A escuta é
uma atitude muito importante no Dicastério para o Desenvolvimento Humano
Integral. Ouvir as igrejas locais para estar perto dos territórios e poder
acompanhá-las melhor é algo comum, que teve mais um episódio na reunião entre o prefeito do Dicastério, Cardeal Michael Czerny, a coordenadora regional para as
Américas, Cecilia Barja, e as igrejas locais do Regional Norte1, onde estavam
presentes alguns dos bispos, a secretária executiva do Regional, o coordenador
pastoral da Arquidiocese de Manaus e o reitor do Seminário São José.
O ponto de
partida foi uma pergunta: O que impede uma vida digna para as pessoas em suas
dioceses? Os participantes da reunião descreveram a situação em cada igreja
local. Uma realidade marcada pela presença de uma grande diversidade de povos
indígenas, dos que muitos agradecem à Igreja por ter lhes ajudado em seu
processo educativo, que hoje lhes permite ser estudantes universitários, mas
também com muitos deles ameaçados pelo drama da bebida alcoólica, que cria
dependência entre os jovens, destruindo a vida das comunidades. Nessas
comunidades, como acontece na diocese de São Gabriel da Cachoeira, o suicídio,
sobretudo dos jovens, é uma realidade muito presente.
Igrejas com dificuldades financeiras, com insuficiência de clero e Vida Religiosa, que tem grande participação do laicato, com uma experiência dos ministérios muito positiva, que acompanha as periferias, os migrantes e os povos indígenas, cada vez mais ameaçados pelo Marco Temporal, que nega os direitos reconhecidos na Constituição brasileira. Uma região onde as mudanças climáticas têm impactado cada vez mais no povo, provocando o empobrecimento do povo e dificuldade para a Igreja se fazer presente nas comunidades. Uma região onde o narcotráfico exerce um controle cada vez maior, aumentando o uso de drogas, de álcool e a violência contra mulheres e crianças.
No Regional
Norte1 é cada vez mais evidente e estado mínimo por parte do poder público,
pudendo se falar de governos truculentos, manipulados por grupos de poder, que
acabam enfraquecendo todas as políticas públicas. Isso se traduz em condições
de moradia muito precárias, ocupações nas periferias dominadas pelo
narcotráfico, sucateamento da saúde, e talvez de modo proposital, um
sucateamento da segurança pública. A mobilidade humana é muito grande e muitas
pessoas vivem nas ocupações em condições inumanas, tendo se dado um aumento dos
pedintes, da população de rua, da fome, do trabalho informal, motivado pelo
esvaziamento do poder público sem serviços sociais.
O garimpo
ilegal é uma ameaça, difícil de ser combatido, cooptando os indígenas e as
comunidades ribeirinhas. Um fenómeno ligado ao narcotráfico, ao tráfico de
mulheres, a exploração sexual. Além disso, a contaminação provocada pelo
garimpo provoca problemas neurológicos. Os migrantes sofrem violência nos
centros de acolhida governamentais, muitas mulheres não querem ficar mais lá,
muitos vivem na rua, e são vítimas de situações análogas ao trabalho escravo.
Em algumas regiões, o turismo está ligado à exploração sexual e biopirataria.
As queimadas, motivadas pelo grande avanço do agronegócio, é outra realidade
presente.
As igrejas
do Regional Norte1 têm se empenhado em acompanhar as crianças e adolescentes
vítimas de abuso sexual, existindo grande comunhão das dioceses para acompanhar
e superar essa situação. Nos próximos messes, será inaugurada em Manaus uma
casa de acolhida com essa finalidade de atendimento, onde também serão
atendidas crianças das outras igrejas locais. Os bispos insistem em que as
igrejas estão muito engajadas em dar sua contribuição para superar esse
problema.
Diante
dessa conjuntura, o Cardeal Michael Czerny afirmou que o peso dos problemas é
muito grande. O prefeito do dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, afirmou
que, do ponto de vista do dicastério, “não estamos lá para resolver os
problemas, mas para acompanhar os processos que, em última análise, devem ser
resolvidos pelo povo”. Do ponto de vista do Dicastério, o desafio é realizar um
acompanhamento adequado e criativo. Em vista das enormes necessidades, o
Cardeal Czerny destacou que é algo que “me deixa sem palavras”, agradecendo aos
participantes pelo que compartilharam. Nesse sentido, “esperamos poder ajudar
de alguma forma e descobrir precisamente o que podemos oferecer para ajudar no
trabalho pastoral de acompanhar essas pessoas para que possam viver uma nova
realidade”, destacou.
Relembrando
sua presença no Panamá nos últimos dias, onde participou de um encontro
regional para uma pastoral migratória coordenada da Colômbia ao Canadá, ele
enfatizou que foi “uma reunião positiva por causa da possibilidade de ajudar
além das dioceses e dos países”. Uma oportunidade para aproveitar a realidade,
para ser uma Igreja que colabora mantendo a diversidade, um ponto-chave da
reforma do Papa Francisco. Nesse sentido, ressaltou que “escutar uns aos outros
já ajuda nesse sentido”, destacando a possibilidade de caminhar juntos,
tornando a sinodalidade uma realidade.
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