No domingo
da alegria, domingo laetare, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo
Ulrich Steiner, iniciou sua homilia afirmando que “o caminho adventício,
segundo o Evangelho que nos foi proclamado, desperta um espírito novo, o desejo
de mudança. Mudança que desperta a alegria de receber um novo espírito!” Ele
destacou as palavras da segunda leitura: “Irmãos, alegrai-vos sempre no
Senhor;” e insistia: “eu repito, alegrai-vos.”
(H 4,4-6) e da primeira leitura: “Canta de alegria, cidade de Sião,
rejubila, povo de Israel” (Sf 3,14).
No
Evangelho, o arcebispo disse que “são três os grupos de pessoas que fazem a
mesma pergunta: o que devemos fazer?: a multidão em geral, os publicanos, isto
é, os cobradores de impostos, e alguns soldados.” Segundo ele, “os que ouvem a
pregação de João, deixam-se tocar pelo ensinamento e se entusiasmam pelo
batismo da água, como se estivessem em preparação de um novo tempo”, sublinhado
que “no Advento também nós nos perguntamos o que devemos fazer?”
“À
multidão que pergunta pelo caminho a ser seguido, João indica o caminho da
partilha, daqueles bens necessários a todas as pessoas, do necessário para
viver”, disse o cardeal Steiner, citando o texto bíblico: “Quem tiver duas
túnicas, dê uma, a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo”. Por isso, “duas
túnicas, para duas pessoas. Uma túnica para quem anda despido, desvestido. A
graça de vestir alguém, para que permaneça alguém, filho, filha de Deus. Vestir
a nudez da fragilidade com a túnica do amor que sempre são duas: uma para ti e
a outra para mim”, lembrou.
O
arcebispo questionou: “O que de mais básico que comer? O que de mais
fundamental para sentir-se pessoa do que ter o necessário para viver?”,
respondendo que “não necessita rastejar em busca de alimento.” Igualmente perguntou:
“O que dignifica uma pessoa é ter o necessário para caminhar, manter-se de pé,
poder trabalhar, servir?”, respondendo que “Sim para a multidão, para todos,
para todas as pessoas vale a graça de cuidar para que todos tenham pelo menos o
que comer e não deixar de viver pela dor da fome. Aquela fome que destrói e
mata o humano do humano, onde desaparecem as presenças e permanece os rostos
desfeitos, pois com fome da presença de um tu.”
“Para
a multidão a resposta da liberdade, da liberalidade: a fraternidade, a
partilha, a cordialidade. Sim, aqueles gestos mais humanos que expressam a cura
e a transformação. O caminho de Belém a nos pedir partilha, cuidado,
dignidade para podermos contemplar Deus vestido de nossa humanidade e
alimentado pelo leite da nossa fragilidade”, enfatizou o cardeal Steiner.
Ele
lembrou que “os cobradores de impostos tocados pelo anúncio de João, pedem um
novo caminho.” Diante disso perguntou: “E o que diz o Batista?”, respondendo
com o texto do Evangelho: “Não cobreis mais do que foi estabelecido”. Isso
Significa: “viver da liberdade e da justiça. Nada de comissões, de vantagens,
de danos, de corrupção, quando se trata do dinheiro dos pobres e do dinheiro
público. Tudo o que vai para além do justo e da solidariedade é injustiça,
destruição, indignidade. João a nos oferecer aquela medida que condiz, que está
justa e ajustada. Nos cobradores de impostos o Evangelho, talvez, esteja a nos
indicar a possibilidade da pergunta do nosso agir a partir do nosso lugar de
trabalho, nosso lugar de serviço, dos cargos e encargos na sociedade, mas
também na Igreja. Nem demais nem de menos, mas o justo, o ajustado, a justiça.
Nada de rouba, enganação, subtração do que é comum, do que é direito da pessoa.”
Segundo
o cardeal, “aos soldados que perguntam o que devem fazer, João a indicar o
caminho: ‘Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações;
ficai satisfeitos com o vosso salário!’” Isso deve nos levar a “não nos
valermos da força, da violência; primar pela verdade, superando acusações
falsas, notícias falsas. Cuidar a dignidade das pessoas, preservar a
convivialidade, rejeitar tudo o que violenta a dignidade da pessoa. Pode
acontecer de falsas acusações por raça, cor, religião. O convite que recebemos
é o da compaixão e da verdade, pois possibilidade da convivência digna e
salutar.”
Ele
lembrou as palavras de Papa Francisco, “São as três respostas às três perguntas
destes grupos. Três respostas para um idêntico caminho de conversão, que se
manifesta em compromissos concretos de justiça e de solidariedade. É o caminho
que Jesus indica em toda a sua pregação: o caminho do amor concreto ao próximo.
Destas admoestações de João Batista compreendemos quais eram as tendências
gerais de quem, naquela época, detinha o poder, sob diversas formas. As coisas
não mudaram muito. Contudo, nenhuma categoria de pessoas está excluída de
percorrer o caminho da conversão para alcançar a salvação, nem os publicanos
considerados pecadores por definição: nem sequer eles estão excluídos da
salvação. Deus não priva ninguém da possibilidade de se salvar. Ele está — por
assim dizer — ansioso por praticar a misericórdia, praticá-la em relação a
todos, e acolher cada um no abraço terno da reconciliação e do perdão.”
Para
o cardeal Steiner, “a pergunta ‘o que devemos fazer?’ denota também uma
alegria, um despertar, um acordar para a beleza, para a admiração de uma nova
vida; expressa o desejo de um novo caminho a ser seguido. E o Batista a ensinar
que é preciso empreender o caminho da justiça, da solidariedade, da sobriedade:
são os valores imprescindíveis de uma existência plenamente humana e
autenticamente cristã.”
“Pertencemos
todos um pouco a cada grupo que pergunta: o que devemos fazer?”, disse o
arcebispo. Isso, “porque também nós desejos de conversão, de uma vida saudável,
salvífica, libertadora. O caminho do Advento a nos despertar para a necessidade
do pouco. Aprender o segredo da verdadeira alegria que não consiste em ter
muitas coisas, mas em sentirmo-nos amados, amadas por Deus ter-se feito nossa
humanidade e proximidade. Advento como tempo de fazer-nos dom para os outros,
ser graça para os outros e nos amarmos uns aos outros.” Diante da pergunta: “o
que devemos fazer para despertarmos para o essencial?”, ele respondeu que “necessitamos
de poucas coisas, para sermos tomados pelo amor e pela verdade.” Questionando novamente
“O que devemos fazer?”, ele disse: “vivermos com a medida desmedida do amor, da
justiça, Deus nascerá e aquecerá nosso coração e responderá aos nossos anseios
mais profundos.”
“O
Batista anuncia o batismo no Espírito Santo. O batismo ‘na água’ era o batismo
da conversão”, lembrou o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil. Nessa perspectiva, “a criança de Belém nos oferece mais
que conversão: o Espírito que transforma uma vida, uma existência. Transforma o
homem velho em pessoas novas, faz do homem egoísta e fechado em si, num homem
novo, capaz de partilhar a vida e amar como Jesus. Uma transformação que Jesus
opera em quem está livre e disposto a acolher a sua vida de libertação e
gratuidade. Uma vida purificada com o fogo do Espírito novo que supera o
pecado, o egoísmo e a morte.”
Segundo
o arcebispo de Manaus, “o batismo no espírito ressoa nas palavras do profeta
Sofonias que ouvimos na primeira leitura”, mostrando que “Sofonias a nos animar
para levar com ânimo as nossas fraquezas, as traições, a nossa indiferença, a
ingratidão, a nossa incapacidade de reconciliação, de perdão. Não desanimemos,
pois Deus está no meio de nós. Ele feito nossa fraqueza, fragilidade a nos
erguer, colocar de pé, a caminho. Sim Deus criança movido de amor, a nos
resgatar, a nos salvar. E João a nos dizer que o tempo do Advento de Deus é tomado
pela esperança pois seremos batizados no Espírito Santo e no fogo. No Espírito
e no fogo do seu amor. Ele cuidará de nós queimando tudo o que é palha,
superficialidade e cultivará na bondade, e fará frutificar como um trigo novo.
É que o fogo do amor de Deus manifestado na criança de Belém não se apaga.
Parece frágil, desnecessário, mas por isso mesmo vital, vigoroso e salvador.”
Após
citar as palavras da Carta aos Hebreus, o cardeal Steiner pediu que “a liturgia
deste terceiro domingo de Advento, irmãs e irmãos nos ajude a redescobrir a
alegria da vinda de Jesus em nossa carne, na nossa finitude”, lembrando que
“por isso, a alegria deste domingo nos convida a conversão. Se nos convertermos
e nos aproximarmos do Menino de Belém, seremos tomados pela alegria. Sofonias a
nos dizer: exulta de alegria (Sf 3, 14); e o apóstolo Paulo a nos exortar:
“Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos” (Fl 4, 4).” Diante
disso, “hoje é necessário coragem, ousadia para falar de alegria, é, até mesmo,
necessário sobretudo fé! O mundo está assolado por tantos problemas, tensões,
fome, descuidado com o humano e com a natureza; o futuro está obscurecido por
incógnitas e receios. O caminho do
Advento a nos mostrar “o Senhor está próximo” (Fl 4, 5). A alegria da
proximidade não é algo efêmero e superficial, mas profundo, estável,
revigorante. “A nossa alegria deriva da certeza de que Ele está próximo com a
sua ternura, com a sua misericórdia, com o seu perdão e o seu amor”, afirmou o
cardeal, citando Papa Francisco.
Questionando
mais uma vez “O que devemos fazer?”, ele respondeu: “Vamos a Belém! Deus
envolto nas faixas de nossa humanidade está à nossa espera. Alegramo-nos com o
nascer de Deus!”
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