lhes ajuda muito, denunciando a morte dos povos indígenas, como está acontecendo com os yanomami.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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