Os bispos da Amazônia brasileira estão reunidos nos dias 18 e 19 de maio para refletir sobre a realidade sociopolítica e eclesial, e avaliar a caminhada da Igreja da região após a realização da Assembleia Sinodal do Sínodo para a Amazônia. O encontro, que acontece em modo virtual, e conta com a participação de umas 80 pessoas, quer ajudar a vislumbrar possibilidades para seguir construindo os novos caminhos e tornar realidade os sonhos de Francisco na Querida Amazônia.
Não
podemos esquecer como “é importante manter o hábito de resituar continuamente
os processos pastorais no contexto sócio-eclesial, que está sempre em movimento”,
segundo o padre Agenor Brighenti. Trata-se de uma ideia nascida da reflexão de
Medellín, que deve levar a ler os “sinais dos tempos”. Segundo o membro da Equipe
de Reflexão Teológica do CELAM, a profecia de Paulo VI se cumpriu, lembrando
suas palavras na mensagem aos Bispos da Amazônia, reunidos em Santarém, em 1972,
quando ele disse que “Cristo aponta para a Amazônia”.
“Mesmo em meio à gravidade de uma
pandemia, que dura mais de um ano, praticamente o mundo inteiro olha para a
Amazônia, assim como o olhar da Igreja em geral também está focado na Amazônia”,
enfatizava o padre Brighenti. Esse olhar para a Amazônia tem motivos para se
alegrar, mas também para se indignar, se tornando algo alentador, mas que também
aumenta a responsabilidade. Por isso, ele se perguntava: “Será que a Igreja na
Amazônia terá condições de responder às exigências do momento?” Para assim ser,
“precisa da colaboração e o apoio de todos os comprometidos com a vida na
Região”, afirmava o perito sinodal.
A pandemia tem voltado o olhar para
a Amazônia, trata-se de uma crise que se desdobra em várias crises: sanitária,
econômico-social, política e de instrumentalização da religião. Essa situação de
crise, leva o padre Brighenti a se perguntar: “Como e quando sairemos desta
pandemia e em que situação sairá a Igreja? Que novos desafios lhe esperam?”, colocando
Fratelli Tutti como fonte de luz, também para a Amazônia.
A Amazônia tem irrompido no
contexto mundial e da Igreja universal, como novo sujeito e novo paradigma,
segundo Agenor Brighenti. A Amazônia é novo sujeito pela questão ecológica, que
tem a ver com a sobrevivência do planeta, e pelo direito a existir dos povos
originários, secularmente invisibilizados, mas que “são portadores de uma
sabedoria ainda não conhecida, recebida ou acolhida e que faz toda a diferença
nestes tempos de encruzilhada no projeto civilizacional moderno ocidental”. A
Amazônia é novo paradigma que leva a descobrir a responsabilidade para com as
gerações futuras, e a assumir que “os povos invisibilizados, não são povos
atrasados, não-civilizados, mas que tem sua própria civilização”.
Essa reflexão tem
um impacto na missão da Igreja, que já não pode ignorar a questão ecológica, uma
atitude assumida pela Igreja da Amazônia, onde “a ecologia já está e pode estar
ainda mais presente na espiritualidade, na educação da fé, na celebração da fé,
nas ações concretas”. Nessa pastoral da ecologia, lembrando o apontado pelo Sínodo
da Amazônia, “temos muito a aprender dos povos indígenas”, afirma o perito sinodal.
Na ação evangelizadora com os povos originários, Agenor Brighenti faz um chamado a superar toda postura colonizadora na evangelização, algo que aparece no Documento Final do Sínodo e no Documento de Aparecida, a ser uma Igreja que faz da periferia o centro, que protege as culturas dos povos da Amazônia, que promove a inculturação da liturgia e dos ministérios, assim como uma inculturação das estruturas da Igreja, “mais sinodais, flexíveis, participativas”, como acontece com a CEAMA e a Assembleia Eclesial Latino-americana y Caribenha. Estamos diante de “uma Igreja gerida por organismos de comunhão e participação como equipes, conselhos e assembleias de pastoral, antídotos do clericalismo, a partir das CEBs”, segundo Brighenti.
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