quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Diante dos problemas, a corda sempre quebra do lado mais fraco

 

As consequências da pandemia da Covid-19 é algo que vai além da crise sanitária. Ao alto número de doentes e de mortes, uma situação que nas últimas semanas tem provocado muita dor e sofrimento em Manaus, se unem outras realidades que também estão gerando preocupação em muita gente.

Todos nós sabemos que diante dos problemas, a corda sempre quebra do lado mais fraco. Digo isso após ver como nesta semana a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Abrasel, formalizava a demissão de 10 mil trabalhadores “devido às medidas restritivas”.

O Papa Francisco, na encíclica Fratelli tutti, publicada no último mês de outubro, ele diz que “é indispensável uma política económica ativa, visando ‘promover uma economia que favoreça a diversificação produtiva e a criatividade empresarial’, para ser possível aumentar os postos de trabalho em vez de os reduzir”. Ele faz essa referência no ponto onde aborda a questão do neoliberalismo.

O argumento defendido pelo Papa Francisco é que “o mercado, por si só, não resolve tudo, embora às vezes nos queiram fazer crer neste dogma de fé neoliberal”. O texto de Fratelli tutti nos diz que esse é um “pensamento pobre, repetitivo, que propõe sempre as mesmas receitas perante qualquer desafio que surja”. O Papa afirma que “a suposta redistribuição não resolve a desigualdade, sendo, esta, fonte de novas formas de violência que ameaçam o tecido social”.


Situações como a que está acontecendo com a Abrasel, também presentes em outros setores sociais e econômicos no Brasil, em consequência da pandemia da Covid-19 e das políticas econômicas neoliberais, cada vez mais impulsionadas pelo poder público, tem que nos levar a refletir. Estamos diante de uma realidade que a cada dia que passa está se complicando e que daqui a pouco pode gerar uma bomba muito maior.

As situações que estamos vivenciando mostram as consequências de um sistema político e econômico onde o Estado se desentende, se tornando omisso. Quando isso acontece, quem paga a conta é a camada mais pobre da população, como está acontecendo com os funcionários dos bares e restaurantes. Os empresários reclamam diante dos decretos de lock down, mas nada falam de cobrar soluções do Governo Federal e Estadual, que nada fazem para resolver o problema.

Tão importante quanto reivindicar é a forma em que a reivindicação é realizada. Nunca podemos esquecer que o bem comum deve ser prioridade. Nesse sentido, o Papa Francisco, também na Fratelli tutti, nos lembra que “a grandeza política mostra-se quando, em momentos difíceis, se trabalha com base em grandes princípios e pensando no bem comum a longo prazo. O poder político tem muita dificuldade em assumir este dever num projeto de nação”.

É por isso que ele defende “uma economia integrada num projeto político, social, cultural e popular que vise o bem comum” e uma política que “busca o bem comum”. É tempo de pensar em todos, de viver a fraternidade nas relações com os outros, de fazer tudo o que estiver ao alcance de todos para que a corda não quebre do lado mais fraco.

Luis Miguel Modino, assessor de Comunicação CNBB Regional Norte1 - Editorial Rádio Rio Mar

Um comentário:

  1. Excelente texto. A julgar pela omissão do Estado, teremos cada vez mais cordas arrebentando do lado mais fraco.

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