O Sínodo da Amazônia quer fazer realidade novos caminhos para uma ecologia integral. Esse propósito vai se tornar realidade na medida em que, depois de um processo de escuta, sejam conhecidas diferentes experiências que já estão presentes na realidade amazônica e que oferecem pistas nessa direção.
Um dos projetos que foram aprovados pelo Fundo Nacional de Solidariedade depois da Campanha da Fraternidade de 2017, que refletiu sobre o tema dos biomas brasileiros e defesa da vida, foi os Núcleos de Proteção da Convivência com a Amazônia – NUPCA. Este projeto, coordenado pela Caritas Regional Norte 1, está baseado na organização comunitária e incidência política, tendo como perspectiva o fortalecimento do protagonismo das pessoas locais na convivência com a Amazônia. Não podemos esquecer que são os povos da Amazônia quem tradicionalmente têm criado as diferentes formas de cuidado com a Amazônia. Também está presente a necessidade uma espiritualidade ecológica.
Os NUPCA está formado por cinco experiências que estão tratando de fazer realidade quatro atitudes que recebem o nome de REMO: Reaprender para proteger; Educar para conviver; Monitorar para proteger e Ouvir os gritos da Amazônia e seus povos. Essas experiências se desenvolvem em quatro dioceses do Regional Norte 1. Na zona leste de Manaus, o Grupo Artes Regionais Cuidando do Amazonas; na diocese de Parintins, o Núcleo Mocambo do Arari; na diocese de Roraima, o grupo de catadores Projeto Terra Viva; no bairro Puraquequara de Manaus, o grupo Incomoda.com; na diocese de Coari, o Núcleo Nova Esperança de Manacapuru.
Em todos os projetos existe uma preocupação pelo cuidado da casa comum, existindo atividades que fazem realidade novos caminhos para uma ecologia integral, que nos chama o Sínodo da Amazônia, sendo alguns deles um instrumento de geração de renda. Não podemos esquecer que a poluição e a degradação ambiental está cada vez mais presente na Amazônia e essa atitude de cuidado deve estar cada vez mais presente na sociedade e na Igreja amazônica.
Como reconhecia Márcia de Oliveira, assessora do Sínodo da Amazônia, "a convivência com a Amazônia está baseada numa troca de saberes, num ensinar e aprender". Essa troca não pode continuar sendo injusta, atitude presente na região desde o tempo da colonização, que acaba com a convivência com a Amazônia. Nesse sentido, a professora da Universidade Federal de Roraima, insiste em que "os povos originários têm que nos ensinar a reaprender essa convivência", uma situação nada fácil, pois existe um projeto de extermínio dos povos da Amazônia, como demonstra o fato de que o Brasil é o lugar de maior risco para os defensores dos direitos humanos e ambientais.
A assessora do Sínodo reconhece que "é possível criar outros mecanismos de convivência sem destruir", propondo o bem-viver como cultura alternativa ao mundo capitalista, que promove o desenvolvimento a qualquer custo. Essa cultura capitalista gera conflitos estruturais no mundo de hoje, que se traduzem, segundo a professora Márcia, no "não reconhecimento do outro, acumulação dos bens nas mãos de poucos e aceleração das atividades". Isso, gera desafios, segundo ela, "reconhecer o outro, redistribuir os bens, desacelerar as atividades", assim como, baseados no Sumak Kausay, "recuperar o que foi tirado, descolonizar nossas práticas, reaprender e lutar contra o sistema dominante".
De fato existem visões enfrentadas entre o capitalismo, que promove viver melhor com mais mercadorias, e o Sumak Kausay, que visa repartir os bens para que todos possam viver bem e a vida de todos em harmonia com a natureza. Para isso, se faz necessário algumas rupturas, com o conceito de desenvolvimento, econômica, constitucional e democrática, ética e com o estado patrimonialista.
Um instrumento que ajuda nessa dinâmica são as rodas de conversa, que pretendem desenvolver três atitudes: conhecer para amar e respeitar a casa comum, conhecer para reconhecer e valorizar a Amazônia e conhecer para conviver com a Amazônia. Nessa perspectiva é importante o chamado Nhandereko-há, que é um lugar de organização social e política, de produção e transmissão de etno-conhecimento, que vê a floresta como uma casa que não tem dono. Junto com isso é importante reconhecer a resistência milenar dos povos originários e romper com o conhecimento negado. Também não esquecer que se eu cuido da terra, a terra cuida de mim, se eu cuido do outro, o outro cuida de mim. Uma atitude contrária à lógica do capitalismo, onde cada um cuida de si.
Escutar, conhecer, divulgar essas experiências podem ajudar a fazer realidade esse desejo do Papa Francisco de criar novos caminhos para a ecologia integral. O caminho iniciado na encíclica Laudato Si precisa ser continuado. Sem dúvida, o Sínodo da Amazônia é uma oportunidade impar nesse sentido. Dai a importância de atividades que como essa da Caritas Regional Norte 1 pretende fazer um intercambio de saberes com os povos da Amazônia, numa busca decidida de lutar pela vida da Amazônia e de seus povos.
Por Pe. Luis Miguel Modino
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