Natal é tempo para
pensar no Deus que se faz gente, no Deus que quer caminhar conosco, mas
sobretudo pensar se a gente facilita essa presença no meio de nós hoje. A
grande pergunta é se ele seria acolhido hoje na vida da gente, em nossas
famílias, em nossas comunidades, em nossa Igreja. Se aquele casal de
desconhecidos batesse em nossa porta ou chegasse em nossas celebrações e festas
natalinas, teria lugar para eles?
Quando escutamos a
passagem do Evangelho onde relata os passos prévios ao nascimento de Jesus
brota em nós um sentimento de raiva, de indignação, mas aqueles que não
acolheram Maria e José somos nós. O Evangelho relata as atitudes próprias da
condição humana, de uma humanidade que não aceita a humanização de Deus.
É mais fácil
acreditar em um Deus divinizado, distante de nossa realidade, alguém que ajuda
diante da necessidade, mas não compromete o nosso agir. O Deus encarnado nos
questiona, nos faz pensar sobre nossas atitudes desencarnadas, desumanas. Ele
veio em Jesus e continua vindo em tantos e tantas que são presença dele, que se
aproximam de nós e nos falam, nos questionam sobre nosso modo de vida
desligado, alheio às necessidades dos outros, especialmente ao sofrimento dos
vulneráveis.
Provavelmente, em
2023, Ele vai nascer de novo no meio daqueles que a sociedade coloca do lado de
fora, daqueles que irão passar o Natal na rua, ou preocupados porque não sabem
o que irá acontecer com sua vida no outro dia, no meio aos migrantes, no meio
daqueles que nos presépios de hoje não tem mais calor humano.
Natal é
oportunidade de fazer memória, de nos humanizarmos para poder nos divinizarmos,
de nos aproximarmos da necessidade e o sofrimento dos pequenos para estar mais
perto do Deus que se faz gente no meio dos últimos. Mas será que vamos ter
tempo para isso? Não estamos preocupados demais com outras coisas que não nos
deixam enxergar quem está batendo na porta?
Viver de olho
aberto, aguçar os sentidos é o grande desafio. Só assim nós percebemos quem é
que está chegando perto de nós. Só assim entendemos que Deus chega e Ele o faz
de modos que nos surpreendem, que nos tiram de nossos lugares de conforto, de
nossas ideias preconcebidas em relação a Ele, que sendo o primeiro assume a
condição dos últimos. A grandeza de Deus, o que nos impacta dele, é sua
capacidade para descer, para se fazer cada vez menor.
Só assim, só
entendendo seu jeito, vamos conseguir acolher o Deus que vem ao nosso encontro.
Ele continua chegando ao seu modo e nós continuamos empenhados em fazer que Ele
venha do nosso jeito. Foi por isso que muitos não lhe descobriram e continuam
sem descobrir que Ele continua vindo, do jeito dele, não do meu jeito, do teu
jeito. Será que a gente vai se dar conta disso? Percebê-lo vai fazer com que
nosso Natal seja realmente feliz.
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