domingo, 14 de janeiro de 2024

Dom Leonardo: “É no estar com Jesus, no seguir a Jesus, caminhar com ele, participar de sua vida, que o conhecemos”


Lembrando que as leituras nos despertam para o chamado, para o seguimento, iniciou o cardeal Leonardo Steiner sua reflexão do Segundo Domingo do Tempo Comum. Segundo o arcebispo de Manaus, “a primeira leitura abriu nossos olhos para ver o chamado a vocação do pequeno Samuel; no Evangelho os discípulos sentem-se atraídos, chamados; na segunda leitura, São Paulo, nos ensina que fomos chamados a uma vida plena”.

Aprofundando na primeira leitura, ele disse que “Samuel ao ser desmamado foi entregue por sua mãe Ana, a estéril, para servir no templo: ‘Eu o entrego ao Senhor todos os dias de sua vida, pois foi pedido ao Senhor’. Samuel o desejado, o suplicado, o recebido como dom da esterilidade e da velhice, é consagrado ao Senhor. Consagrado, Deus o chama, despertando, sussurrando, sugerindo, indicando. É a lógica da graça da intimidade, da proximidade, do encontro. O chamado acontece no lugar onde se vive, no espaço da cotidianidade, sem grandes alardes. No servir o templo, Deus chama o menino pelo nome e, por quatro vezes, repetindo, sempre, a modo de mãe: ‘Samuel, Samuel!’”

“No templo, no silêncio da noite, Deus busca o menino. A noite convida à oração, à escuta, à contemplação. Na noite, espaço do sonho, podem nascer indicações, orientações, a vocação; recordemos São José, os Magos. Deus pode manifestar-se, quando cessa o barulho, a natureza descansa, descansam os sentidos do corpo e despertam os da alma. É nesse momento de graça e liberdade que Deus se manifestar. No silêncio do pouco ou nada saber, Deus pode fazer alguma coisa em nós e por nós. É então que o menino Samuel pode responder de modo inocente, digno e justo: ‘Fala, Senhor que teu servo escuta’ (1Sm 3,10), lembrou dom Leonardo inspirado no comentário de Fernandes, M.A., e Fassini, D.

Ele enfatizou que “a primeira leitura dá cores, gestos, palavras ao chamado de Samuel. Sem saber quem o chama, vemos a prontidão e a disponibilidade como resposta: ‘me chamaste aqui estou’. Nos eleva perceber como Deus persiste, até receber a resposta: ‘Fala, que teu servo escuta’! No chamado de Samuel tem um aprender a ouvir! Existe prontidão, ligeireza, presteza, mas falta afinação existencial para deixar tinir voz de Deus. Na casa do Senhor, o templo, lugar de encontro, Samuel vai apreendendo a ouvir o cuidado de Deus para com o seu povo. O chamado é para servir o povo de Deus da Aliança. Assim, como chamou Abraão para ser pai de um povo, como no tempo da escravidão do Egito, chamou Moisés para libertar o Povo da escravidão, como chamou os profetas para devolverem Israel à fidelidade da Aliança, chama Samuel para guiar os filhos de Abraão, Isaac e Jacó. Chamado para um novo tempo: o fim do tempo dos Juízes e lançar os fundamentos, as raízes da realeza judaica, que em Davi encontrará expressão mais elevada”.



Olhando para o Evangelho, o cardeal destacou que “Jesus se apresenta, se faz visível e é identificado por João. O Batista mostra a presença do Messias, ensina a presença, ensina a ouvir a presença: ‘Eis o Cordeiro de Deus!’. O Anunciador indica aquele que chama e ‘os dois discípulos de João, ouvindo essas palavras seguiram Jesus’”.

Segundo o arcebispo de Manaus, “é consolador a dinâmica do seguimento: o que estais procurando? Seguir Jesus é uma procura. Os discípulos diante da pergunta de Jesus respondem com uma outra pergunta: onde moras? Não procuravam uma coisa, não procuravam objetos, ideais, sonhos. Onde moras, qual é tua morada, qual é o teu habitar, onde podemos te encontrar, como vives, de que vives? Buscavam o mestre, buscavam o Cordeiro, aquele que salva! Jesus os convida amavelmente: Vinde ver. Foram ver onde ele morava e, nesse dia, permaneceram com ele”.

Dom Leonardo Steiner enfatizou que “desejavam entrar na casa, na vida, participar da vida, deixarem-se guiar pelo mestre: onde moras, onde vives?  Qual é o segredo do teu viver? Não buscam novas doutrinas, ensinamentos, mas o modo de viver de Jesus, o Messias, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! ‘Vinde ver’: viver como Ele vivia, de maneira pobre, simples, peregrino, viandante, pregador! Ver como Jesus vivia, como ele tratava as pessoas, como acolhida, curava, animava, esperançava. Onde moras, participar de sua oração, da sua pregação, do seu peregrinar, do seu partilhar. O vinde e vede, o estar, o ser com Jesus! Experimentar a Jesus, o seu modo de vida, perceber a partir de quem ele vivia e ensinava. No seguir Jesus perceberam que o Pai do céu era tudo para Jesus e o fundamento do Reino!”

Analisando o “Vinde ver”, o cardeal destacou que “é um convite de participação, mas também um movimento de desalojamento, de desinstalação. Uma desinstalação, uma saída, que abre mundos, possibilita novo horizonte de vida, descortina novo céu e nova terra. Não se trata de ver com os olhos, mas de ter sido tocado. Um ser tocado no tocar; é uma interação de encontro: ser encontrado!”

É no estar com Jesus, no seguir a Jesus, caminhar com ele, participar de sua vida, que o conhecemos. O convite vinde e vide é a possibilidade não apenas de seguir Jesus, mas viver como ele viveu, ser como ele era. Como os apóstolos, também nós perguntamos onde moras e ele, insistentemente, vai nos convidando: vinde e vede”, disse Dom Leonardo. Segundo ele, “é que estamos na busca não do lugar, da casa, de um abrigo, mas na busca da liberdade que protege, do amor que guarda e enobrece, da esperança que ilumina e conduz, da graça que transborda em santidade. São os espaços extraordinariamente livres que possibilitam chegar à maturidade de nossa humanidade, à maturidade da fé. ‘Eis o Cordeiro de Deus’: aquele que se fez nosso espaço existencial que pode nos levar à plenitude de viver e à plena maturação de nosso existir”.



“Os discípulos que foram encontrados e, em saída, participaram da vida de Jesus sentem a necessidade de partilhar, codividir a graça do encontro. Por isso André, busca o seu irmão Pedro: ‘Encontramos o Messias que quer dizer: Cristo’. E o conduziu a Jesus. Em Jesus, Pedro tem uma nova pertença, nova familiaridade: ‘Tu és Simão filho de João; tu serás chamado Cefas’, Pedro. O encontro leva ao anúncio, à partilha do encontro, à alegria de oferecer outros o encontro. O encontro suscita o anúncio, a missionariedade”, ressaltou o arcebispo de Manaus.

Segundo ele, inspirado no Papa Francisco, “as leituras podem ajudar na maravilhosa descoberta que o chamado do Senhor é graça, dom gratuito e, ao mesmo tempo, é empenho de partir, sair para levar o Evangelho. Somos chamados a uma fé testemunhada, que estreita fortemente o vínculo entre a vida da graça, do Reino, e o anúncio, a missionariedade. Animados pelo Espírito, deixar-se oiteinterpelar pelas periferias existenciais e ser sensíveis aos dramas humanos. Despertar para a missão que recebemos: é obra de Deus e não a realizamos sozinhos. A vida do Evangelho que anunciamos acontece em comunhão eclesial, com os irmãos e irmãs, guiados pelo Espírito Santo. Pois este sempre foi o sonho de Deus: vivermos com Ele em comunhão de amor”.

Na segunda leitura, Dom Leonardo destacou que “São Paulo revela a grandeza da dignidade do discípulo, da discípula, de quem aceitou o convite ‘Vinde e vede’: ‘Vossos corpos são membros de Cristo. Quem adere ao Senhor torna-se com Ele um só espírito’ (1Cor 6,13c-15ª.17-20). Quem segue Jesus, é seguidor por inteiro, todo inteiro, pois quem adere a Jesus, torna-se com Ele um só espírito. È seguidor de corpo e alma. No seguimento de Jesus o corpo é santuário do Espírito Santo que mora em nós. É que no seguimento de Jesus já não nos pertencemos e por isso é o seu espírito que nos transforma, fortalece, revigora”.

“Na carta, São Paulo busca superar as divisões no seio da comunidade de Corinto (Cf. 1Cor 1,10ss), mas, também, eliminar muitos casos de imoralidade, de vida desordenada. Não viver segundo a carne, mas segundo o espírito. A carne, o corpo compreendido, como voltado para si mesmo, a partir de si mesmo. O modo o espírito, o da liberdade, o da graça. O espírito que eleva, enobrece, dignifica, santifica.  Como seguidores e seguidoras de Jesus cuidar do próprio corpo, mas também do Corpo de Cristo, a Igreja. No cuidado de uma vida transformada, glorificar a Deus com o corpo, isto é, a nossa vida, a nossa existência. Nossa presença seja uma louvação àquele que nos gerou”, disse Dom Leonardo.

Finalmente repetiu as palavras de Santo Agostinho nas Confissões, ao viver na dignidade e na santidade depois de ter sido encontrado por Jesus: “Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a tua luz afugentou minha cegueira. Exalaste o teu perfume e, respirando-o, suspirei por ti, te desejei. Eu te provei, te saboreei e, agora, tenho fome e sede de ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por tua paz!”, insistindo em que “Deus nos concede a graça de sermos fiéis seguidores e seguidoras de Jesus, e entusiastas evangelizadores”.


Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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