No dia 25
de novembro, o Papa Francisco nomeou um novo bispo auxiliar para a arquidiocese
de Manaus, frei Samuel Ferreira de Lima, que será ordenado bispo no dia 1º de fevereiro em Rodeio (SC). Ele diz estar “indo como irmão que
quer caminhar junto, que quer aprender, que na experiência de vida que tenho,
quero estar a serviço”, para uma missão “muito abrangente, uma nova
realidade, com novas exigências, num contexto bem diferente daquele que estou
vivendo”.
Ele vê a
Igreja de Manaus como “uma igreja muito dinâmica, muito viva, engajada no
profetismo, na vivência de fé”, onde espera vivenciar a relação com a natureza,
com as criaturas, com a Casa Comum, com a diversidade de culturas presente na
Amazônia, uma interculturalidade que ele já experimentou em seus dez anos como
missionário em Angola.
Em uma
Igreja marcada pela sinodalidade, o bispo eleito vê fundamental, “a gente
perceber que nós somos parte de um todo e somos instrumentos, e que o
Espírito de Deus sopra em todo batizado”, vendo no caminhar juntos algo que
faz que sejamos “muito mais podemos ser efetivos na nossa missão”. Ele pede muitas
orações para que a gente possa se abrir cada vez mais à ação do Espírito e se
colocar realmente como instrumento de Deus naquilo que for necessário, naquilo
que o povo espera e assim poder somar forças nessa caminhada junto ao povo de
Deus nessa experiência de fé e vida”.
O senhor
acaba de ser nomeado bispo auxiliar da arquidiocese de Manaus, como está vivenciando
este serviço que o Papa Francisco lhe pediu recentemente?
É um
processo de assimilação, pois a gente não espera na nossa vida como frade
tamanha responsabilidade e missão. Então, como mestre de noviços, a gente está
muito focado no trabalho formativo, na dinâmica própria de uma casa de
formação. E com essa nova missão, tudo se amplia de uma forma muito abrangente,
uma nova realidade, com novas exigências, num contexto bem diferente daquele
que estou vivendo. Então tudo isso leva a gente a ter um turbilhão de ideias,
sentimentos, e ao mesmo tempo se abandonar em Deus, porque só Ele que pode nos
qualificar e dar condições de responder ao chamado que nos é feito.
O senhor
fala de uma nova realidade, o que espera encontrar em Manaus, o que espera
encontrar na igreja da Amazônia?
Pelo pouco
que já vi, já li, é uma igreja muito dinâmica, muito viva, engajada no
profetismo, na vivência de fé, creio que vou me enriquecer muito com essa
experiência. Uma Igreja de uma caminhada longa, principalmente com os povos
originários. É o Brasil raiz.
O senhor
é franciscano e São Francisco inspirou o Papa Francisco em sua vida e em seu
Magistério, especialmente no cuidado da casa comum, como mostra a Laudato si. O
que representa para um franciscano chegar na Amazônia e o que essa casa comum,
ainda preservada na região de Manaus, representa em sua vida como frade e em
seu futuro serviço como bispo auxiliar?
Francisco
sempre tem essa percepção do Cântico das Criaturas, da Casa Comum, como essa
vivência e experiência do amor de Deus que tudo criou e tudo dispôs para nós. Viver
agora na Amazônia vai ser encarnar concretamente essa busca de celebrar esse
grande dom que é a natureza, os animais, toda a realidade que está ali presente
e ao mesmo tempo tomar consciência dessa relação que não é apenas uma relação
apenas antropológica, social, política, cultural, mas é uma relação de fé
porque é relação com o próprio Deus.
Todas as
criaturas são parte de nós. Então, o cuidado com a natureza é cuidado conosco
mesmo. É perceber que fazemos parte de um todo e que isso deve ser motivado não
só pela preservação nossa, mas no respeito e numa reverência à dimensão da
grandeza de Deus que tudo criou e tudo que fez é bom. Então nós devemos
trabalhar para salvaguardar esse bom que nos é dado e que dignifica o ser
humano nessa relação.
O senhor
iniciou sua vida presbiteral como missionário na África, em Angola. A
interculturalidade é uma dimensão muito presente no magistério do Papa
Francisco. Chega numa região muito marcada pela interculturalidade, onde a
igreja tenta tenta levar essa diversidade cultural para sua vida pastoral, para
a sua vida celebrativa. Por que é importante a convivência com culturas
diferentes, e o que o senhor, ao longo do seu ministério presbiteral, foi
descobrindo nessas culturas diversas?
A
interculturalidade é uma grande riqueza, é uma possibilidade de a gente ampliar
a percepção da vida, das pessoas, das relações, dos valores, e aprender cada
dia com a vivência e a partilha dos conhecimentos, das vivências de fé. É uma
experiência muito rica, porque Deus está em todos os lugares, a gente não vai
levar Deus, a gente vai buscar Deus aonde a gente está indo, aonde a gente está
sendo enviado. Cada povo, cada cultura, por sermos seres humanos, que tem na
sua raiz esse desejo da transcendência, cada povo, cada grupo humano está, de
alguma forma, fazendo essa busca, confrontando e partilhando suas vivências.
Em Angola,
a gente vivia um tempo de guerra e foi muito importante conhecer o diálogo
interreligioso, a interculturalidade, a compreensão da vida a través das várias
etnias. Tudo isso vai mostrando, na diversidade a beleza e a grandeza de Deus
se revelando. Muitas vezes, a gente quer reduzir muito a apenas uma cultura, uma
visão religiosa e não percebe que é na diversidade que as coisas se
complementam e se enriquecem e se tornam belas. Então eu vejo que vai ser uma
experiência muito rica, da qual eu vou poder aprender muito e também poder
partilhar um pouco que já vivi e experienciei no tempo de missão.
A
sinodalidade é uma dinâmica muito presente na Igreja da Amazônia, na Igreja
daqui de Manaus. A Arquidiocese de Manaus realizou o Sínodo arquidiocesano,
atualmente está realizando o Sínodo com a juventude e também a Igreja,
especialmente através do seu arcebispo, o cardeal Leonardo Steiner, participou
da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade. Como essa dinâmica. que
não é nova na vida da igreja, mas que o Papa Francisco tem se empenhado em
impulsionar, pensa que pode condicionar, dinamizar seu ministério episcopal na Igreja
de Manaus?
Vai ser fundamental,
a gente perceber que nós somos parte de um todo e somos instrumentos, e que o
Espírito de Deus sopra em todo batizado. Então, quanto mais a gente partilhar,
refletir, buscar juntos caminhos, soluções, respostas para, de forma mais
autêntica, viver a nossa fé, anunciar a boa nova do Evangelho, muito mais
poderemos atingir, muito mais podemos ser efetivos na nossa missão.
Eu fico
muito feliz que a Igreja Particular da Arquidiocese esteja de uma forma bem avançada
nessa dinâmica da sinodalidade, porque isso abre muitas perspectivas e caminhos
para incluir e valorizar o dom de cada um, as possibilidades que cada um tem,
como Igreja, como Povo de Deus, como povo que está caminho. Nós não temos
resposta para tudo, mas estamos num caminho de busca, de reflexão, de caminhada
entre erros e acertos. Estamos caminhando e se ajudando mutuamente. Eu me sinto
feliz e esperançoso de partilhar e caminhar junto com essa experiência que a
Igreja da Arquidiocese já está fazendo.
A pouco
menos de dois meses para sua chegada em Manaus, o senhor será acolhido no dia 9
de fevereiro numa celebração na catedral, o que o senhor gostaria de dizer à Igreja
e ao povo de Arquidiocese de Manaus?
Que eu estou
indo como irmão que quer caminhar junto, que quer aprender, que na experiência
de vida que tenho, quero estar a serviço. Essa é a nossa vocação, servir, é o
ministério do serviço, da doação, da entrega, do lava-pés. Vou com esse
espírito e desejo, anseio, poder corresponder àquilo que o povo espera de um
pastor que quer ter o cheiro das ovelhas, que quer caminhar junto com a
caminhada que o povo já está fazendo. Eu tenho que me inserir nessa caminhada
que o povo já está fazendo há muito mais tempo do que eu. Então eu vou com esse
espírito e com essa perspectiva e com essa disposição.
Peço muitas
orações para que a gente possa se abrir cada vez mais à ação do Espírito e se
colocar realmente como instrumento de Deus naquilo que for necessário, naquilo
que o povo espera e assim poder somar forças nessa caminhada junto ao povo de
Deus nessa experiência de fé e vida.
ResponderExcluirMuita luz na caminhada.As bençãos de Deus estejam contigo . Gratidão por tudo.