sábado, 1 de setembro de 2018

O contexto da migração na Amazônia é abordado durante Seminário de Migração Forçada e Tráfico de Pessoas

Migração interna e internacional no contexto da Amazônia, foi a temática abordada pela Dra. Márcia Maria de Oliveira, da Universidade Federal de Roraima, destacando a importância de um olhar amoroso, cuidadoso e esperançoso na construção da cultura do encontro, durante o Seminário de Migração Forçada e Tráfico de Pessoas, realizado pelo Regional Norte 1 - Amazonas e Roraima, de 31 de agosto a 2 de setembro, no Centro de Treinamento Maromba, em Manaus. O encontro reúne 110 participantes e dentre eles Dom Mário Antônio, presidente do Regional Norte 1 e bispo da Diocese de Roraima; Dom Evaristo Pascoal Spengler, da Prelazia do Marajó - Pará; e Dom José Albuquerque, bispo auxiliar da Arquidiocese de Manaus.

Segundo Márcia, a Amazônia é uma nova rota migratória, porém esse processo tem ocorrido “pelos fundos” e ao invés de políticas públicas para a migração, o poder público tem limitado o acesso pela fronteira e assim os migrantes tornam-se alvo de agências ou grupos nacionais e internacionais especializados na exploração deles.

“O poder público cria formas de fronteiras para a circulação de pessoas, para os migrantes sempre surgem novas fronteiras, mas para mercadorias (para comércio) não há fronteiras.... Não há nada mais lucrativo para o mercado nacional do que a mão de obra do migrante, e muitos deles migram através das redes de contrabando de migrantes. Crescem, nessa dinâmica, grupos especializados na exploração do trabalho dos migrantes em muitos casos se configura em trabalho escravo”, explicou.

“As migrações provocam mudanças na Amazônia, mobilizando a sociedade civil diante da temática migratória, além de mobilizar diversas instituições e organizações não-governamentais dedicadas ao atendimento de migrantes em toda a Amazônia com especial destaque para o Serviço Pastoral dos Migrantes, Rede um Grito pela Vida, comunidades, paróquias, igrejas evangélicas, dentre outras, que desenvolvem diversas atividades que vão desde a acolhida emergencial até a orientação para o emprego, aulas de língua portuguesa, momentos festivos, creches para crianças, dentre muitas outras iniciativas”, destacou Márcia, que também comentou reações contrárias quando a migração aumenta, pois em muitos casos são reveladas atitudes de racismo, de discriminação e de xenofobia.

As migrações na Amazônia abriram novos debates, embora a temática não seja nova na região. Conforme um quadro histórico apresentado, nos anos de 1500, houve a chegada dos europeus colonizadores e missionários religiosos, houve também com deslocamento interno de indígenas; em 1800, a economia da borracha proporcionou a chegada de nordestinos que se tornaram soldados da borracha e também aconteceu o recrutamento de mulheres para a prostituição na região; em 1900, projetos economicista, a Zona Franca, a abertura de grandes rodovias e de portos graneleiros provocaram grandes deslocamentos de pessoas do sul para o norte do país; em 1960 ocorreu intensa migração peruana e boliviana através das fronteiras; em 2000, houve a chegada de colombianos na Amazônia, além dos deslocamentos internos e de indígenas; em 2010, a diáspora/deslocamento de haitianos; e atualmente a mobilidade humana na Venezuela. E todos esses momentos, a migração, na maioria das vezes, vem carregada de uma história de sofrimento que fez com que as pessoas tivessem que deixar sua pátria, sua casa, sua família, em busca de sobrevivência.

Márcia também fez algumas provocações aos presentes, questionando quanto à necessidade também de acolher nossos irmãos também na comunidade eclesial, permitindo que também façam parte e ajudem nos trabalho da igreja. Alem de auxiliá-los como irmãos que precisam de apoio. E como trabalhar o discurso de ódio em nossas comunidades, às vezes carregados de senso comum, mas nenhuma das afirmações que costumam fazer são confirmadas, pois os números oficiais não mostram o aumento de violência e nem sobrecarga das instituições públicas e apenas 4% dos venezuelanos acessam serviços públicos em 2016 a meados de 2018.

Por fim, sabe-se que o estado de emergência no atendimento é passageiro, mas a migração não é passageira. É preciso, assim como nos pede o Papa Francisco, promover a cultura do encontro que permita toda a sociedade dialogar sobre a realidade da migração. Também se faz necessário reconhecer o outro como irmão, ouvi-los, escutar suas histórias, saber o que os levou a migrar.






  

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