Lembrando que as leituras nos despertam para o chamado, para o seguimento, iniciou o cardeal Leonardo Steiner sua reflexão do Segundo Domingo do Tempo Comum. Segundo o arcebispo de Manaus, “a primeira leitura abriu nossos olhos para ver o chamado a vocação do pequeno Samuel; no Evangelho os discípulos sentem-se atraídos, chamados; na segunda leitura, São Paulo, nos ensina que fomos chamados a uma vida plena”.
Aprofundando
na primeira leitura, ele disse que “Samuel ao ser desmamado foi entregue por
sua mãe Ana, a estéril, para servir no templo: ‘Eu o entrego ao Senhor todos os
dias de sua vida, pois foi pedido ao Senhor’. Samuel o desejado, o suplicado, o
recebido como dom da esterilidade e da velhice, é consagrado ao Senhor.
Consagrado, Deus o chama, despertando, sussurrando, sugerindo, indicando. É a
lógica da graça da intimidade, da proximidade, do encontro. O chamado acontece
no lugar onde se vive, no espaço da cotidianidade, sem grandes alardes. No
servir o templo, Deus chama o menino pelo nome e, por quatro vezes, repetindo,
sempre, a modo de mãe: ‘Samuel, Samuel!’”
“No
templo, no silêncio da noite, Deus busca o menino. A noite convida à oração, à
escuta, à contemplação. Na noite, espaço do sonho, podem nascer indicações,
orientações, a vocação; recordemos São José, os Magos. Deus pode manifestar-se,
quando cessa o barulho, a natureza descansa, descansam os sentidos do corpo e
despertam os da alma. É nesse momento de graça e liberdade que Deus se
manifestar. No silêncio do pouco ou nada saber, Deus pode fazer alguma coisa em
nós e por nós. É então que o menino Samuel pode responder de modo inocente,
digno e justo: ‘Fala, Senhor que teu servo escuta’ (1Sm 3,10), lembrou dom Leonardo inspirado no comentário de Fernandes, M.A., e Fassini, D.
Ele enfatizou que “a primeira leitura dá
cores, gestos, palavras ao chamado de Samuel. Sem saber quem o chama, vemos a
prontidão e a disponibilidade como resposta: ‘me chamaste aqui estou’. Nos
eleva perceber como Deus persiste, até receber a resposta: ‘Fala, que teu servo
escuta’! No chamado de Samuel tem um aprender a ouvir! Existe prontidão,
ligeireza, presteza, mas falta afinação existencial para deixar tinir voz de
Deus. Na casa do Senhor, o templo,
lugar de encontro, Samuel vai apreendendo a ouvir o cuidado de Deus para com o
seu povo. O chamado é para servir o povo de Deus da Aliança. Assim, como
chamou Abraão para ser pai de um povo, como no tempo da escravidão do Egito,
chamou Moisés para libertar o Povo da escravidão, como chamou os profetas para
devolverem Israel à fidelidade da Aliança, chama Samuel para guiar os filhos de
Abraão, Isaac e Jacó. Chamado para um novo tempo: o fim do tempo dos Juízes e
lançar os fundamentos, as raízes da realeza judaica, que em Davi encontrará
expressão mais elevada”.
Olhando para o Evangelho,
o cardeal destacou que “Jesus se apresenta, se faz visível e é identificado por
João. O Batista mostra a presença do Messias, ensina a presença, ensina a ouvir
a presença: ‘Eis o Cordeiro de Deus!’. O Anunciador indica aquele que chama e ‘os
dois discípulos de João, ouvindo essas palavras seguiram Jesus’”.
Segundo o arcebispo de Manaus, “é
consolador a dinâmica do seguimento: o que estais procurando? Seguir Jesus é
uma procura. Os discípulos diante da pergunta de Jesus respondem com uma outra
pergunta: onde moras? Não procuravam uma coisa, não procuravam objetos, ideais,
sonhos. Onde moras, qual é tua morada, qual é o teu habitar, onde podemos te
encontrar, como vives, de que vives? Buscavam o mestre, buscavam o Cordeiro,
aquele que salva! Jesus os convida
amavelmente: Vinde ver. Foram ver onde ele morava e, nesse dia, permaneceram
com ele”.
Dom Leonardo Steiner enfatizou
que “desejavam entrar na casa, na vida, participar da vida, deixarem-se guiar
pelo mestre: onde moras, onde vives?
Qual é o segredo do teu viver? Não buscam novas doutrinas, ensinamentos,
mas o modo de viver de Jesus, o Messias, o Cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo! ‘Vinde ver’: viver como Ele vivia, de maneira pobre, simples,
peregrino, viandante, pregador! Ver como Jesus vivia, como ele tratava as
pessoas, como acolhida, curava, animava, esperançava. Onde moras, participar de
sua oração, da sua pregação, do seu peregrinar, do seu partilhar. O vinde e
vede, o estar, o ser com Jesus! Experimentar a Jesus, o seu modo de vida,
perceber a partir de quem ele vivia e ensinava. No seguir Jesus perceberam que
o Pai do céu era tudo para Jesus e o fundamento do Reino!”
Analisando o “Vinde ver”, o
cardeal destacou que “é um convite de participação, mas também
um movimento de desalojamento, de desinstalação. Uma desinstalação, uma saída,
que abre mundos, possibilita novo horizonte de vida, descortina novo céu e nova
terra. Não se trata de ver com os olhos, mas de ter sido tocado. Um ser tocado
no tocar; é uma interação de encontro: ser encontrado!”
“É no estar com
Jesus, no seguir a Jesus, caminhar com ele, participar de sua vida, que o
conhecemos. O convite vinde
e vide é a possibilidade não apenas de seguir Jesus, mas viver como ele viveu,
ser como ele era. Como os apóstolos, também nós perguntamos
onde moras e ele, insistentemente, vai nos convidando: vinde e vede”, disse Dom
Leonardo. Segundo ele, “é que estamos na busca não do lugar, da casa, de um
abrigo, mas na busca da liberdade que protege, do amor que guarda e enobrece,
da esperança que ilumina e conduz, da graça que transborda em santidade. São os
espaços extraordinariamente livres que possibilitam chegar à maturidade de
nossa humanidade, à maturidade da fé. ‘Eis o Cordeiro de Deus’: aquele que se
fez nosso espaço existencial que pode nos levar à plenitude de viver e à plena
maturação de nosso existir”.
“Os discípulos que foram encontrados e, em
saída, participaram da vida de Jesus sentem a necessidade de partilhar,
codividir a graça do encontro. Por isso André, busca o seu irmão Pedro: ‘Encontramos
o Messias que quer dizer: Cristo’. E o conduziu a Jesus. Em Jesus, Pedro tem
uma nova pertença, nova familiaridade: ‘Tu és Simão filho de João; tu
serás chamado Cefas’, Pedro. O encontro leva ao anúncio, à partilha do
encontro, à alegria de oferecer outros o encontro. O encontro suscita o
anúncio, a missionariedade”, ressaltou o arcebispo de Manaus.
Segundo ele, inspirado no Papa Francisco, “as
leituras podem ajudar na maravilhosa descoberta que o chamado do Senhor é graça,
dom gratuito e, ao mesmo tempo, é empenho de partir, sair para levar o
Evangelho. Somos chamados a uma fé testemunhada, que estreita fortemente o
vínculo entre a vida da graça, do Reino, e o anúncio, a missionariedade.
Animados pelo Espírito, deixar-se oiteinterpelar pelas periferias existenciais
e ser sensíveis aos dramas humanos. Despertar para a missão que recebemos: é
obra de Deus e não a realizamos sozinhos. A vida do Evangelho que anunciamos
acontece em comunhão eclesial, com os irmãos e irmãs, guiados pelo Espírito
Santo. Pois este sempre foi o sonho de Deus: vivermos com Ele em comunhão de
amor”.
Na segunda leitura, Dom Leonardo destacou
que “São Paulo revela a grandeza da dignidade do discípulo, da discípula, de
quem aceitou o convite ‘Vinde e vede’: ‘Vossos corpos são membros de Cristo.
Quem adere ao Senhor torna-se com Ele um só espírito’ (1Cor 6,13c-15ª.17-20). Quem segue Jesus, é seguidor por inteiro,
todo inteiro, pois quem adere a Jesus, torna-se com Ele um só espírito. È
seguidor de corpo e alma. No seguimento de Jesus o corpo é santuário do
Espírito Santo que mora em nós. É que no seguimento de Jesus já não nos
pertencemos e por isso é o seu espírito que nos transforma, fortalece, revigora”.
“Na carta, São Paulo busca superar as
divisões no seio da comunidade de Corinto (Cf. 1Cor 1,10ss), mas, também,
eliminar muitos casos de imoralidade, de vida desordenada. Não viver segundo a
carne, mas segundo o espírito. A carne, o corpo compreendido, como voltado para
si mesmo, a partir de si mesmo. O modo o espírito, o da liberdade, o da graça. O
espírito que eleva, enobrece, dignifica, santifica. Como seguidores e seguidoras de Jesus cuidar
do próprio corpo, mas também do Corpo de Cristo, a Igreja. No cuidado de uma
vida transformada, glorificar a Deus com o corpo, isto é, a nossa vida, a nossa
existência. Nossa presença seja uma louvação àquele que nos gerou”, disse Dom
Leonardo.
Finalmente repetiu as palavras de Santo Agostinho nas Confissões, ao viver na dignidade e na santidade depois de ter sido encontrado por Jesus: “Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a tua luz afugentou minha cegueira. Exalaste o teu perfume e, respirando-o, suspirei por ti, te desejei. Eu te provei, te saboreei e, agora, tenho fome e sede de ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por tua paz!”, insistindo em que “Deus nos concede a graça de sermos fiéis seguidores e seguidoras de Jesus, e entusiastas evangelizadores”.
Muito boa a reflexão.
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