No 18º Domingo do Tempo Comum, o arcebispo
de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB Norte1), iniciou sua homilia destacando “a Palavra de Deus a nos
conduzir para dentro do mistério do verdadeiro alimento, do Pão verdadeiro, o
Pão da vida eterna”. Segundo ele, “a presença de Deus em Jesus nas terras da
Galileia era cheia de sabedoria e misericórdia. Jesus curava, ensinava,
transformava. Tornou-se um profeta, um consolo, uma proximidade. O Evangelho a
nos ensinar que Jesus se apresenta como sustentá-lo do caminho, como razão da
vida, pois alimento transformativo e plenificador”, lembrabdo que Ele se
apresenta hoje como o “verdadeiro pão do céu que o Pai dá.
Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”.
“A multidão que procura a Jesus e o
segue para outro lado. Necessitada de direção, faminta, busca alguém que cuide.
As pessoas, depois dos pães e dos peixes, continuam a buscar a Jesus que
desaparecera. Colocam-se a caminho, buscam e o encontram em Cafarnaum, na vila
da compaixão”, afirmou o cardeal Steiner. É por isso que “quando o encontram
perguntam: quando chegaste aqui? Ele não responde, pois percebe que as pessoas
o procuram pelo pão e os peixes. Por isso, alerta: “Em verdade, em verdade, eu
vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes
pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas
pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos
dará.”
Nessa situação, “saciada a fome física, Jesus anuncia o pão
que desceu do céu (cf. Jo 6,41),
que sacia de modo definitivo a vida humana. Apresenta-se como o verdadeiro pão
que desceu do céu, capaz de manter em vida não por um momento ou durante um
trecho do caminho, mas para a eternidade. Ele é o alimento de vida eterna,
porque é o Filho unigênito de Deus, vindo para doar a vida em plenitude, para
introduzir na vida do próprio Deus”, disse o arcebispo de Manaus.
Citando Santo Agostinho, o cardeal
ressaltou que nos faz perceber o verdadeiro alimento ao ensinar a partir do
evangelho que escutamos: “Vós me buscais não porque vistes os sinais, mas
porque comestes aqueles pães. Procurai não o alimento que perece, mas o
nutrimento que permanece para a vida eterna. Vos me buscais por outra coisa;
deveis ao contrário buscar a mim por mim mesmo. Jesus indica este alimento é
ele, como se evidencia no que segue: e que o Filho do homem vos dará. Esperavas,
creio eu, sentar novamente para comer uma vez mais o pão para engordar. Mas ele
fala do alimento que não se perde, que permanece para a vida eterna, como havia
afirmado primeiro à Samaritana: ‘Se tu soubesses quem é aquele que te pede de
beber, talvez, tu pedirias pedido a ele, e ele te daria água viva’. (...) Ele
respondeu: se tu soubesses quem é aquele que te pede de beber, certamente tu
terias pedido a ele, e ele daria a água viva, que dela bebe não terá mais sede;
mas quem bebe desta água ainda terá sede. E aquela mulher, que estava cansada
de andar em busca de água, se alegrou e expressou o desejo de receber aquele
dom, esperando que assim não haveria mais de padecer a sede do corpo. E assim
através do diálogo, veio à bebida espiritual. O Senhor usa aqui o mesmo
método.” (Santo Agostinho, Comentário ao Evangelho de São João, 25,11)
“As pessoas que buscam a Jesus, estavam
distantes daquele pão celeste, e eram incapazes de sentir fome dele. A boca do
coração estava enferma... Com efeito, este pão exige a fome interior do homem”,
disse inspirado novamente no santo de Hipona. “Somente quem é atraído por Deus
Pai, quem o ouve e se deixa instruir por Ele pode acreditar em Jesus,
encontrá-lo e alimentar-se dele para ter a vida em plenitude, a vida eterna”,
afirmou o cardeal, que lembrou as palavras do Papa Bento: “O Senhor... afirmou
que é o pão descido do céu, exortando-nos a crer nele. Com efeito, comer o pão
vivo significa acreditar nele. Quem crê, come; é saciado de modo invisível, e
igualmente de modo invisível renasce. Ele renasce a partir de dentro e, no seu
íntimo, torna-se um homem novo.”
Dom Leonardo
sublinhou que “como as pessoas que buscam a Jesus, também nós estamos a
caminho, estamos à procura. Procuramos felicidade, plena realização, vida plena”.
Citando o Comentário ao Evangelho dos Dehonianos, disse: “Temos fome de vida, de
amor, de felicidade, de justiça, de paz, de esperança, de transcendência e
procuramos, de mil formas, saciar essa fome; mas continuamos sempre
insatisfeitos, tropeçando na nossa finitude, em respostas parciais, em
tentativas falhas de realização, em esquemas equívocos, em falsas visões de
felicidade e de realização, em valores efêmeros, em propostas que parecem
sedutoras, mas que só geram escravidão e dependência. E Jesus a nos indicar o
caminho: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que
permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará”. Como nos
aconselhar nos abrir para o alimento que plenifica, transforma, vivifica,
transfigura: o pão da vida eterna, Jesus. Ele o “pão de Deus que desce do céu
para dar a vida ao mundo”. “Eu sou o pão da vida”! A sua vida na nossa vida, a
nossa vida alimentada da vida de Jesus!! Talvez, por isso acrescenta: “Quem vem
a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede.”
Na primeira leitura o cardeal Steiner destacou que “o livro do Êxodo (16,2-4.12-15) a nos recordar o
cuidado de Deus para com o seu povo no oferecer o alimento no deserto. O
caminho da liberdade rumo à terra da promessa era exigente e despojado. Começam
a murmurar contra Deus que os conduzia pelo deserto. No deserto, na falta de
tudo, o povo sente saudades da escravidão. A falta de alimento e de água criou
uma situação crítica e tensa, a tal ponto que colocam em dúvida a liberdade e a
busca da terra da Promessa. Chegam a dizer que vida de escravidão era melhor,
porque tinham carne e pão. Esquecem que viviam sem o pão e a carne da
liberdade. No meio do sofrimento e do
esquecimento, perdem a direção, o sentido, a confiança. Voltam ao passado no
esquecimento da perda da liberdade e da dignidade de ser um povo”.
Segundo o arcebispo, “não basta buscar a liberdade de
ser livre de um opressor, de um vício, de uma doença. A verdadeira libertação
inclui ser livre para a autonomia de doar-se a um compromisso, a uma
responsabilidade, a uma relação de confiança, no meio do deserto da vida. Essa
libertação é difícil e mortal, pois transformação, terra nova, uma conquista na
pobreza, no despojamento. Uma liberdade de espera, na certeza de que Deus
cuida. À tardinha, o acampamento se encheu de codornizes e de manhãzinha a
terra, ao redor do acampamento, se cobriu com uma camada de orvalho que depois
se transformou em grãos semelhantes aos grãos de neve. Apesar da murmuração, da
confusão, do desânimo, Deus é fidelíssimo em relação ao seu povo”, disse citando
o texto do Éxodo: “assim, sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus”.
“Irmãs
e irmãos a Eucaristia alimenta os caminhantes, os buscantes, os cansados e
famintos ao longo do caminho! No deserto da vida é o Pão descido do céu a nos
alimentar, confortar e conduz. A Eucaristia não é para os perfeitos e os puros,
mas é para justos e pecadores. Nós com nossas necessidades nos aproximamos da
Eucaristia e suplicamos com as mãos estendias: Vem, Jesus, Pão do céu!”,
afirmou.
Na segunda leitura, o cardeal destacou que “São Paulo
a nos pedir para renunciar a vida do passado e a nossa humanidade envelhecida,
como possibilidade de recebimento de espírito novo, renovado, uma mentalidade
livre e libertadora. Pede que nos revestamos de uma nova humanidade criada à
imagem de Deus em verdadeira justiça e santidade (Ef 4, 20-24). Jesus a nova
humanidade a nos indicar o novo modo de vida, o pão a nos alimentar e sustentar
no caminho. Ele o pão descido do céu nosso verdadeiro alimento que dispensa o
alimentado do passado, pois vida nova”. Ele lembrou que talvez, por isso santo
Agostinho exclama diante do alimento da eternidade: “Que segredo íntimo é este
que nunca se afasta? Admirável intimidade e doce solitude! Ó segredo sem tédio, não amargurado por pensamentos
inadequados, não molestado por tentações e por dores. Não é por acaso aquele
íntimo segredo para o qual entrará aquele a quem o Senhor dirá, como ao servo
fiel: Participa da alegria do teu Senhor?” (Comentário ao Evangelho de Mateus,
25,14).
Finalmente, o presidente do Regional Norte1 disse que “participaremos
da alegria de Jesus e sermos, também nós, Eucaristia: doação, alimento. Porque
não podes partir o Pão do domingo, se o teu coração estiver fechado aos irmãos,
nos ensina Papa Francisco. Não podes comer este Pão, se não deres o pão aos
famintos. Não podes partilhar deste Pão, se não partilhas os sofrimentos de
quem passa necessidade. Repartamos a nossa vida na compaixão e na
solidariedade, para que o mundo veja, através de nós, a grandeza do amor de
Deus. E então o Senhor virá, surpreender-nos-á de novo fazendo-se alimento para
a vida do mundo. E saciar-nos-á para sempre, até ao dia em que, no banquete do
Céu, contemplaremos o seu rosto numa alegria sem fim.”
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