terça-feira, 8 de outubro de 2024

Assembleia Sinodal: “Todos se reconhecem, ninguém quer impor sua visão”


Três dos que serão criados cardeais no próximo dia 8 de dezembro, anunciados no domingo passado pelo Papa Francisco no Angelus, estavam presentes neste dia 8 de outubro na Sala Stampa. Foram eles o arcebispo de Porto Alegre (Brasil), presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM), Dom Jaime Spengler, o arcebispo de Tóquio (Japão), Dom Tarcisio Isao Kikuchi, e o arcebispo de Abidjan (Costa do Marfim), Dom Ignace Bessi Dogbo.

62.000 euros enviados a Gaza

Paolo Ruffini, relatando o que aconteceu na Sala do Sínodo, informou que foram arrecadados 32.000 euros para a paróquia de Gaza dos participantes da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI de 2 a 27 de outubro, além de outros 30.000 euros do Limosneria Apostólica. 62.000 euros já estão à disposição da paróquia, algo que foi agradecido em um vídeo, exibido na sala do Sínodo e depois para os jornalistas, no qual o pároco e os jovens agradeceram ao Papa e aos participantes do Sínodo pela ajuda.

Sete dos 14 membros da comissão para a elaboração do Documento Final da Assembleia foram eleitos, um para cada região em que o processo sinodal foi dividido. São eles o Cardeal Ambongo pela África, o Cardeal Rueda pela América Latina e o Caribe, Catherine Clifford pela América do Norte, o Padre Clarence Sandanaraj Davessan pela Ásia, o Cardeal Aveline pela Europa, Dom Mounir Khairallah pelas Igrejas Orientais e Dom Mackinlay para a Oceania. A eles se juntam os membros natos, os Cardeais Hollerich e Grech, e os Padres Riccardo Battochio e Giacomo Costa, e os três nomeados pelo Papa, o Padre Giuseppe Bonfrate, o Cardeal Filipe Neri António Sebastião do Rosário Ferrão e a Irmã Leticia Salazar.



Mesas linguísticas e intervenções livres

Seguiu-se o relatório das mesas linguísticas, uma novidade da Segunda Sessão, que destacou o que havia sido dito nos círculos menores, falando da Iniciação à Vida Cristã, da necessária conversão sinodal e da conversão das relações entre carismas e ministérios, de evitar o narcisismo clerical, de destacar o importante papel da Vida Religiosa, da instituição do ministério da escuta. Além disso, a importância da missão e dos contextos culturais.

Entre as intervenções livres, como relatou Sheila Pires, destacou-se a importância da conversão relacional e da cura das feridas dos escândalos na Igreja, a começar pelo abuso, sublinhando a importância da confiança para o fortalecimento do caminho sinodal. Também foi destacada a importância da teologia do Povo de Deus, da caridade, do amor pelos pobres e do valor da Eucaristia. Além disso, a importância da Iniciação Cristã em um mundo secularizado e da profecia, algo que envolve toda a comunidade. Mais uma vez, a assembleia foi desafiada a falar sobre o papel das mulheres na Igreja e um maior compromisso de acompanhar os recém-batizados. Por fim, a necessidade de uma linguagem compreensível para todos nos documentos da Igreja e do próprio Sínodo.

Bom ambiente na sala sinodal

Com relação à atmosfera desta Segunda Sessão, Mons. Dogbo enfatizou a importância dos relacionamentos, enraizados no batismo, que nos identifica com Cristo e nos permite relacionamentos fraternos. “O Sínodo nos permite viver essas relações com força, e estamos experimentando uma boa atmosfera”, destacou o arcebispo de Abidjan, sublinhando que nas mesas “todos se reconhecem, ninguém quer impor sua visão”, o que definiu como uma atmosfera eclesial. “Cada um reconhece no outro a presença de Cristo, e essa é a base do processo sinodal que estamos vivendo”, em uma Igreja onde cada um tem um lugar, vivendo a comunhão em vista da missão, algo que ele pediu para levar às dioceses e paróquias.



Necessidade de entender a sinodalidade

O arcebispo de Tóquio falou sobre o tempo entre as duas sessões no Japão, um tempo para “lançar as bases da sinodalidade”, insistindo na necessidade de entender o que é a sinodalidade como base sobre a qual construir, algo que não pode ser feito às pressas. Nesse sentido, Dom Kikuchi contou o que aconteceu na assembleia realizada no Japão, com a presença de representantes das 15 dioceses japonesas, praticando a conversação no Espírito, algo que ele considera necessário para construir as bases da compreensão de uma Igreja sinodal.

Nunca dizer não à Igreja

Por sua vez, Dom Jaime Spengler falou sobre a surpresa da notícia do último domingo. Ele disse que estava em seu quarto lendo um livro do cardeal Martini quando começou a receber mensagens de felicitações. O presidente da CNBB disse que não esperava essa nomeação, lembrando que o Brasil tem hoje 6 cardeais. O presidente do CELAM mostrou sua disposição em servir da melhor maneira possível. Nesse sentido, afirmou que ao ingressar na Ordem Franciscana assumiu algo que tem norteado sua vida: “nunca dizer não ao que a Igreja me pede”, promessa mantida ao longo de sua vida, algo que em alguns momentos foi muito difícil, às vezes levando-o a chorar, “mas com o passar do tempo, a promessa se mostrou algo saudável”, agradecendo ao Papa Francisco pela confiança depositada nele. Ele disse que espera poder colaborar com o Povo de Deus e com a Igreja neste momento complicado da história que estamos vivendo, que exige respostas adequadas.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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