O
cardeal Leonardo Steiner iniciou sua homilia do 4º Domingo do Tempo Comum
lembrando que “a
primeira leitura nos mostrava a origem da profecia, do profeta. Profecia que
nasce no encontro do Monte Sinai, quando o povo, aterrorizado pela presença de
Deus, pede que não lhe fale diretamente, mas, por meio de um mediador (cf. Ez
20,19; Dt 5,24). Deus que fala através de Moisés no Sinai e depois do Sinai, e,
posteriormente, através dos profetas”.
O
arcebispo de Manaus disse que “estamos acostumados com as falas duras e as
denúncias dos profetas. Existe a denúncia e ela é forte, dura, afiada como uma
espada. A denúncia mostrava, visibilizava o afastamento do povo da sua origem,
da fonte, da eleição que Deus realizara em Abraão, Isaac e Jacó. Deus envia o
profeta para reconduzir, despertar, abrir os olhos, fazer ver como o povo estava
distante e distanciado de Deus. A missão do profeta é reconduzir o Povo à graça
da Aliança”.
“Eles
denunciam, para provocar a conversão. Os profetas proclamam, agem impulsionados
pela palavra recebida de Deus. Eles indicam o futuro! Não uma previsão do
futuro, mas o despertar para o futuro, pois receberam a missão de converter, de
reconduzir à fidelidade Deus. Missão que está fontada no amor que Deus tem pelo
seu povo”, destacou dom Leonardo.
Ele
destacou como admirável que, “por ocasião da instituição do profetismo, na
primeira leitura, por duas vezes, Deus insista em proclamar que fará surgir
para seu povo um profeta semelhante a Moisés”, lembrando que “um profeta que não
esteja comprometido com o centro político ou religioso, mas o porta voz da
palavra confiada por Deus. Por isso, a tradição judaica sempre esperou o
Messias como um novo Moisés (At 3,22-23; 7,37; Jo 1,17; 5,45-47) e a tradição
cristã viu e tem Jesus Cristo como o último profeta”.
Analisando
o texto do Evangelho, o cardeal Steiner destacou que “a nos recordar o que
ouvimos no Deuteronômio”, relatando que “na sinagoga de Cafarnaum, local do
ensino oficial da Lei e sua interpretação pelos mestres autorizados, Jesus
começa a ensinar. É dentro do ensinamento e autoridade da Sinagoga que Jesus
começa a lançar as luzes do novo ensinamento, uma nova autoridade, um
reencontro com o Deus da Aliança. Seu ensinamento tem autoridade e a sua fama
se espalha rapidamente por toda a região”.
“Sábado,
dia sagrado, destinado a recordar, celebrar e agradecer as maravilhas que Deus
operara outrora em favor de seu Povo: a libertação da escravidão egípcia. A celebração,
normalmente, começava com as palavras de súplica”, recordou o arcebispo de
Manaus, citando as palavras do Shema Israel. Ele lembrou que “depois dessa
verdadeira profissão de fé, seguiam orações, cânticos, uma leitura da Torah e
outra dos Profetas. Em seguida oferecia-se aos presentes comentários às
leituras. A celebração era concluída com uma benção”.
Dom Leonardo enfatizou que “Jesus, certamente apresentou o seu ensinamento a partir do texto sagrado, despertando admiração”. Segundo ele, “o seu ensinamento a partir da Lei tinha outra tonância, outra força, outro horizonte, tinha autoridade. O seu ensinar remetia às fontes, às origens do povo de Israel”. É por isso que “a autoridade de Jesus, o novo e verdadeiro profeta, a sua força vivificadora se manifesta nas palavras, na autoridade de suas palavras, e no confronto com o espírito mau”.
“Ao
expulsar, afastar o espírito mau, devolve o espírito da descendência de Abraão,
Isaac e Jacó. Nos impressiona que o espírito mau esteja dominando o homem
dentro da casa da palavra e da oração. Entre os reunidos em assembleia
escutante e de prece, está o espírito mau. Jesus ao intimar que saia do homem, devolve
o espírito do bem, da bondade, ao homem que se encontra na sinagoga em assembleia.
O espírito bom, o da misericórdia, é cheio de zelo, de fidelidade. Faz entrever
a bondade, os desejos, os amores, os anseios, as buscas. As ruínas? Reconstrói.
Descaminhos? reconduz. Laços rompidos? aproxima, irmana, amoriza. Trevas?
Alumia. O espírito novo a conduzir as relações humanas que dignificam,
santificam, salvam. O espírito da
compaixão acolhe, restaura, da vida, perdoa, enobrece, frutifica. O espírito da
verdade supera as diferenças, as desavenças, concede palavras apropriadas. O
espírito da compaixão se faz “fraco com os fracos (...) e tudo para todos” (1 Cor 9, 22)”, destacou o presidente
do Regional Norte1 da CNBB.
Em suas palavras, Dom Leonardo Steiner enfatizou que “Jesus no lugar da
palavra e da prece, propõe um projeto de liberdade e de vida, liberta e oferece o espírito
da bondade. Ao egoísmo, Ele contrapõe a doação e a partilha; ao orgulho e à autossuficiência,
propõe o serviço simples e humilde a Deus e aos irmãos; à exclusão, Ele oferece
a tolerância e a misericórdia; à injustiça, ao ódio, à violência, Ele contrapõe
o amor sem limites; ao medo, Ele propõe a liberdade; à morte, Ele contrapõe a
vida. No expulsar o espírito mau, liberta, salva, redime! As suas palavras e
ações são verdadeiramente transformadoras, capaz de libertação, abrir novos
horizontes, nova vida. Ele é a presença
da Boa Nova, o espírito novo, que transformar a todos os homens e todas as
mulheres da terra”.
Segundo
ele, “esse é o novo ensinamento de Jesus: fazer aparecer a Boa Nova do Pai nas
pessoas, principalmente, aos pecadores, marginalizados, doentes, pobres,
abatidos; fazer aparecer a verdadeira identidade de filhos e filhas de Deus,
expulsar os espíritos maus, libertar, desacorrentar. Espírito mau que se
introduz no espaço da palavra, da oração, e que não deixar saborear a palavra,
distancia a Assembleia orante. Jesus um verdadeiro profeta. O profeta anunciado
por Deus: Farei surgir do meio de meus
irmãos, um profeta semelhante a ti. Porei em sua boca minhas palavras e ele
lhes comunicará tudo o que eu mandar (cf. Dt 18,17-18)”.
“O espírito mau
que hoje divide as nossas comunidades, as nossas famílias. O espírito mau que
nos distância dos pobres e dos necessitados. O
espírito mau que nos separa como irmãos e irmãs. O espírito mau que suscita a
violência, a morte, a separação. Jesus nos quer livres e irmãos no amor. Ele
suscita o espírito da bondade e da mansidão. Nesses dias em que as famílias no
bairro Aparecida perderam tudo, o espírito da bondade que Jesus nos deu, tem
sido consolo, presença de amor. Agradeçamos o espírito novo que recebemos, que
não nos deixa indiferentes”, refletiu o cardeal Steiner.
Comentando
o texto de São Paulo aos Coríntios da segunda leitura, Dom Leonardo disse que “ele
insiste que sempre encontraremos tribulações. Mas, as tribulações são ocasião
para participar da vida de Jesus Cristo. Viver em contínuo confronto com as
forças desse mundo, em vez de nos separar, nos coloca cada vez mais próximos e
íntimos do seu amor e do amor entre nós”.
Segundo
o arcebispo, “São Paulo insiste que o cristão, casado ou não casado, devem
estar imbuídos do fervor e da vida do Evangelho. Casado ou solteiro, deve ter
bem presente que, a exemplo de Cristo, que suportou as tribulações da Cruz, se
pode construir a Igreja, a comunidade, a fraternidade, suportando as muitas
tribulações, confrontos e desafios, tanto internos, da própria comunidade,
quanto externos, vindo do espírito do mal”.
“O
que importa é permanecer junto de Jesus, superando todo tipo de impureza que
desagrega. Não somos uma comunidade de puros, imaculados, que afastam e ignoram
os doentes e pecadores. Somos uma comunidade que vive a sua fé em meio a
tensões, fraquezas, em meio às belezas e dificuldades da sexualidade, aos nossos
afetos nem sempre livres, mas desejosos da vida do Evangelho, alimentados por
Jesus. Nesse sentido, impuro não era aquele homem do Evangelho de hoje, mas os da
sinagoga que se consideravam puros e merecedores da graça de Deus”, ressaltou
Dom Leonardo.
Finamente, ele enfatizou
que “Jesus que veio para libertar das amarras, de tudo o que aprisiona e rouba
o extraordinário da vida. Liberta e indica um caminho novo que conduz à
realização plena da vida humana. Liberta dos espíritos maus e oferece o
espírito da bondade e da harmonia. É a visibilização do Reino de Deus
anunciado. O ‘Reino de Deus’ entre nós. Pela palavra e gestos ele renova e
transforma em homens e mulheres livres, todos aqueles que vivem prisioneiros do
espírito mau do egoísmo, do pecado e da morte”. Por isso, Dom Leonardo pediu que “Deus nos conceda o Espírito que
renova as nossas vidas, todos os seres e a todas as coisas. Deixemo-nos tomar
pela vida do Reino que pede de nós conversão”.
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