terça-feira, 1 de outubro de 2024

Timothy Radcliffe convida o clero a “conduzir as ovelhas da sacristia para a praça pública”


O Sínodo é um momento para escutar o Espírito, daí a importância do silêncio, um convite feito por Madre Maria Ignazia Angelini no início do segundo dia de retiro com o qual os participantes da Assembleia Sinodal estão se preparando para a Segunda Sessão, que inicia seus trabalhos nesta quarta-feira, 2 de outubro, com a celebração eucarística na Praça de São Pedro.

Silêncio, uma coisa difícil

O silêncio, “talvez o elemento mais difícil de ser vivido em nossas vidas”, é sempre uma necessidade, porque “quem se deixa surpreender pela profundidade do silêncio de Deus, plenamente revelado em Jesus, compreende como o silêncio é a dimensão constitutiva da verdadeira palavra humana”, segundo a religiosa beneditina, que chamou para preparar a celebração penitencial que ebcerrará o retiro.

Trata-se de assumir “o precioso silêncio de quem sabe sair de cena e viver uma espécie de solidão fecunda, aberta à alteridade, à escuta da palavra de Deus, ao grito dos pobres e aos gemidos da criação”, porque “o silêncio é uma luta contra a banalidade, uma busca da verdade, uma aceitação do mistério que se esconde em cada pessoa e em cada ser vivo”. Isso em um caminho sinodal no qual é necessário “aprender a arte das relações gratuitas, sem cair na armadilha do Divisor”.

É necessário, sublinhou Angelini, conhecer o estilo do Evangelho: “caminhando, atravessamos os obstáculos. Esse, talvez, seja o caminho sinodal”. Para isso, “devemos fixar nosso olhar em Jesus, o rosto humano de Deus. Sem rotas de fuga, sem saídas de emergência. Um olhar que, iluminado pelos mansos e humildes de coração, redefine os contornos da visão dos outros, da história, do mundo”.



Aprendendo o significado do amor

Refletir sobre a escuridão foi o ponto de partida para a reflexão do Pe. Timothy Radcliffe, uma escuridão presente “na guerra, na crise dos abusos sexuais”, enfatizando que “todos nós conhecemos aqueles momentos em que parece que não conseguimos nada”, o que, no processo sinodal, leva à pergunta se algo foi alcançado. A partir daí, ele insistiu que “não nos reunimos em um sínodo para negociar compromissos ou para criticar os oponentes. Estamos aqui para aprender uns com os outros qual é o significado dessa estranha palavra amor”, igual aconteceu com os discípulos quando Jesus pediu que lançassem a rede para o outro lado, em obediência à Igreja.

Devemos nos atrever a confiar que a Divina Providência abençoará abundantemente este sínodo”, disse Radcliffe. Um sínodo que leve a “um novo Pentecostes, no qual cada cultura fale em sua própria língua e seja compreendida”, diferentes culturas se unindo para oferecer “cura umas aos outros”, desafiando “os preconceitos dos outros” e chamando uns aos outros “para uma compreensão mais profunda do amor”, pois “cada cultura tem uma maneira de ver o desconhecido na praia e dizer: É o Senhor”, vendo como o maior desafio “abraçar o que o Papa Bento XVI chamou de interculturalidade”, pois “quando as culturas se encontram, deve haver um espaço entre elas. Nenhuma deve devorar a outra”, o que deve levar à “reverência pela diferença cultural”. Ele pediu “que Deus abençoe este sínodo com encontros culturais cheios de amor, nos quais os dois se tornem um, mas permaneçam distintos”.

O frade dominicano convidou os participantes da assembleia a refletirem sobre o amor, partindo do encontro de Jesus com Pedro, no qual o amor anteriormente negado é confirmado três vezes, fazendo a pergunta: “Será que ousamos confiar uns nos outros, apesar de alguns fracassos?”, e ressaltando que “este Sínodo depende disso”. Para isso, é necessário “confiar uns nos outros, mesmo quando fomos feridos”, enfatizou Radcliffe, “milhões não confiam mais em nós, e com razão. Precisamos construir a confiança novamente, começando uns com os outros nesta assembleia.



Ministros da amizade divina

Radcliffe conclamou seus ouvintes a serem pastores, a cuidarem das ovelhas do Senhor, como é necessário para todos os batizados, convidando os ministros ordenados, que ele definiu como ministros da amizade divina, a “conduzirem as ovelhas para fora de um aprisco eclesiástico estreito e introvertido para os espaços abertos do mundo”. Da sacristia para a praça pública”. O dominicano alertou contra a tentação do clero de fazer tudo sozinho, o que contradiz sua vocação, que é o chamado à amizade. Ele também pediu, seguindo o exemplo de Pedro, transparência e prestação de contas, pois a falta delas “corrompe o próprio coração da identidade sacerdotal”.

Isso será ajudado assumindo o papel dos pastores, que é “ser modesto e honrar a autoridade de todos aqueles que estão sob seus cuidados”, alertando que “a rivalidade é inimiga da boa autoridade na Igreja”, por isso convidou que, neste Sínodo, “possamos discernir a autoridade dos outros e deferir a ela”.


Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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