No dia 7 de abril de 2020, seis entidades brasileiras, dentre
elas a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, assinavam o “Pacto
pela Vida e pelo Brasil”, visando, naquelas primeiras semanas da pandemia, amenizar
os impactos da pandemia e a defesa do Sistema Único de Saúde – SUS, que garante
saúde pública, universal e gratuita para todos os brasileiros.
Dom Guilherme Werlang, na coletiva de imprensa da 58ª
Assembleia Geral da CNBB, que acontecia nesta quarta-feira, denunciava que “nos
últimos anos as políticas públicas, que foram alcançadas com tanta luta popular
brasileira e devagarzinho estão sendo desmanteladas, desacreditadas, estão
sendo tirados os recursos básicos, fundamentais, para que eles possam cumprir
com a sua função a sua finalidade”.
Segundo o presidente do Grupo de Trabalho do Pacto pela Vida
e pelo Brasil, a vida deve ser entendida como algo interligado que vai além da
vida humana. Desde o Pacto se defende a necessidade de garantir o auxílio
emergencial, o atendimento pelo SUS e a segurança alimentar, uma questão
fundamental num momento em que o Brasil está voltando ao Mapa Mundial da Fome.
Trata-se de defender a vida e as políticas públicas que, segundo o bispo de
Lages – SC, “estão sendo desmontadas”, denunciando que existe dinheiro para
salvar bancos e a bolsa de valores, mas não para o auxílio emergencial, afirmando
que não é possível chamar de auxilio emergencial a quantidade que está sendo
destinada pelo governo. Ele fazia um chamado a lutar pelo Brasil, algo que não
é possível sem defender os mais pobres.
Em 2022, a Campanha da Fraternidade, que acompanha a vida da
Igreja do Brasil no tempo da Quaresma desde a década de 60, vai ter como tema “Fraternidade
e Educação”. Dom João Justino de Medeiros Silva, ao apresenta-la destacava que
ela tem sido pensada em sua relação mais ampla com a sociedade, pensando em
todos os atores que fazem parte da educação. O lema da Campanha está inspirado
no Livro dos Provérbios: “Fala com sabedoria e ensina com amor”, tendo como
objetivo “Promover um diálogo sobre a realidade educativa no Brasil”.
Dom Leomar Antônio Brustolin destacava a transversalidade da
Campanha da Fraternidade 2022, em torno a três aspectos: pandemia, 20 milhões
de brasileiros ficaram sem escola em 2020; as pedagogias de Francisco, a
pedagogia da escuta, do diálogo, da proximidade e do encontro; o Pacto Educativo
Global, que parte de Laudato Si´ 215, mostrando necessidade de difundir um novo
modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação coma natureza. O
bispo auxiliar de Porto Alegre – RS fazia um chamado a se questionar sobre “a
cultura e a civilização que está sendo construída neste momento de pandemia, onde
até usar a máscara se torna motivo de polémica”. Ele insistia, desde a proposta
do Pacto Educativo Global, em promover “uma educação mais aberta, inclusive,
capaz de escuta paciente, diálogo construtivo e mutua compreensão”.
Tudo isso, segundo o bispo, precisa “coragem de colocar no
centro a pessoa humana, num estilo de vida que rejeita a cultura do descarte”,
seguindo a proposta do Papa Francisco. Ele denunciava que o mercado tem sido o critério
principal para educar em muitos ambientes. Também fazia um chamado a “investir
nos muitos talentos que temos”, denunciando que muito talento brasileiro é acolhido
no exterior e ignorado no Brasil. Ao mesmo tempo destacava a necessidade de “uma
educação ao serviço da comunidade, que leve a preparar não apenas para o
trabalho e sim para a vida comunitária, social, com senso de comunhão e
comprometimento com a realidade”. Por isso, ele espera que a Campanha da Fraternidade
de 2022 seja “uma contribuição que possa ajudar a transformar a realidade”.
Nas perguntas dos jornalistas, os bispos abordaram algumas
questões importantes como a evasão escolar, o modo de trabalho do Pacto pela
Vida, que tenta ser antenas de onde a vida está sendo ameaçada. Também foi
refletido sobre questões presentes na sociedade brasileira, sobre a relação entre
educação e cultura, que levava Dom Leomar a afirmar que existe um jeitinho
brasileiro de ser, uma vontade de querer levar vantagem em tudo, o que “não nos
levou a grandes progressos”. Ele denunciava a falta de lei no Brasil, a
existência de uma sociedade polarizada, onde o contraponto se torno um inimigo
a ser destruído, o uso da violência, que tem se fortalecido muito, a questão do
feminicídio, insistindo em que “estamos anestesiados frente a tudo e as nossas iniquidades”,
até o ponto de que “estamos nos acostumando com a violência, a corrupção, uma situação
de morte”, o que demanda uma educação que defenda a vida e mude a cultura
brasileira. O bispo insistia em que a cultura não está promovendo a vida, diante
de tanta morte e descarte, insistindo em que a começa na família, onde se
aprende o agradecimento, o respeito e a justiça social.
Se faz necessário resgatar a capilaridade da Igreja, em
palavras de Dom Guilherme, que fazia um chamado a recuperar o profetismo na
Igreja, pois o Brasil está polarizado dentro das igrejas. O bispo de Lages
denunciava que os que assumem a verdade do Evangelho, que está fundamentada na
justiça, no amor aos pobres, quando assume a Palavra de Deus, são chamados de
comunistas, como acontece com o Papa Francisco, que neste domingo lembrava que a
defesa dos pobres, isso é puro cristianismo. Segundo o bispo somos desafiados a
retomar com radicalidade o seguimento do Jesus histórico, que nasceu na periferia
do mundo. Recuperar o espírito do Pacto das Catacumbas, e no Pacto pela Vida, recuperar
o direito à segurança alimentar, ao auxilio emergencial.
Em relação com a Campanha da Fraternidade, Dom João Justino,
insistia em que “as desigualdades sociais afrontam a própria dignidade da
pessoa humana”, e por isso “supera-las, para nós que somos cristãos, passa pela
conversão”. O arcebispo de Montes Claros vê a Campanha da Fraternidade,
celebrada na quaresma, como um “apelo a construir um mundo mais humano, de
fraternidade”. O desafio está em pensar ações, propor atividades, desencadear
processos para contribuir na superação das desigualdades sociais, segundo o
arcebispo. Nesse sentido, ele coloca a educação como “uma aposta fundamental
para superar as desigualdades sociais”.
Dom Leomar lembrava da figura de Edith Stein, que em seu
papel de educadora definia educar como “guiar os outros seres humanos de modo
que eles se tornem o que eles devem ser”. Segundo o bispo auxiliar de Porto
Alegre, “isso precisa da família, da escola, da igreja, da sociedade”. Se faz
necessário hoje “educar os jovens para a transcendência, para o Mistério”, e ao
mesmo tempo criar redes, um grande pacto, criar uma aliança, um compromisso
comum, algo que está se concretizando no Pacto Educativo Global.
Ao ser perguntado sobre como levar para a vida daqueles que
participam da vida da igreja a necessidade de um compromisso profético, Dom Guilherme
fazia referência à Conferência de Medellín, que denunciava que “um dos maiores
pecados a omissão”, o que “muitas vezes acontece porque ela é mais cômoda e porque
as pessoas não querem se comprometer”. Segundo o bispo de Lages, “nós temos omissões
porque nós temos os cristãos que nós Igreja educamos ou deixamos de educar”.
Segundo Dom Guilherme tem que ter “consciência de que o compromisso, tentarmos
mudar esse mundo em Reino de Deus é de todos nós”, fazendo um chamado a ser uma
Igreja mais participativa, a descer da arquibancada e entrar no campo de jogo, como
cristãos e como cidadãos. O bispo lembrava a Carta de Santiago que diz que “a
fé sem obras é morta”, insistindo em que “não adianta levantar as mãos, eu
rezar para Deus, mas eu não colocar as mãos a serviço”, insistindo na necessidade
de ação, de deixar de ser cristãos assistentes, para nos tornarmos cristãos
ativos.
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