segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Cardeal Steiner: “A Criança de Belém, nos possibilitou a conhecer a Deus”


Somos felizes, iluminados: Deus nasceu! Celebramos o nascer de Deus! Entre nós está Aquele é como nós, Não-outro de nós”, afirmou o Cardeal Leonardo Steiner na homilia do dia de Natal. Segundo o Arcebispo de Manaus, “a liturgia da vigília nos deixava cantar: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados’ (Lc 2,14).  Fomos amados, fomos desejados, e, por isso, o Pai nos enviou o próprio Filho, para que nele nos tornássemos todos filhas e filhos”.


Se referindo ao Evangelho do dia, ele disse que “ilumina nossa celebração quando nos alerta: ‘A Deus, ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus, que está na intimidade do Pai, ele no-lo de a conhecer’ (Jo 1,18)’, afirmando que “a Criança de Belém, nos possibilitou a conhecer a Deus”.

Inspirado no texto de Hebreus, o cardeal disse que “Deus insistente e apaixonado busca a nossa humanidade. Buscou pela manifestação dos anjos, pela vida dos patriarcas, na voz dos profetas. Mas, não resistindo ao desejo de falar ao coração do Homem, falou-nos pelo Filho. Deus fez-se, Verbo, Palavra!”, lembrando as palavras do Papa Bento XVI, que disse que “A Palavra eterna fez-se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós”. “Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré”, disse, pois, a Criança de Belém “tornou-se tão papável, tão visível, tão audível que já não falam mais profetas, mas o Filho como nosso filho”.

“A Palavra eterna e criadora, a Palavra redentora, salvadora envolta nas faixas de nossa humanidade e fragilidade, acolhida pelos pobres, rodeado pelo universo criado”, enfatizou o Arcebispo de Manaus. “O ‘herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo’, feito carne da nossa carne, sangue do nosso sangue, osso de nossos ossos! Nós vemos a glória de Deus na fragilidade da criança! Aquele que viu, agora se deixa ver. Ao vemos Deus-Menino, o conhecemos!! Ele se fez Palavra encarnada: dada, doada, cordial, gratuita; entrega de amor! Manifestou-se no silêncio da noite a fala de Deus: recolhimento, acolhimento, aceitação. Revelação da gratuidade e cordialidade: redenção, salvação, vida nova, transformação!”.



Ele disse que poderíamos hoje proclamar com a Carta aos Hebreus: “Nestes dias, ele nos falou por meio do Filho, a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo. Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Hoje poderíamos fazer ressoara voz do Pai: tu és o meu Filho, eu hoje te gerei? Eu serei para ele um Pai e ele será para mim um filho. O Filho como nosso filho, ‘todos os anjos devem adorá-lo’ (cf. Hb 1,5-6)”.

Relatando a cena de Belém, o cardeal a definiu como “o esplendor de Deus enfaixado em nossa humanidade, num estábulo, rodeado dos pastores marginalizados, cheirado pelos animais, adorado e glorificado pelos anjos. Evento extraordinário, acontecer inimaginável: Deus que se revela em nosso rosto, Deus que se move na nossa fragilidade, Deus que geme na nossa carne. Em tudo eleva e transforma a existência humana. A Deus, ninguém jamais viu! e, agora o vemos e contemplamos e admiramos e louvamos na nossa humanidade!”.

Ao elo do início do Evangelho de João, Dom Leonardo ressaltou que “o filho que nos foi dado é a Palavra que está no início, é o início; é ele que abre e dá início; é o princípio; o começo e o fim. Ele funda e fundamenta tudo; Ele desperta, irradia, ilumina; cria e recria todas as coisas; é sentido de tudo: da vida e da morte, da vida e da missão, dos ministérios e serviços. Ele é a razão da esperança e da samaritanidade, a medida da justiça e da solidariedade; da vida das comunidades, do existir da Igreja. Ele o céu e a terra! Ele é um novo tempo, sem tempo, para além de todo tempo: o novo Reino. Existe alguém ou algo que o Filho não ilumine, clareie, traga à luz, não sustente, não dê sentido, conceda horizonte novo? O Filho nasceu e tudo agora tudo vive na luminosidade do nascer! O Filho nos atinge, nos toca, com a singeleza e candura, a inocência e encanto. Ele agora a clarificar as dores, os sofrimentos, as desventuras, as violências com sua presença inefável!”.

Com o texto do profeta na primeira leitura, o cardeal relatou que “anuncia e prega a paz: A glória de Deus é plena de beleza e elegância, pois ele mesmo se desnudou, tornou-se nu sobre a terra, revestido com a inocência da criança, com a nossa nudez-fragilidade. A fragilidade de Deus-criança, a nossa glória e esperança! A glória, esplendor, esperança da criança-Deus a indicar a glória e esplendor da humanidade frágil!”.

Segundo ele, “o profeta nos falava da beleza e elegância dos pés que caminham sobre os montes anunciando e pregando a paz, o bem e a salvação. Os anjos que anunciaram a paz, o profeta anuncia e prega a paz, e vivemos em guerra. Existe no ar um cheiro de morte que passa pelas narinas das nossas existências. As violências em nossa Amazônia, as guerras pelo mundo! Guerra e violência que mata mulheres crianças, jovens e idosos. A vida humana está a perder o seu significado e valor. Diante da guerra e da violência Papa Francisco nos ensina: Antes de mais nada, deixarmos mudar o coração, permitir que, através deste momento histórico, Deus transforme os nossos critérios habituais de interpretação do mundo e da realidade. Não podemos continuar a pensar apenas em salvaguardar o espaço dos nossos interesses pessoais ou nacionais, mas devemos repensar-nos à luz do bem comum, com um sentido comunitário, como um 'nós' aberto à fraternidade universal. Não podemos ter em vista apenas a proteção de nós próprios, mas é hora de nos comprometermos todos em prol da cura da nossa sociedade e do nosso planeta, criando as bases para um mundo mais justo e pacífico, seriamente empenhado na busca dum bem que seja verdadeiramente comum”, inspirado na Mensagem do Dia Mundial da Paz 2023.



O Presidente do Regional Norte1 da CNBB denunciou que “a violência, a guerra é sinal da fraqueza e debilidade de nossa humanidade. E diante da violência e a guerra Deus apresentou a sua elegância e beleza: o Menino de Belém. Deus desnudou o seu santo braço aos olhos de todas nações, pois desejou que a salvação alcançasse os confins da terra. O desnudamento veio cobrir a nossa fraqueza e fragilidade. A glória de Deus, pode ser vista e contemplada como Luz, como a majestade de Deus, a força de Deus, o esplendor de Deus, que não causa medo, mas reverência, pois fragilidade-potência, inocência-transparência, candura-quiete, reclinada, manjedoura’.

Seguindo o texto do Evangelho de João que diz que “A Deus, ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus, que está na intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer”, o Cardeal Steiner disse que “nós que recebemos a graça de ver Deus-criança, o anunciamos por palavras e obras. A Criança-Belém nos envia ao encontro dos irmãos e irmãs, sem olhar a quem, sem distinguir raça, cor, religião, povo. A todos oferecer esperança, consolo, comida, água, vestes, abrigo, liberdade, familiaridade. Como conforta e eleva perceber que Deus não se encarnou em vão. Aquele que é o princípio de todo o universo por quem e para quem foram criados o céu e a terra, o Menino Jesus, continue impulsionar os nossos dias, as nossas famílias, as nossas comunidades, os nossos ministérios, as nossas vocações, a nossa fraternidade, a nossa humanidade”.   

Ele pediu que “a presença graciosa e transformadora de Jesus, a vida e a luz de nossa humanidade, fecunde nossos corações, nossas mãos. Possa nascer a gratidão pela gratuidade da Criança que se fez anúncio, presença-consolo, vida-alimento, e, hoje ao contemplá-lo o anunciamos como presença-consolo, vida-alimento, fonte de nossa esperança”.


Igualmente lembrou que Orígenes, catequista da Igreja, perguntava: “em que me ajuda que esse nascimento do Filho de Deus em natureza humana aconteça sempre, se não acontecer em mim?” Pouco adiantaria celebrar o Natal se não permitíssemos que o Menino Deus, o Filho de Deus, fosse gerado em nós, dia após dia, até sua consumação perfeita e total. Celebrar o nascer de Deus e nele o nosso nascer! Celebrar o nascer, pede que o Filho seja concebido e gerado em nós. Ele seja tudo para nós”.  


Deus nos conceda a graça de contemplarmos a glória e o esplendor do recém-nascido enfaixado nos panos da nossa pobreza, a nos faça sorrir e renascer para a vida nova do nascer de Deus”, concluiu o Arcebispo de Manaus.




Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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