domingo, 4 de agosto de 2024

Dom Leonardo: “Como as pessoas que buscam a Jesus, também nós estamos a caminho, estamos à procura”


No 18º Domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1), iniciou sua homilia destacando “a Palavra de Deus a nos conduzir para dentro do mistério do verdadeiro alimento, do Pão verdadeiro, o Pão da vida eterna”. Segundo ele, “a presença de Deus em Jesus nas terras da Galileia era cheia de sabedoria e misericórdia. Jesus curava, ensinava, transformava. Tornou-se um profeta, um consolo, uma proximidade. O Evangelho a nos ensinar que Jesus se apresenta como sustentá-lo do caminho, como razão da vida, pois alimento transformativo e plenificador”, lembrabdo que Ele se apresenta hoje como o “verdadeiro pão do céu que o Pai dá. Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”.


A multidão que procura a Jesus e o segue para outro lado. Necessitada de direção, faminta, busca alguém que cuide. As pessoas, depois dos pães e dos peixes, continuam a buscar a Jesus que desaparecera. Colocam-se a caminho, buscam e o encontram em Cafarnaum, na vila da compaixão”, afirmou o cardeal Steiner. É por isso que “quando o encontram perguntam: quando chegaste aqui? Ele não responde, pois percebe que as pessoas o procuram pelo pão e os peixes. Por isso, alerta: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará.” 


Nessa situação, “saciada a fome física, Jesus anuncia o pão que desceu do céu (cf. Jo 6,41), que sacia de modo definitivo a vida humana. Apresenta-se como o verdadeiro pão que desceu do céu, capaz de manter em vida não por um momento ou durante um trecho do caminho, mas para a eternidade. Ele é o alimento de vida eterna, porque é o Filho unigênito de Deus, vindo para doar a vida em plenitude, para introduzir na vida do próprio Deus”, disse o arcebispo de Manaus.


Citando Santo Agostinho, o cardeal ressaltou que nos faz perceber o verdadeiro alimento ao ensinar a partir do evangelho que escutamos: “Vós me buscais não porque vistes os sinais, mas porque comestes aqueles pães. Procurai não o alimento que perece, mas o nutrimento que permanece para a vida eterna. Vos me buscais por outra coisa; deveis ao contrário buscar a mim por mim mesmo. Jesus indica este alimento é ele, como se evidencia no que segue: e que o Filho do homem vos dará. Esperavas, creio eu, sentar novamente para comer uma vez mais o pão para engordar. Mas ele fala do alimento que não se perde, que permanece para a vida eterna, como havia afirmado primeiro à Samaritana: ‘Se tu soubesses quem é aquele que te pede de beber, talvez, tu pedirias pedido a ele, e ele te daria água viva’. (...) Ele respondeu: se tu soubesses quem é aquele que te pede de beber, certamente tu terias pedido a ele, e ele daria a água viva, que dela bebe não terá mais sede; mas quem bebe desta água ainda terá sede. E aquela mulher, que estava cansada de andar em busca de água, se alegrou e expressou o desejo de receber aquele dom, esperando que assim não haveria mais de padecer a sede do corpo. E assim através do diálogo, veio à bebida espiritual. O Senhor usa aqui o mesmo método.” (Santo Agostinho, Comentário ao Evangelho de São João, 25,11)





As pessoas que buscam a Jesus, estavam distantes daquele pão celeste, e eram incapazes de sentir fome dele. A boca do coração estava enferma... Com efeito, este pão exige a fome interior do homem”, disse inspirado novamente no santo de Hipona. “Somente quem é atraído por Deus Pai, quem o ouve e se deixa instruir por Ele pode acreditar em Jesus, encontrá-lo e alimentar-se dele para ter a vida em plenitude, a vida eterna”, afirmou o cardeal, que lembrou as palavras do Papa Bento: “O Senhor... afirmou que é o pão descido do céu, exortando-nos a crer nele. Com efeito, comer o pão vivo significa acreditar nele. Quem crê, come; é saciado de modo invisível, e igualmente de modo invisível renasce. Ele renasce a partir de dentro e, no seu íntimo, torna-se um homem novo.”


Dom Leonardo sublinhou que “como as pessoas que buscam a Jesus, também nós estamos a caminho, estamos à procura. Procuramos felicidade, plena realização, vida plena”. Citando o Comentário ao Evangelho dos Dehonianos, disse: “Temos fome de vida, de amor, de felicidade, de justiça, de paz, de esperança, de transcendência e procuramos, de mil formas, saciar essa fome; mas continuamos sempre insatisfeitos, tropeçando na nossa finitude, em respostas parciais, em tentativas falhas de realização, em esquemas equívocos, em falsas visões de felicidade e de realização, em valores efêmeros, em propostas que parecem sedutoras, mas que só geram escravidão e dependência. E Jesus a nos indicar o caminho: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará”. Como nos aconselhar nos abrir para o alimento que plenifica, transforma, vivifica, transfigura: o pão da vida eterna, Jesus. Ele o “pão de Deus que desce do céu para dar a vida ao mundo”. “Eu sou o pão da vida”! A sua vida na nossa vida, a nossa vida alimentada da vida de Jesus!! Talvez, por isso acrescenta: “Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede.

Na primeira leitura o cardeal Steiner destacou que “o livro do Êxodo (16,2-4.12-15) a nos recordar o cuidado de Deus para com o seu povo no oferecer o alimento no deserto. O caminho da liberdade rumo à terra da promessa era exigente e despojado. Começam a murmurar contra Deus que os conduzia pelo deserto. No deserto, na falta de tudo, o povo sente saudades da escravidão. A falta de alimento e de água criou uma situação crítica e tensa, a tal ponto que colocam em dúvida a liberdade e a busca da terra da Promessa. Chegam a dizer que vida de escravidão era melhor, porque tinham carne e pão. Esquecem que viviam sem o pão e a carne da liberdade. No meio do sofrimento e do esquecimento, perdem a direção, o sentido, a confiança. Voltam ao passado no esquecimento da perda da liberdade e da dignidade de ser um povo”.



Segundo o arcebispo, “não basta buscar a liberdade de ser livre de um opressor, de um vício, de uma doença. A verdadeira libertação inclui ser livre para a autonomia de doar-se a um compromisso, a uma responsabilidade, a uma relação de confiança, no meio do deserto da vida. Essa libertação é difícil e mortal, pois transformação, terra nova, uma conquista na pobreza, no despojamento. Uma liberdade de espera, na certeza de que Deus cuida. À tardinha, o acampamento se encheu de codornizes e de manhãzinha a terra, ao redor do acampamento, se cobriu com uma camada de orvalho que depois se transformou em grãos semelhantes aos grãos de neve. Apesar da murmuração, da confusão, do desânimo, Deus é fidelíssimo em relação ao seu povo”, disse citando o texto do Éxodo: “assim, sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus”.

“Irmãs e irmãos a Eucaristia alimenta os caminhantes, os buscantes, os cansados e famintos ao longo do caminho! No deserto da vida é o Pão descido do céu a nos alimentar, confortar e conduz. A Eucaristia não é para os perfeitos e os puros, mas é para justos e pecadores. Nós com nossas necessidades nos aproximamos da Eucaristia e suplicamos com as mãos estendias: Vem, Jesus, Pão do céu!”, afirmou.

Na segunda leitura, o cardeal destacou que “São Paulo a nos pedir para renunciar a vida do passado e a nossa humanidade envelhecida, como possibilidade de recebimento de espírito novo, renovado, uma mentalidade livre e libertadora. Pede que nos revestamos de uma nova humanidade criada à imagem de Deus em verdadeira justiça e santidade (Ef 4, 20-24). Jesus a nova humanidade a nos indicar o novo modo de vida, o pão a nos alimentar e sustentar no caminho. Ele o pão descido do céu nosso verdadeiro alimento que dispensa o alimentado do passado, pois vida nova”. Ele lembrou que talvez, por isso santo Agostinho exclama diante do alimento da eternidade: “Que segredo íntimo é este que nunca se afasta? Admirável intimidade e doce solitude! Ó segredo sem tédio, não amargurado por pensamentos inadequados, não molestado por tentações e por dores. Não é por acaso aquele íntimo segredo para o qual entrará aquele a quem o Senhor dirá, como ao servo fiel: Participa da alegria do teu Senhor?” (Comentário ao Evangelho de Mateus, 25,14).

Finalmente, o presidente do Regional Norte1 disse que “participaremos da alegria de Jesus e sermos, também nós, Eucaristia: doação, alimento. Porque não podes partir o Pão do domingo, se o teu coração estiver fechado aos irmãos, nos ensina Papa Francisco. Não podes comer este Pão, se não deres o pão aos famintos. Não podes partilhar deste Pão, se não partilhas os sofrimentos de quem passa necessidade. Repartamos a nossa vida na compaixão e na solidariedade, para que o mundo veja, através de nós, a grandeza do amor de Deus. E então o Senhor virá, surpreender-nos-á de novo fazendo-se alimento para a vida do mundo. E saciar-nos-á para sempre, até ao dia em que, no banquete do Céu, contemplaremos o seu rosto numa alegria sem fim.”



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1


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