domingo, 9 de maio de 2021

Ser mãe no mundo indígena: cuidadoras da vida e da cultura de geração em geração


O primeiro sateré mawé nasceu de Nuamuçabe, que além de gerar a vida é a cuidadora do paraíso. Trata-se de dois elementos interligados, que tem muita importância na vida de Marcivana Sateré Mawé, mulher, mãe e liderança indígena.

Os povos indígenas na Amazônia brasileira são numerosos, assim como as cosmovisões que fazem parte da sua história. Essa cultura tem sido transmitida de geração em geração, e quem faz isso são as mulheres, as mães e as avós. Marcivana diz lembrar da trajetória da sua avó, de quem aprendeu o papel da mulher na vida do povo Sateré mawé, descer no rio, fazer canoa, ir pro roçado, cuidar do filho, repassar a cultura, a língua, os conhecimentos orais recebidos de outras mulheres. 

Hoje, a realidade da mulher indígena é diferente, são muitas as que estão “na linha de frente, do movimento indígena, assumindo um papel importante nesse contexto político que nós temos hoje”, afirma a auditora no Sínodo para a Amazônia. Nesse ponto, ao pensar nas mães de hoje, lembra “da minha mãe, que tinha esse pulso de guerreira”. Ela fala de “Sônia Guajajara, liderança da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), que é mãe, Nara Baré, que está na coordenação da COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), eu que estou à frente atualmente da COPIME (Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno), tantas outras lideranças mães que estão à frente das nossas organizações locais, mães que se juntam para fortalecer uma luta”.

Existe um elemento importante nas cosmovisões indígenas, ainda mais no universo feminino, que é o cuidado com a mãe Terra. Marcivana diz que “quando eu penso nas mães indígenas, também penso na mãe Terra, é um processo que se dá assim, a mãe indígena cuida da terra e a mãe Terra cuida das gerações que nascem das mães indígenas”.




Nessa cosmovisão do povo Sateré mawé, Nuamuçabe era a que cuidava da mãe Terra, que quando tem o filho, o filho volta ao seio da mãe Terra e a mãe Terra lhe dá vida novamente, gerando o povo Sateré mawé. É por isso que, no pensamento da liderança indígena, “não tem como falar de nós, mães indígenas, sem falar dessa relação que a gente tem com a outra mãe, com a mãe Terra”. Daí ela pensa “como nós hoje estamos nessa luta, de manter essa cultura para os nossos filhos, para as gerações futuras, e também de continuarmos cuidadoras da mãe Terra”. 

As mães indígenas, segundo Marcivana, “a gente tem essa missão, do repasse cultural, repasse da luta, o repasse do entendimento político, desse entendimento de entender esse contexto que nós vivemos”. É por isso, que as mulheres indígenas vivem o Dia das Mães como um momento “muito significativo, no sentido de reconhecer essas mulheres como mães, mães de luta, mães guerreiras, mães que assumem um papel importante frente às organizações indígenas, mães que estão conquistando espaços, não apenas dentro do movimento indígena, mas em outros espaços, como a Joênia Wapicchana, que está ali como deputada federal”.

Mas como mãe indígena, Marcivana Sateré Mawé vê o futuro com preocupação. O fato de morar numa grande metrópole como Manaus, a faz ter “muita preocupação em relação à minha filha, como manter viva essa cultura numa cidade como é Manaus, como repassar para ela aquilo que minha avó, minha mãe me repassaram, diante de um contexto tão diferente”. Ela afirma que “além de estar à frente desses grandes movimentos, a gente também tem esses desafios nossos dentro de casa, porque a final somos nós que repassamos, somos nós mães, que mantemos essa cultura viva até os dias de hoje, são as mulheres as grandes responsáveis por isso”. 

O Dia das Mães acontece num momento, afirma Marcivana Sateré Mawé, “num momento de muito ataque às mulheres indígenas, ataque constante”. Ela relata o acontecido com a Associação das Mulheres Mundurucu, no Pará, o ataque a Sônia Guajajara, consequência, segundo a liderança indígena, “que nós ocupamos um lugar importante dentro do movimento indígena”. O Dia das Mães chama muito a atenção, insiste Marcivana, “porque a mulher indígena tem muito essa função do cuidado, da proteção do território a da continuidade da nossa cultura para as gerações futuras”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1


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