sexta-feira, 15 de março de 2024

Padre Lúcio Nicoletto envia saudação à Prelazia de São Félix pedindo a luz do Senhor em sua nova missão


O padre Lúcio Nicoletto, bispo eleito da prelazia de São Félix do Araguaia, enviou nesta quinta-feira 14 de março, no mesmo dia que ele fez seu juramento e profissão de fé, uma saudação ao povo de sua nova Igreja local.

Após se apresentar, o texto destaca a importância da diocese de Pádua (Itália), em sua vida e tudo o que nela aprendeu, sobretudo o fato de ter sido enviado em missão ao Brasil, “um furacão que me mudou profundamente a partir do caminho da lógica da encarnação”, insistindo em que “o amor passa necessariamente pela porta da encarnação”.

O bispo eleito diz viver sua nomeação como um kairós, caminhar na Prelazia de São Félix do Araguaia, que “carrega em si a marca profunda da voz do querido irmão dom Pedro”, que “deixou um legado de compromisso radical com a vida dos últimos, juntamente com o ideal do Concilio Vaticano II, de uma Igreja, sinal do Reino, pobre para os pobres, uma Igreja inteiramente ministerial e completamente comprometida com a missão de ser aliada dos que não têm voz, de ser reflexo do nosso Deus, Pai e Mãe amoroso e compassivo, que enxuga as lagrimas do rosto dos oprimidos e injustiçados derramando sobre cada um o óleo da consolação e o vinho da esperança”.

Se sentindo aprendiz, e recordando os bispos que passaram nessa Igreja local, envia uma saudação a todos aqueles e aquelas que realizam sua missão em São Félix, se confiando às orações de todos, destacando a importância dos povos originários, e estendendo sua saudação a todos aqueles que chegaram na região. Para todos ele pede “que o Senhor da Vida nos ilumine e nos acompanhe nessa nova missão”.




Texto da saudação

Saudação ao povo que está na Prelazia de São Felix do Araguaia – MT

quinta-feira dia 14 de março de 2024

Caríssimo e amado povo de Deus da querida Prelazia de São Felix do Araguaia; querido irmão e bispo Adriano: paz!

Dirijo-me a vocês, após ter recebido a nomeação do querido Papa Francisco para começar a missão de caminhar como bispo com vocês e com Cristo Jesus que já amais sem o terdes visto; credes nele, sem o verdes ainda, e isto é para vós a fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque vós estais certos de obter, como preço de vossa fé, a salvação de vossas vidas. (1Pd 1, 3-9).

Apresento-me a vocês com a gratidão e a alegria de um filho que reconhece todo o amor com que a Igreja de Pádua (Itália), minha Mãe, me acolheu desde o dia do meu batismo e me acompanhou durante toda a minha vida. Foi Ela que suscitou inúmeras pessoas que foram importantes para que eu bem conhecesse Jesus Cristo e para que aprendesse a me deixar amar por Ele. Foi a Igreja que me levou a descobrir a beleza do plano de amor de Deus para toda a humanidade. Esta mesma Igreja ajudou-me a acolher a Palavra de Cristo e a me deixar moldar por Ela. Ensinou-me a reconhecer Cristo presente e atuante na vida e no testemunho de tantos homens e mulheres que ofereceram a sua existência para testemunhar com a vida os valores do Reino.

Ensinou-me que não há anúncio sem o testemunho daquele amor/caridade pela qual Cristo se entregou totalmente, especialmente pelos mais pobres e os últimos, tornando-se ele mesmo pobre e último. A graça da missão chegou à minha vida como um vento forte, um furacão que me mudou profundamente a partir do caminho da lógica da encarnação. E foi no encontro com a Amazônia, no caminho junto ao amado povo da Igreja de Roraima que aprendi que “A Igreja se faz carne e arma sua tenda na Amazônia”. Este armar a tenda manifestou-se como um irrenunciável anúncio central da boa nova: anunciar aos povos o Evangelho de Jesus Cristo e de seu Reino como fonte de sentido e de libertação. (cf. Documento dos 50 anos de Santarém)

Quando cheguei ao Brasil, em 2005, sabia que estava levando comigo a pérola preciosa do Evangelho que a própria igreja de Pádua me confiou ao enviar-me para a missão para que eu pudesse anunciá-lo. Mas a comunhão com todos os meus irmãos e irmãs na missão e com as comunidades com as quais o Espírito me convidou a caminhar – por onze anos na diocese de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense e por oito anos aqui em Roraima - ajudou-me a sentir a missão segundo o jeito de Cristo que se esvaziou completamente, tornando-se obediente até a morte e a morte de cruz.

O amor passa necessariamente pela porta da encarnação. Agradeço ao Papa Francisco que, em nome da Igreja me oferece a oportunidade de viver este Kairos na minha vida, este tempo propício para me deixar visitar pelo sopro do Espírito e me deixar moldar por Ele. Por isso considero a missão como a dimensão da fé que salvou a minha vida da indiferença insossa e manteve vivo em mim o compromisso de ser como sentinela que espera, em pé, por novos céus e uma nova terra.

É com estes sentimentos que acolho o convite do Santo Padre, o Papa Francisco para esta nova missão que me levará a caminhar com vocês, amadas e amados de Deus, nessa realidade da nossa querida Amazônia, onde o grito dos oprimidos continua a não ser ouvido pelos poderosos deste mundo, mas é ouvido pelo coração de Deus.

Percebo que a realidade da Prelazia de São Félix do Araguaia carrega em si a marca profunda da voz do querido irmão dom Pedro, o primeiro bispo desta terra que por mais de trinta anos fez ecoar com palavras e com gestos, oportuna e inoportunamente, a palavra do Evangelho como profeta e irmão dos pobres, fazendose pobre como Cristo. Deixou um legado de compromisso radical com a vida dos últimos, juntamente com o ideal do Concilio Vaticano II, de uma Igreja, sinal do Reino, pobre para os pobres, uma Igreja inteiramente ministerial e completamente comprometida com a missão de ser aliada dos que não têm voz, de ser reflexo do nosso Deus, Pai e Mãe amoroso e compassivo, que enxuga as lagrimas do rosto dos oprimidos e injustiçados derramando sobre cada um o óleo da consolação e o vinho da esperança. Por isso sinto-me honrado e aprendiz ao mesmo tempo diante da tarefa de levar adiante este legado de vida, de luta e de resistência que ficou marcado na vida daqueles que me precederam no ministério episcopal preste a iniciar: primeiro Dom Pedro e, depois, Dom Leonardo Steiner, atual arcebispo de Manaus e cardeal da Amazônia e Dom Adriano Ciocca Vasino, atual Bispo de São Félix ao qual vai a gratidão de toda a nossa igreja de São Felix pelo amor, carinho e dedicação profética com que viveu seu ministério episcopal entre vocês ao longo desses doze anos.

Minha saudação carinhosa e fraterna a todos os padres incardinados, missionários e religiosos; a todas às religiosas consagradas missionarias presentes em nossa igreja particular, cujo ministério é uma dadiva de Deus que como mãe amorosa toma conta de seus pequeninos com a vida de todos vocês, missionarias e missionários de Deus! Conto com sua ajuda e fraterna parceria!

Ao iniciar este novo capítulo da minha história e da história da Prelazia, confiome às orações de todos vocês, amadas e amados de Deus, e à intercessão de Nossa Senhora dos Mártires de ontem, de hoje e de sempre, que continuam caminhando na história, bem junto povo de Deus, em busca da vitória! Confio-me ao abraço dos povos indígenas, verdadeiros guardiões da vida e da criação assim como o Papa Francisco, na encíclica Laudato Si’ e na Exortação Apostólica Querida Amazônia: “... os povos originários são os que melhor cuidam de seus territórios...”. Sentimos nessas palavras o convite a reassumirmos com renovado ardor a grande tarefa missionaria que orienta e confirma os passos dessa igreja de São Félix: “É indispensável prestar uma atenção especial às comunidades originárias com as suas tradições culturais.

Merece toda a nossa atenção, gratidão e carinho, a presença e a história dos nossos povos originários principalmente da bacia dos rios Araguaia e Xingu: os povos Xavante, Tapirapé, Kalapalo, Kuikuro, Kaiapó, Kaiabí, Juruna; Karajá, Javaé, Kanela e Krenak. Obrigado por serem para nós motivo para renovarmos o nosso compromisso por uma Igreja sempre mais atenta á promover a Boa nova de Jesus Cristo fazendo nossa opção preferencial pela vida plena para todos os povos de todas as raças e culturas e o cuidado com a Casa comum. Desde já quero colocar-me na atitude de escuta atenta para conhecer sua história, sua identidade, seus valores e suas esperanças contando com a ajuda de todas as animadoras e animadores, agentes de pastoral, missionários e missionarias em suas comunidades!

Minha saudação também ao povo goiano, nordestino, gaúcho e todos os que buscaram nessa terra de Mato Grosso, vindo de várias partes do Brasil, uma vida melhor e que hoje também compõem a pluralidade extraordinária do povo matogrossense! Como bem nos lembra a Campanha da Fraternidade, a Igreja convida a todos para sermos irmãos e irmãs pois temos um só Deus que é Pai e Mãe de misericórdia e de Paz!

Que o Senhor da Vida nos ilumine e nos acompanhe nessa nova missão em comunhão com todas as igrejas irmãs da província eclesiástica de Cuiabá, e as do regional Norte 3, com que partilhamos a caminhada pastoral; juntos queremos assumir a missão à luz da mesma Fé, animados pela mesma esperança e impelidos a sermos no mundo testemunhas credíveis da Caridade de Cristo.

Peço a vocês todos que me abençoem e rezem por mim!

Deus abençoe a cada um de vocês!

Grande e fraterno abraço!

Pe. Lúcio Nicoletto

Bispo eleito de São Felix do Araguaia -MT

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