Agora
podemos dizer que terminou a Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade,
não o Sínodo, que é um processo, não a Sinodalidade, que é um modo de ser
Igreja. O final coincidiu com uma missa na Basílica de São Pedro, na qual o
Papa Francisco foi mais uma vez preciso nas suas palavras, como tem sido nos
seus discursos desde 2 de outubro.
O modo de ser Igreja
“Irmãos e
irmãs: não uma Igreja sentada, mas uma Igreja de pé. Não uma Igreja muda, mas
uma Igreja que ouve o grito da humanidade. Não uma Igreja cega, mas uma Igreja
iluminada por Cristo, que leva a luz do Evangelho aos outros. Não uma Igreja
estática, mas uma Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas
do mundo”, sublinhou na sua homilia.
Francisco
começou as suas palavras falando da figura de Bartimeu, “um marginal sem
esperança que, no entanto, ao ouvir Jesus passar, começa a gritar-lhe”. Nesta
situação, “a única coisa que lhe resta é isso: gritar a sua própria dor e levar
a Jesus o seu desejo de recuperar a vista. E enquanto todos o repreendem porque
a sua voz os incomoda, Jesus para. Porque Deus ouve sempre o grito dos pobres,
e nenhum grito de dor lhe passa despercebido”.
Não ficar parado
No final da
Assembleia Sinodal, um momento de ação de graças, o Papa apelou a uma pausa no
que acontece a Bartimeu, que se senta a mendigar. Esta é, segundo Francisco, a
postura típica de “uma pessoa fechada na sua própria dor, sentada à beira da
estrada, como se nada mais lhe restasse do que esperar receber alguma coisa dos
muitos peregrinos que passavam pela cidade de Jericó por ocasião da Páscoa”.
Perante esta posição, afirma que “para viver verdadeiramente não podemos ficar
sentados: viver é sempre mover-se, caminhar, sonhar, fazer projetos, abrir-se
ao futuro”.
A partir
daí, sublinhou que “o cego Bartimeu representa também aquela cegueira interior
que nos bloqueia, que nos faz ficar parados, imóveis à margem da vida, sem
esperança”, uma reflexão que devemos fazer pessoalmente e como Igreja. Isto
porque “ao longo do caminho, muitas coisas podem tornar-nos cegos, incapazes de
reconhecer a presença do Senhor, incapazes de enfrentar os desafios da
realidade e, por vezes, inadequados para saber responder às muitas questões que
nos interpelam, como Bartimeu faz com Jesus”.
Não nos acomodarmos ao nosso próprio mal-estar
O Papa
pediu-nos para não ficarmos sentados perante as questões, os desafios e as
urgências da evangelização e as muitas feridas que afligem a humanidade, não
podemos ficar sentados. “Uma Igreja que, quase sem se dar conta, se afasta da
vida e se coloca à margem da realidade, é uma Igreja que corre o risco de
permanecer na cegueira e de se acomodar no seu próprio mal-estar”, disse o
Papa. E, continuou, “se permanecermos imóveis na nossa cegueira, continuaremos
a não ver as nossas urgências pastorais e os muitos problemas do mundo em que
vivemos”.
Perante
isto, apelou a recordar que “o Senhor passa, o Senhor passa sempre e para, para
tomar conta da nossa cegueira”. Referindo-se ao Sínodo, pediu que isso nos
impulsione “a ser a Igreja como Bartimeu, isto é, a comunidade dos discípulos
que, ouvindo passar o Senhor, se apercebe do choque da salvação, se deixa
despertar pela força do Evangelho e começa a gritar-Lhe. E fá-lo acolhendo o
grito de todos os homens e mulheres da terra: o grito daqueles que querem
descobrir a alegria do Evangelho e daqueles que se afastaram; o grito
silencioso dos indiferentes; o grito dos que sofrem, dos pobres e dos
marginalizados; a voz quebrada daqueles que nem sequer têm força para gritar a
Deus, porque não têm voz ou porque se resignaram”. Por isso, afirmou com
veemência que “não precisamos de uma Igreja paralisada e indiferente, mas de
uma Igreja que acolhe o grito do mundo e suja as mãos para o servir”.
Ser capaz de seguir Jesús
Num segundo
elemento, Bartimeu acaba por seguir Jesus no caminho, ou seja, torna-se seu
discípulo. Agora, Bartimeu “pode ver o Senhor, pode reconhecer a ação de Deus
na sua vida e, finalmente, pode segui-lo”. Algo que aplica às nossas vidas:
“quando nos sentamos e nos acomodamos, quando, como Igreja, não encontramos a
força, a coragem e a audácia para nos levantarmos e voltarmos a pôr-nos a
caminho, lembremo-nos de regressar sempre ao Senhor e ao seu Evangelho”.
Para
Francisco, “sempre e de novo, quando ele passa, devemos escutar o seu
chamamento, que nos põe de pé e nos faz sair da nossa cegueira. E depois
segui-lo de novo, caminhar com ele ao longo do caminho”. Em “segui-lo ao longo
do caminho”, reconhece uma imagem da Igreja sinodal: “o Senhor chama-nos,
levanta-nos quando estamos abatidos ou caídos, dá-nos uma nova visão, para que,
à luz do Evangelho, possamos ver as preocupações e os sofrimentos do mundo; e
assim, postos de pé pelo Senhor, experimentamos a alegria de o seguir ao longo
do caminho”.
Não caminhar por conta própria
Por isso,
apelou a que nos lembremos sempre: “não caminhar sozinhos ou segundo os
critérios do mundo, mas caminhar juntos atrás d'Ele e com Ele”. Refletindo
sobre o restauro da relíquia da antiga Cátedra de São Pedro, apelou a que se
recordasse que “esta é a cátedra do amor, da unidade e da misericórdia, segundo
o mandato que Jesus deu ao Apóstolo Pedro, de não dominar os outros, mas de os
servir na caridade. E, olhando para o majestoso baldaquino de Bernini, mais
resplandecente do que nunca, redescobrimos que ele enquadra o verdadeiro ponto
focal de toda a Basílica, ou seja, a glória do Espírito Santo”.
Concluiu
dizendo que “esta é a Igreja sinodal: uma comunidade cujo primado está no dom
do Espírito, que nos torna todos irmãos em Cristo e nos eleva até Ele”. A
partir daí, apelou a prosseguir “com confiança o nosso caminho juntos”,
recordando as palavras do Evangelho: “Coragem, levanta-te! Ele chama-te”, e
convidou-nos a “pôr de lado o manto da resignação, entregar ao Senhor a nossa
cegueira, levantar-nos e levar a alegria do Evangelho pelas estradas do mundo”.
Que possamos escutar e fazer o que o Papa pede, que sejamos parte dessa igreja que anda, que fala, que enxerga e escuta conforme o coração de Jesus.
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