Mostrar a realidade dos migrantes venezuelanos no Brasil, especialmente em Roraima, esse é o objetivo do documentário “HERMANOS - O Brasil na resposta humanitária à crise venezuelana”, que está sendo lançado pela Fraternidade – Federação Humanitária Internacional – FFHI.
Com imagens captadas entre janeiro e fevereiro de
2020, o documentário apresenta uma narrativa plural, construída por meio de
relatos de migrantes, refugiados e diferentes integrantes da Operação Acolhida,
uma grande força-tarefa humanitária de acolhimento a milhares de venezuelanos,
no estado de Roraima e em Manaus.
Escutando diferentes atores que fazem parte da
Operação Acolhida, o relato mostra que “é possível minimizar consequências
sociais e humanitárias e ir além”. O documentário conta as histórias nascidas
na convivência entre os migrantes e aqueles que tem se empenhado em acolhe-los,
uma atitude muito presente na Diocese se Roraima, que tem assumido esse
acolhimento aos migrantes como prioridade diocesana.
Os relatos apresentados pela irmã Telma Lage, pelo
padre Jesús López de Bobadilla, por Áurea Cruz, da ONG Mexendo a Panela, entre
outros, são uma mostra do trabalho que muitos homens e mulheres, a partir da
sua fé, vem realizando na Diocese de Roraima nos últimos anos, em parceria com
outros atores que participam desse processo de acolhimento, dentre eles a Fraternidade
– Humanitária, que foi a primeira organização a chegar na região em 2016 para
uma missão emergencial e, que diante da contínua demanda, tornou-se uma missão
permanente. Seu Gestor geral, Frei Luciano, insiste na necessidade de diálogo,
de trabalhar em políticas públicas e estratégias que promovam uma mínima
oportunidade de dignidade de vida para o povo.
Ao longo de quase uma hora, o documentário, de um modo
dinâmico e envolvente, propicia ao espectador um olhar aprofundado sobre esta
realidade contemporânea, ainda pouco conhecida por grande parte da sociedade
brasileira. Não podemos esquecer que, de acordo com dados de agências da ONU,
como aparece relatado no documentário, mais de 5 milhões de homens, mulheres e
crianças deixaram a Venezuela desde 2015, gerando uma das maiores crises de
deslocamento do mundo. O Brasil é o quinto destino mais procurado por eles.
São pessoas concretas, com histórias que mostram as
dificuldades vividas ao longo de um percurso cheio de dificuldades. Uma delas é
a de Miladys del Carmen, que deixou família, amigos, e tudo mais que fazia
parte do seu mundo, percorrendo a pé todo o caminho até o Brasil. Após ser
acolhida, ela tem encontrado uma luz que pode ajuda-la para reconstruir a sua
vida e a dos seus familiares, algo que é motivo de gratidão para alguém que
sonha com um futuro melhor e com a possibilidade de um dia retornar à sua
pátria.
Essas histórias fazem parte da vida do padre Jesús,
que ao longo dos últimos anos tem escutado muitos relatos, de pessoas que tiveram
que deixar tudo para não morrer de fome, para chegar em Pacaraima - RR, a porta de
entrada da maioria dos venezuelanos no Brasil. Ele que faz um chamado a assumir
a atitude do Bom Samaritano, diz que os venezuelanos chegam “sem nada, sem
dinheiro, sem roupa, sem moradia, sem saúde, muitos, sem ter nada”. O sacerdote
maldisse “as fronteiras e tudo aquilo que nos desune”, insistindo em que
“quando o conceito pátria está só para dividir, para enfrentar, para daqui não
passe, para que o conceito pátria sirva de muralha, de separação, de
arrogância, que pena, a pátria é o Planeta Terra”. O padre afirma que “não somos
santos, nem somos heróis, estamos só cumprindo a nossa obrigação”
Desde o início da Operação Acolhida em 2018, mais de
50 mil pessoas venezuelanas já foram interiorizadas para 600 cidades dos 26
estados brasileiros. É uma resposta humanitária sem precedentes, como citou
Áurea Cruz, para quem “Deus nos dá a oportunidade de dizer sim ao nosso próximo”.
“É um exemplo para o mundo” o fato de que diferentes organizações civis, governamentais, religiosas e agências internacionais, possam unir esforços em prol do bem comum, e juntos, buscar soluções para acolher os irmãos, os “Hermanos” venezuelanos. Não podemos nos acostumar, “as pessoas passarem fome não é normal, as pessoas ter que sair do seu país para não morrer de fome, não é normal”, afirma a irmã Telma Lage. É tempo de entender e assumir que juntos somos mais fortes!
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