Lembrando as palavras de Papa Francisco iniciou o arcebispo
de Manaus, cardeal Leonardo Steiner o comentário às leituras do 17º Domingo do
Tempo Comum: “Jesus não cria os pães e os peixes a partir do nada, não, mas
opera a partir do que os discípulos lhe trazem. Um deles diz: Está aqui um
menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes: mas que é isso para tanta
gente? (v. 9). É pouco, é nada, mas a Jesus é suficiente”.
“O menino saiu de casa na busca de
Jesus. Como não sabia o tempo do encontro, toma cinco pães e dois peixes e
pôs-se a caminho. Entra na multidão que busca o outro lado e desperta para a
grandeza do outro lado de sua vida ao oferecer o que tinha, o que significa
fazer parte da vida de Jesus”, disse dom Leonardo, comentando a passagem
bíblica.
“Jesus no evangelho de João nos
oferecendo mais uma vez o outro lado. E uma multidão que busca o outro lado.
Busca o outro, pois via os sinais que Jesus oferecia em favor dos doentes, dos
enfermos”, lembrou o cardeal. Segundo ele, “a palavra para ‘enfermo’, em grego,
tem a significação de ‘frágil’, ‘débil’, ‘não firme’. Enfermos os que se
percebem frágeis, não firmes no corpo e no espírito. Muitas são a enfermidades
que nos colocam na condição de fragilidade, de desencorajamento, do desenraizamento,
da incapacidade de reagir, de perder a percepção do dom da vida, da
convivência. Muitas as enfermidades que nos tolhem os passos, nos encurtam os
braços nos não abraços, fazem desaparecer as mãos que já não se estendem na
busca da entrega, da doação. Sim, a debilidade, a fragilidade da nossa
humanidade a buscar em Jesus o ânimo e as forças para continuar o caminho.”
“E viam os sinais da força e do
ânimo que todos recebiam de Jesus. Começaram a dar-se conta que estar na
presença de Jesus, em contato com ele, sentiam um vigor: que os fracos
revigoravam, tornavam-se firmes. Mas, as curas, mais que milagres, eram ‘sinais’,
lampejos, cintilações aos enfermos da cura da debilidade da fé”, destacou o
arcebispo de Manaus.
Lembrando que “Jesus conduz a
todos até o monte”, que “deseja elevar, aliviar!”, o cardeal Steiner disse que “caminham
até o monte onde todos podem participar do banquete do outro lado: a
partilha, a repartição e na repartição do pouco a abundância do pouco que leva
a um novo estilo de vida, onde sempre há tudo para todos.”
Olhando para o texto, o presidente
do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
destacou que “erguendo os olhos e vendo que uma grande multidão, Jesus disse a
Felipe: Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?”. Diante disso, “Felipe
por não ter compreendido o outro lado, respondeu: ‘Nem duzentas moedas de prata
bastariam para dar um pedaço de pão a cada um’. Felipe não encontra saída no
seu pensar e calcular. Das suas mãos e coração vazio, permanece no vazio da
pergunta de Jesus. Filipe busca fora o que deveria buscar em si mesmo.
Ele pensa na compra, em números. Ele está ali parado vendo a multidão e não
consegue ajudar a Jesus nos sinais de quem estava no outro lado. Ele ali quase
ingênuo na incapacidade de oferecer algo. Ele mãos vazias, vendo com Jesus a
necessidade, a enfermidade, a debilidade, sem conseguir sair ao encontro da
multidão! Felipe vê uma multidão, Ele vê a cada um na multidão e sofre por não
poder um pedaço de pão para cada uma das pessoas que ali estavam, necessitadas,
desalojadas”, comentou dom Leonardo Steiner.
“E no calcular de Felipe se contrapõe um menino que se colocara a caminho com cinco pães e dois peixes”, sublinhou o cardeal, afirmando que “também não era suficiente para alimentar a todos, mas era o que ele tinha. E ofereceu. Sem nada ficou, ele que também estava a caminho com toda a multidão. Nós até o vemos na sua simplicidade e candura a dizer: olha tenho cinco pães e dois peixes, se ajudar... E na oferta deu tudo. Sem nada ficou, tudo deu. E nós o vemos satisfeito por ter entregado o que tinha. Saíra de casa na busca de Jesus, e como não sabia o tempo do caminho, previdente, toma cinco pães e dois peixes e se faz caminho.”
Identificando atitudes, o
arcebispo de Manaus disse que “Jesus, ao ver compadeceu-se, o menino ao ver
compadeceu-se. Jesus viu e buscou para oferecer, o menino viu e chegou para
oferecer. Na oferta Jesus saciou uma multidão, tocado pela compaixão,
compadecido. A compaixão que o aproximou das pessoas agora o faz entregar o seu
compadecimento: levou-o a oferecer o que possuía. Jesus vê as necessidades mais
básicas, o menino vê. As pessoas sentem fome e Jesus desperta os discípulos a
saciarem a fome. Jesus não se limitou a oferecer a sua Palavra, a sua
consolação, a sua salvação, a sua vida, mas cuidou da alimentação para o corpo.
O menino dos cinco pães compreendeu esta compaixão, e, como se dissesse: ‘pobres
e famintos! E eu com cinco pães e dois peixes’. Não resiste, não se contém e
num salto entrega!”
Segundo o cardeal Steiner, “somos essa multidão necessitada no corpo e no espírito. Certamente mais no espírito que no corpo. E Jesus nos conduz para o outro lado e a nos convidar como o menino a repartir, cuidar, confraternizar com o pouco, o quase nada de cada um, com os mais necessitados. Uma disponibilidade, uma generosidade, uma espontaneidade infantil que oferece; a candura do dar sem reter.”
Uma situação que segundo dom
Leonardo, nos lembra Papa Francisco: “O amor de Deus pela humanidade faminta de
pão, de liberdade, de justiça, de paz e, sobretudo, da sua graça divina, nunca
esmorece. Jesus continua também hoje a alimentar, a tornar-se presença viva
e consoladora, através de nós. Portanto, o Evangelho convida-nos a
permanecer disponíveis e laboriosos, como aquele jovem que se dá conta de que
tem cinco pães, e diz: “Ofereço isto, vê o que podes fazer...”. Face ao grito
de fome — todos os tipos de “fome” — de tantos irmãos e irmãs no mundo inteiro,
não podemos permanecer espectadores indiferentes e tranquilos. O anúncio de
Cristo, pão da vida eterna, exige um esforço generoso de solidariedade em prol
dos pobres, débeis, últimos e indefesos. Esta ação de proximidade e caridade é
a melhor confirmação da qualidade da nossa fé, quer a nível pessoal, quer
comunitário.”
“Diante do grito de fome, todos
os tipos de fome, dos irmãos e irmãs não podemos permanecer como espectadores
distantes e tranquilos. O milagre
não se realiza a partir do nada, mas de uma primeira partilha modesta daquilo
que um menino possuía. Jesus não nos pede aquilo de que não dispomos, mas
faz-nos ver que se cada um oferecer o pouco que tiver, pode realizar-se sempre
de novo o milagre: Deus é capaz de multiplicar o nosso pequeno gesto de amor e
tornar-nos partícipes do seu dom”, disse o arcebispo de Manaus inspirado nas
palavras de Papa Bento XVI.
Na
primeira leitura, o cardeal Steiner destacou “que os dons recebidos são para
os outros. A primeira colheita, os pães novos da cevada nova, era oferecida
como reconhecimento do dom recebido. E o profeta não guarda para si, mas pede
para repartir. Pouco para tanta gente? Mas, porque partilha-oferenda, todos
recebem e ainda há sobra: ‘comerão e ainda há de sobrar’ (2Re 4,42-44).
A generosidade, a liberalidade, a capacidade de compartilhar os bens, é
expressão do que seja mais humano. Os pães de cevada recebemos de Deus, através
da gratuidade da terra e do céu, bem como da capacidade de trabalhar. Os pães
recebidos da generosidade do trabalho e da terra, na doação generosa não nos
empobrecem! Na partilha generosa e gratuita nos elevamos em nossa humanidade e
dignidade. Deus que é dádiva doativa a nos provocar a ser como ele doação pura,
fonte de cuidado e misericórdia”.
Por sua vez, na segunda leitura,
destacou que “Paulo, a nos dizer que somos provocados a caminhar de acordo
com a vocação que recebemos. Um só
Corpo e um só Espírito, como também é uma só esperança para a qual fostes
chamados. Escrevendo da prisão, anima os
seguidores e seguidoras de Jesus permanecerem na paz que advém do Pai de todos.
Essa pertença, essa alma que anima conforta, alimenta a todos, pois todos na
mesma fé, no mesmo batismo, um só Deus e Pai de todos. Deus que reina sobre
todos, age por meio de todos e permanece em todos (cf. Ef 4,1-6). Os cinco
pães e dois peixes repartidos, multiplicados é a expressão da partilha e da
solidariedade, do modo de ser de Deus em relação a cada uma das criaturas. É
como se conseguíssemos entrever que nos cinco pães e dois peixes que
entregamos, aquele pouco e no pouco o tudo da viagem, Deus a se manifestar em
seu modo de amar e cuidar”.
“Na gratuidade do menino nos
damo-nos conta que hoje, confundimos riqueza com posse. Riqueza não são coisas.
Por isso, riqueza é o bem que se comunica gratuitamente, por toda a parte e
por todo o tempo, a modo de fonte. São a essas pessoas que Jesus denomina
pobres em espírito, pois ricos de gratuidade em nada possuir, em tudo oferecer”,
destacou o arcebispo. Segundo ele, “Pobre de espírito”, “bem-aventurado” (Cf.
Mt 5,3) “quem da riqueza distribui aos outros através da partilha, com gestos
de justiça, misericórdia, caridade fraterna”.
“Estamos a viver no desejo de
suprir o vazio do não-ser com a abundância do ter, com a acumulação de bens.
Estamos necessitados de sensibilidade para perceber que, quem é rico do ser
acolhe o não-ser sem precisar preencher seu vazio com o ter. Uma relação
baseada na economia baseada no lucro e na acumulação maciça por parte de
poucos, em detrimento da exploração e da indigência de muitos é, desde sua
origem, errada e errante. Está longe da ‘economia’ da salvação que é gratuita e
libertadora. Oxalá aprendamos a seguir o comando de Deus, mediante o profeta: ‘Dá-os (pães) a comer a essa gente, porque
assim fala o Senhor: ‘Comerão e ainda há-de sobrar’ (2Rs 4,42-43)”, disse o
arcebispo de Manaus.
Finalmente, ressaltou que “além da fome corpórea, que é angustiante do nosso tempo, existe a fome da solidariedade, da cultura, da saúde. Do aconchego, do perdão, da fraternidade. O Evangelho a nos propor que a salvação não está no muito que poucos possuem e retêm para si, mas no pouco de cada um, que é repartido generosa e gratuitamente entre todos. Jesus não está a oferecer esmola, mas desperta para a partilha dos pães e dos peixes. Como estivesse a nos dizer: quando há repartição, todos têm o necessário e ainda sobra.”
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB
Norte1
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