domingo, 28 de abril de 2024

Dom Leonardo: “Unidos a Cristo, nos tornamos uvas saborosas e vinho generoso”


Lembrando que “a liturgia pascal continua a nos oferecer o júbilo do Ressuscitado e a frutificação de nossa vida nele”, iniciou o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner a homilia do quinto Domingo da Páscoa, em que “celebramos a alegre e frutuosa união e comunhão com Jesus Cristo. Uma união tão estreita, íntima e profunda como a que existe, entre a videira e seus ramos”.

Dom Leonardo mostrou que “Jesus se apresenta como a videira, o pé de uva, que assegura vida aos ramos, para que eles possam produzir frutos, frutos abundantes e saborosos. Ele a videira à qual estamos ligados, nele nascemos como seus ramos. Seus ramos somos, pois intimamente pertencentes a Ele, caminho verdade e vida. Ele Vida da nossa vida. Sem Ele, nós não vivemos, morremos. Ao permanecer nele recebemos o necessário para permanecer a caminho e, ao mesmo tempo, darmos fruto. Eu sou a videira, diz Jesus. Vivermos da videira e para a videira (Jo 15,1-8)”.

Segundo o arcebispo, “a parábola da videira, é símbolo de força vital, é a imagem, símbolo da beleza e do dinamismo da comunhão de Jesus com os seus discípulos e com cada um de nós”. Ele recordou que “Jesus diz: ‘Eu sou a videira, vós os ramos (Jo 15,5)’, e não ‘Vós sois a videira’. Talvez, Jesus esteja a nos ensinar: assim como os ramos estão ligados à videira, assim também vós estais ligados a mim!” Isso porque “pertencer a Jesus, estar ligado a Jesus, é estarmos ligados uns aos outros. Assim como Cristo nos alimenta com sua vida, somos convidados a alimentar a vida dos irmãos e irmãs. Na imagem da videira nós pertencemos a Jesus e pertencemos uns aos outros. Pertencimento de vida, de vitalidade, de grandeza transformativa”.

Inspirado em Santo Agostinho, o cardeal Steiner lembrou que o santo de Hipona “nos ensina que os ramos estão na videira de tal sorte que em nada a ajudam para comunicar-lhes a vida, mas dela recebem a vida para permanecerem verdejantes e poderem frutificar. A videira está nos ramos para comunicar-lhes a vida, não para receber a vida dos ramos. Assim, tendo a Cristo em si e permanecemos em Cristo. Por isto Cristo acrescenta: “Assim com ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim”. Grande prova em favor da graça! Alenta aos corações humildes e abate os soberbos. Porventura não resistem à verdade aqueles que julgam desnecessária a ajuda divina para praticar as boas obras e, antes de ilustrar sua vontade, precipitam-na? Porque aquele que considera que pode dar fruto por si mesmo certamente não está na videira; e o que não está na videira não está em Cristo; e o que não está em Cristo não é cristão”.



Citando o texto do Evangelho: “Permanecei em Mim e eu permanecerei em vós”, dom Leonardo disse que “o desejo de Jesus de permaneçamos nele é tão forte e insistente que Ele, nessa pequena parábola, usa por onze vezes o verbo permanecer. Sabendo das nossas dificuldades e das nossas infidelidades Jesus insiste: ‘permanecei em mim’. Permanecei em mim na alegria, na realização, na fidelidade, nos sonhos realizados e por realizar; permanecei em mim na tristeza, na frustração, na infidelidade; permanecei em mim na dúvida, na dor, na morte! Permanecei sempre em mim para que eu possa dar-vos a vida; uma vida em plenitude!”. Isso porque “do mesmo modo que o ramo não pode produzir fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim”, citando o texto do Evangelho.

Seguindo as palavras de Papa Francisco, o cardeal disse que “Permanecer na videira, permanecer em Jesus, não é algo passivo. Permanecer é ativo, uma ação de Jesus em nós, e o nosso movimento de permanecermos nele. Ele permanece em nós, jamais se distancia, sempre nos oferecendo a seiva da vida. Trata-se de um permanecer recíproco, como ele nos ensina: ‘Eu e o Pai viremos a ele e nele faremos morada’ (Jo 14,23). Sem a videira os ramos nada podem fazer, pois não recebem a seiva, necessitam da seiva para crescer e dar fruto. Mas também a árvore, a videira, precisa dos ramos, porque os frutos não estão ligados à árvore, à videira, mas aos ramos. É uma necessidade recíproca, é um permanecer mútuo para dar fruto”.

“O desejo de Jesus de que permaneçamos nele vem da verdade de que os ramos estão ligados à planta e dela recebem a vida. Os ramos dependem da videira. Uma dependência benfazeja, gratuita: estamos em Jesus e Ele em nós. Nós, como recebedores, Ele como doador da vida, do amor. Ele, o amor, a agir em nós, a Vida da vida a nos alimentar. Jesus a nos vivificar, transfigurar”, disse o arcebispo. Segundo ele, “É a sua presença em nós: ‘Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto’. Mas também nos darmos conta de que: ‘nada podeis fazer sem Mim’. Ao nos separarmos dele secamos, perdemos o horizonte, o sentido de viver. Vivemos de qualquer forma, nos tornamos ramos secos. Permanecendo em Jesus a nossa vida tem sabor de eternidade”.

Segundo o presidente do Regional Norte1 da CNBB, o permanecer em Jesus é a possibilidade de Deus nos cultivar, cuidar: ‘Todo ramo que em mim não dá fruto, ele o corta; e todo o ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais furto ainda’”. Ele lembrou o que nos diz Santo Agostinho: “cultivamos (cultuamos) a Deus e Deus nos cultiva. Mas cultivamos (cultuamos) o Senhor não para torná-lo melhor; cultivamo-lo adorando e não arando. Mas quando ele nos cultiva nos faz melhores, pois sua cultura consiste em não cessar de extirpar com sua palavra todas as más sementes que se arraigam em nossos corações, de abri-lo com o arado da pregação, de nele plantar as sementes de seus mandamentos e de esperar os frutos da piedade”. O cardeal afirmou que Unidos a Cristo, nos tornamos uvas saborosas e vinho generoso. Deus sabe transformar em amor a nossas dificuldades e fraquezas. Decisivo é permanecermos na videira, em Cristo, e nos deixarmos cultivar. Deus, como que trabalhando em nós, nos cultivando e, assim nossa vida ser abundante, até chegar à plenitude”.



Permanecer na videira recebendo a seiva vivificadora e transformativa é a possibilidade de uma vida frutuosa. Nos alimentarmos da Palavra de Deus, da Eucaristia, da seiva que dá vida à comunidade. A seiva da videira nos transforma quando nos deixamos impregnar pelo modo de vida de Jesus, quando somos tomados pelo seu modo misericordioso. A seiva preciosa da misericórdia de que nos fala Jesus no Evangelho de Mateus: estive com fome, e me destes de comer; estive sede, e me destes de beber; fui estrangeiro, e me acolhestes; estava nu me vestistes; estive enfermo, e cuidastes de mim; estive preso, e me visitastes. O que fizestes a um dos menores irmãos, foi a mim que fizestes (cf. 25,35-45)”, afirmou o arcebispo.


Dom Leonardo ressaltou que “permanecer em Jesus, com Jesus, certamente realiza o que vem dito na primeira leitura: A Igreja, consolidava-se e progredia no temor do Senhor e crescia em número com a ajuda do Espírito Santo (cf. At 9,31). As nossas comunidades serão sempre mais a presença da vida do Ressuscitado na medida que se deixa perpassar, fecundar pela seiva da vida nova. Comunidades frutuosas, consolidadas, consoladoras, cuidadoras que levam a vida do Ressuscitado aos que mais necessitam. A comunidade crescerá na medida que a seiva do Ressuscitado alimentar a todos. Em Cristo, todos nós estamos unidos, servindo uns aos outros. Na comunidade, Ele nos sustenta e, ao mesmo tempo, todos os membros se sustentam uns aos outros. Juntos resistimos às tempestades e oferecemos proteção uns aos outros. Não cremos sozinhos, cremos com a Igreja, de todo o lugar e tempo, com a Igreja do Céu e da terra”, inspirado nas palavras de Papa Bento XVI.

Citando o texto do Evangelho: “Nisto meu Pai é glorificado que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos”, ele disse que “o que glorifica meu Pai é a abundância de vossos frutos, mas também a fidelidade de serem discípulos de Jesus (cf. Jo 15,8). O convite para permanecer em Jesus se transforma em louvor e bendição! A glória do Pai, a alegria do Pai, que se revela em Jesus, se manifesta quando, em virtude da nossa permanência Nele, frutificamos em virtudes, em cuidado, em bondade, em generosidade, em disponibilidade para que todos tenham vida. A vida do Crucificado-ressuscitado. Por isso, frutificar na caridade, no perdão, na misericórdia, em justiça e paz”.

Ele lembrou que “na segunda leitura, São João nos ensinava: Este é o seu mandamento: nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu. Quem guarda os seus mandamentos permanece com Deus, e Deus permanece com ele. (cf. 1Jo 3,23-24)”. Analisando o texto, o cardal disse que “permanecer na videira, ser alimentado pela videira, nos diz São João, é vivermos do mandamento do amor. No amor permanecemos em Deus e Deus em nós. O ensinamento de Jesus, o seu modo de vida e de viver; o seu mandamento do amor! Assim, como a seiva é a fonte da vida dos ramos e das uvas das quais se extrai o vinho que dá saúde, vida e longevidade ao homem, do mesmo modo, Jesus é a alma, o ânimo dos membros do novo Povo de Deus”.

Finalmente, dom Leonardo fez um convite: aproximemo-nos sempre mais de Jesus, deixemos que ele nos fecunde com sua vida, com seu amor. Nele frutificarmos sempre. Sermos sempre ramos viçosos, verdejantes que com frutos saborosos que se transforma em vinho inebriante!”, pedindo que “Deus nos conceda a graça de jamais nos separarmos de Jesus, para que a nossa vida permaneça viçosa e frutuosa”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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