domingo, 31 de dezembro de 2023

Dom Leonardo: “No Dia Mundial da Paz como deixar de gritar para que deixem em paz os povos indígenas”


Na Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, no Dia Mundial da Paz, Dom Leonardo Steiner iniciou sua reflexão afirmando que “a Igreja expressa e celebra, jubilosa, a identidade mais profunda, misteriosa e encantadora, mas, também dramática de Maria: Mãe de Deus! A Mãe de Jesus, a Mãe de Deus e, por extensão, nossa Mãe; a Mãe do Príncipe da Paz, Mãe do Menino de Belém, Mãe do Crucificado: na mãe de Deus, a nossa mãe!”. 

Segundo o arcebispo de Manaus, “a Mãe de Deus nos recorda a graça da encarnação, o olhar benevolente de Deus, a presença da Paz e da concórdia. Ela como Mãe de Deus continua a oferecer-nos o Filho, como acolhimento, graça, benção e paz. No Filho não estamos desamparados, mas sempre guardados e abençoados”.

O cardeal lembrou que “o Evangelho, mais uma vez, nos apresenta os pastores visitando o Menino de Belém. Eles seguem a boa notícia, aceitam o convite para a averiguação da presença do Salvador. São esses homens e essas mulheres que diante do maravilhamento e da confirmação da presença do Salvador, louvam, bendizem, agradecem. Sentem-se acolhidos e abençoado, pois ouviram o anúncio da paz”.

Por isso, Dom Leonardo ressaltou que “os pastores nos mostram o paradoxo do ser cristão: o Salvador vem como um menino, indefeso, deitado numa manjedoura, envolto em faixas pobres, em meio a animais. Um Menino visitado pelos pobres e esquecidos da sociedade, se tornará o pobre Crucificado, o Cordeiro de Deus. Aos mais humildes, pequenos e marginalizados de Israel começou a brilhar, a nova luz que brilhará como salvação na Cruz e no túmulo vazio. A salvação nasce da fraqueza e com a fraqueza, da pobreza e com a pobreza, com o despojamento. A paz é possível onde há almas desarmadas, onde a diferença é graça, onde a harmonia brota da despretensão do poder e do domínio. A paz se retrai diante da prepotência, da ganância, do poder, das armas”.

No Evangelho proclamado, vemos Maria guardando, recolhendo, cuidadosamente todos os aconteceres em seu coração. Recolhida, via e ouvia tudo, buscando nos acontecimentos-palavras um sentido, os sinais da salvação. E ela a recolher tudo em si, na busca de deixar que tudo fale, tudo direcione, tudo ilumine com a clareza e clarividência, transparência e pequenez, da nudez de Deus no mundo. Sem saber o que dizer, sem saber o que pensar, apenas no silenciar-recolher está ela na receptividade de em tudo fazer a vontade de Deus. Ela a meditar e a recolher; e o Menino fazendo brotar maravilhas”, disse o presidente do Regional Norte1 da CNBB.



Falando sobre o ano que se inicia, ele destacou que “para nós que estamos na expectativa do ano vindouro, o recolher de Maria, nossa Mãe, ajuda a encaminhar os passos dos acontecimentos do porvir. Estamos na receptividade das manifestações e estamos na vigilância de quem está à espera do nascer e renascer da vida também nas tensões e ilusões, nas alegrias e esperança, na decepção-desolação, no amor e na fé. A nossa Mãe a nos indicar o modo do caminhar, de abrir veredas: nada de antecipação, de desespero, de dissintonia, mas abertura de quem deseja auscultar as ações de Deus nas próprias ações. No recolher, esperar, esperançar! Um silêncio ativo e altivo!”.

O cardeal Steiner disse que “ao saudarmos hoje a nossa Mãe como a Mãe de Deus, a Theotokos, afirmamos o desejo de com ela aprendermos a ler a história, os acontecimentos, guardando as maravilhas da ação de Deus em nós e entre nós. Não temeremos os dias mais difíceis, as guerras, as mortes, pois desejamos ouvir e ver Deus, como a fez a Mãe de Deus”.

Ele a definiu como “Mãe de Deus, silenciosa, acolhedora, repassando tudo em seu coração diante de Deus. Nada escondeu, de nada se esquivou; nenhum ressentimento, nenhum desconsolo, nenhum sentimento de amargura, de solidão. Tudo límpida e transparente diante de Deus: Eis aqui a tua serva! Não deixou a vida à mercê do medo, do desânimo ou da desilusão. Nada de fechamento, nem esquecimento, mas rememoração, meditação, diálogo com Deus. E Deus a habitar nas aflições e nas alegrias. O caminho da Mãe de Deus, nosso caminhar: meditando, recolhendo, sem desprezar a nada das alegrias e das aflições, sabedores da presença de Deus e que nele colocação nossos corações”.

Comentando a segunda leitura, o arcebispo de Manaus ressaltou que “São Paulo anuncia o cumprimento do tempo messiânico: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho... (Gl 4,4). E Maria no meio das vicissitudes do tempo, nas contrariedades, escutou a plenitude dos tempos. O nosso desafio será experimentar essa plenitude no meio das dificuldades do nosso dia a dia, no ano que anuncia; dispor-nos a acolher o mistério da humanidade e da humildade de Deus, do Deus Menino, nas contrariedades, nos descompassos da história, na mudança de época. Talvez, também nós experimentaremos a plenitude de nosso tempo que é a nossa Paz. A plenitude do tempo se estivermos na escuta, no recolhimento e na guarda como a Mãe de Deus. Se vivermos sempre de novo, a cada amanhecer, o irromper da plenitude de nosso tempo. Celebrar a Mãe de Deus, significa dispor-nos a abrir a nossa vida para que a plenitude do tempo, a presença do Menino Deus, se aconteça nos apertos e alívios, nas alegrias e tristezas de cada dia (Gl 4,4-7)”.

Dom Leonardo lembrou que “na Solenidade da Mãe de Deus, celebramos o Dia Mundial da Paz”, afirmando que “a paz será realidade, quando superarmos a indiferença com a cultura de solidariedade, do amor, da justiça, da fraternidade e da misericórdia. A cultura que supera a indiferença, a dominação, o poder, a violência, a ganância. Uma cultura que promove a política do bem comum, que não despreza os pobres, que acolhe os imigrantes, que não descarta a humanidade por raça, gênero, cor, religião. A paz é perturbada pela economia que mata e descarta, pelos julgamentos injustos e de interesse, pela política que beneficia a grupos, negocia o voto e perde o horizonte da ética, pela destruição do meio ambiente, pela ganância em relação às terras indígenas. Interesses de grupos e interesses econômicos, não sustentam a paz, trazem violência e destruição”.



Ele fez ver que “no dia Mundial da Paz, com a Mãe de Deus, os governos dos Estados são chamados a estabelecer relações fraternas com os outros povos, para que aconteça a fraternidade dentro da família das nações”, lembrando que “no dia mundial da Paz, com Papa Francisco, fazemos o apelo de abster-se de arrastar outros povos para conflitos ou guerras que destroem não só as suas riquezas materiais, culturais e sociais, mas também a sua integridade moral e espiritual; apelo ao cancelamento ou gestão sustentável da dívida internacional dos Estados mais pobres; apelo à adoção de políticas de cooperação que, em vez de submeter à ditadura de ideologias, sejam respeitadoras dos valores das populações locais e, de maneira nenhuma, lesem o direito fundamental e inalienável dos nascituros à vida. E como deixar de gritar para que deixem em paz os povos indígenas. Paremos com essa matança e com o desastre ambiental por interesses econômicos”.


Lembrando das palavras do Papa Francisco na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2024, o cardeal disse que ele “nos recorda que a paz corre perigo com o emprego antiético, desfraterno e injusto da inteligência artificial. A inteligência humana é expressão da dignidade que nos foi dada pelo Criador, que nos fez à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1,26) e nos tornou capazes, através da liberdade e do conhecimento, de responder ao seu amor. Esta qualidade fundamentalmente relacional da inteligência humana manifesta-se de modo particular na ciência e na tecnologia, que são produtos extraordinários do seu potencial criativo. Há necessidade de verificar se a inteligência artificial, corresponde à dignidade da pessoa, da fraternidade que devem estar na base do desenvolvimento tecnológico e científico. É fundamental verificar se respeita a justiça e contribui para a causa da paz”.

Olhando para a primeira leitura, o cardeal Steiner destacou que “invocava a benção da dádiva paz, para que sejamos guardados pela graça do olhar de Deus e do cuidado da benevolência divina. ‘O Senhor te abençoe e te guarde...’ Que Ele nos conceda proteção. Ele nos doe proteção. ‘O Senhor faça resplandecer sobre ti seu olhar e te conceda sua graça!’ Nos conceda comungarmos de sua benevolência, de seu amor, através da alegria e a misericórdia. ‘O Senhor volte para ti o seu olhar e te dê a paz!’ O Senhor levante seu rosto para nós e nos dê a sua paz! O Senhor nos acolha! não desvie o seu rosto de nós! Nos acolha e cuide de cada um de seus filhos e filhas”, citando o comentário de Fernandes. M.A. e Fasini. D.

Finalmente, o arcebispo disse que “para nós que estamos na expectativa do ano iniciado, o recolher de nossa Mãe, nos ajuda a encaminhar os passos dos acontecimentos do porvir. Estamos na receptividade das manifestações e estamos na vigilância de quem está à espera do nascer e renascer da vida também nas tensões e ilusões, nas alegrias e esperanças, na decepção-desolação, no amor e na fé. A nossa Mãe a nos indicar o modo do caminhar, do trilhar: nada de antecipação, de desespero, de dissintonia, mas abertura de quem deseja auscultar as ações de Deus nas nossas ações”, pedindo a Santa Maria, Mãe de Deus, que rogue por nós.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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