Memória,
profecia, esperança, como elementos que marcam a caminhada do Regional Norte1
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1), que nesta segunda-feira
18 de setembro iniciava com uma celebração eucarística, presidida por dom Paulo
Jackson Nóbrega de Sousa, arcebispo de Olinda e Recife e segundo vice-presidente
da CNBB, sua 50ª Assembleia.
Uma
caminhada que começou em 1966 e teve sua primeira assembleia em 1967, pouco depois
da clausura do Concílio Vaticano II, um período importante na vida da Igreja,
segundo lembrou na homilia dom Luiz Soares Vieira, arcebispo emérito de Manaus,
que começou suas palavras afirmando a necessidade de que seja uma assembleia
marcada pelo agradecimento, insistindo no desejo de Deus de que todos sejam
salvos.
Em relação
ao Concilio Vaticano II, o arcebispo emérito de Manaus destacou sua importância
numa época em que a Igreja vivia uma concepção de sociedade perfeita, marcada pela
imagem de uma pirâmide, pela hierarquia, e a submissão dos fiéis à hierarquia.
Ele destacou a eclesiologia nova que trouxe o Concílio, semeando a semente de
uma Igreja povo de Deus, e junto com isso que “a Igreja toda tem a assistência
do Espírito Santo em matéria de fé e de moral”, antes concentrada no Papa e no
bispo. Um Concílio que “resgatou para nós aquilo que a Igreja viveu no começo”,
tendo como fundamento a Palavra de Deus; a união, solidariedade, bem querer e
responsabilidade; a fração do pão, a Eucaristia; a oração em comum.
Dom Luiz
Soares Vieira fez um chamado a ser uma Igreja na base, uma Igreja comunhão, nos
querer bem, dar espaço, uma Igreja de serviços, uma Igreja que é missionária,
uma marca da Igreja da Amazônia, segundo o arcebispo emérito. Ele destacou a importância
do nascimento das conferências episcopais, ressaltando que os bispos têm que
ser servidores, uma atitude que deve estar presente em todos aqueles que fazem
parte da Igreja.
Uma
caminhada do Regional que foi bonita, segundo Dom Luiz Soares Vieira, que
destacou a importância do encontro de Santarém em 1972 e outros encontros
realizados ao longo dos anos. Analisando o momento atual, marcado pela tecnologia,
disse que a história está sendo esquecida e com isso o futuro perde o sentido
de esperança, um mundo que caminha sem saber para onde. Igualmente, ele insistiu
em que agora é momento de profecia, um elemento que viu presente no Sínodo da
Amazônia diante das barreiras, inclusive políticas, que encontrou.
O arcebispo
emérito definiu o tempo atual como momento de evangelização, afirmando que a
salvação não é somente salvação das almas e sim salvar a pessoa toda e todas as
pessoas. Dom Luiz destacou a necessidade de uma Igreja unida, solidária, servidora
e missionária, que transforme realmente as pessoas. Junto com isso, ele fez ver
que a oração para ser cristã tem que ter consequência na nossa vida e na vida
da sociedade, da comunidade. Falando sobre a esperança, o arcebispo emérito fez
um chamado a ser homens e mulheres de esperança, a ser uma Igreja de esperança,
consciente de que o Reino de Deus vai vencer e que o poder de Jesus é algo que
não passa.
Dom Paulo
Jackson Nóbrega de Sousa, no final da celebração saudou os bispos irmãos e a
todos os outros agentes de pastoral, que atuam neste regional, afirmando se
fazer presente representando a Presidência da CNBB e o próprio Conselho
Permanente, para participar das alegrias da celebração da 50ª Assembleia
Regional. Ele destacou a importância de uma intuição presente no início da
caminhada do Regional que considera válida e atual: “Trabalhar juntos para não
cair no isolamento”.
Na
caminhada do Regional ressaltou a colegialidade e que “respiramos sinodalidade
e eclesialidade, para além da mera comunhão episcopal”, analisando os passos
dados: o sonho do desenvolvimento sustentável, um projeto permanente de missão,
o caminho da profecia e do martírio, e os desafios da vivência da fé em
realidades tão diversas: cidades, povos originários, ribeirinhos e caboclos.
Dos passos dados, o segundo vice-presidente da CNBB enumerou o Instituto de Teologia; a força inspiradora do Encontro de Santarém e suas linhas programáticas; a vinculação com a caminhada da CNBB Nacional; a sintonia com os documentos do episcopado latino-americano e caribenho; a profunda comunhão com o Santo Padre; a preocupação permanente com a missão e com a opção preferencial pelos pobres; a permanente vinculação entre evangelização e projetos de desenvolvimento da Região Norte. Ele considerou algumas lacunas: maior trabalho vocacional e cultivo e formação de cleros autóctones; demasiada dependência dos missionários estrangeiros e dos religiosos e de seus projetos de financiamento; a fragilidade da reflexão sobre o neopentecostalismo.
Finalmente,
o arcebispo de Olinda e Recife disse desejar, em nome da presidência da CNBB, a
todos os irmãos e irmãs das nove Igrejas que compõem esse Regional, “muita luz,
discernimento e perseverança. Sua presença e comunhão é também muito importante
para toda a Igreja no Brasil. Asseguro a todos vocês minhas orações e amizade”.
O cardeal
Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da CNBB
disse ficar “sempre admirado da perspicácia dos bispos e das comunidades”,
insistindo em sua admiração “quando leio, quando escuto esse modo de uma Igreja
que procura ser presente e não tem pernas suficientes. Não porque não se esforça,
mas porque existem as dificuldades de território, existem dificuldades de
pessoas”. O cardeal enfatizou “o esforço que se fez e se faz na formação dos
leigos, é algo admirável”, ressaltando que “isso tudo sempre de novo refletido,
discutido nas assembleias, com a participação de todos. Isso tem nos ajudado a
perceber que nós estamos todos realmente interligados também na missão”, algo
que ele vê como tão bonito e significativo.
O
presidente do Regional agradeceu a presença de cada um, de cada uma, fazendo um
agradecimento especial aos bispos eméritos presentes: dom Gutemberg Regis Freire,
bispo emérito de Coari; dom Giuliano Friggeni, bispo emérito de Parintins; e
dom Luiz Soares Vieira, arcebispo emérito de Manaus.
Uma
assembleia que se prolongará até quinta-feira 21 de setembro e que contará com
a presença de mais de 80 representantes das nove igrejas locais que fazem parte
do Regional Norte1 da CNBB, das pastorais, organismos e movimentos. Bispos,
padres, Vida Religiosa, laicato, povos indígenas, juventude, buscando caminhar
juntos, em sinodalidade, e assim ser a Igreja que se faz carne, alarga sua
tenda na Amazônia.
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