A friagem no Brasil, inclusive no Norte do país, se
tornou notícia nas últimas horas, e isso deve nos levar a nos questionarmos
sobre o perigo desse frio tomar conta dos nossos corações e que eles fiquem
congelados. Um coração congelado não reage diante das situações, fica
impassível, não expressa sentimentos, e acaba morrendo.
Quando o coração da gente esfria, a gente deixa de ser
humano. Perder a humanidade, algo cada vez mais presente na sociedade atual, se
tornou uma realidade preocupante. A humanidade é a condição que nos leva a nos
preocuparmos com o sofrimento dos outros, que nos faz reagir diante das
injustiças, que nos leva a lutar por direitos para todos e todas, mas
especialmente para os mais fracos, para os pequenos, para aqueles que não
contam.
Nesta semana, Dom Joel Portella Amado se perguntava: “Se
nós não somos um país que pode confiar sequer na garantia e na proteção dada
pela sua lei maior, onde é que nós vamos?” Ele fazia esse questionamento no
acampamento da Esplanada dos Ministérios, onde os povos indígenas lutam por
defender os direitos garantidos na Constituição Federal, e o primeiro direito é
à terra, que para os povos originários é Mãe e não objeto de lucro e exploração
desmedida.
Diante de uma luta que se prolonga durante semanas,
muitos de nós fazemos de conta que não está acontecendo nada. Inclusive
deixamos ser manipulados por meios de comunicação que na tentativa de favorecer
interesses políticos e econômicos distorcem informações, colocando as vítimas
como culpados.
O que fazer para aquecer os nossos corações? Como
mostrar empatia por aqueles que são vítimas de projetos de morte? Qual é o lado
que a gente escolhe? Como deixar de estar sempre acima do muro e tomar postura
pelas vítimas? Como evitar continuar sendo manipulados por aqueles que estão ao
serviço do poder e não do povo?
Quando a gente se questiona e tenta responder às
perguntas, a gente vai aquecendo o coração, vai criando sentimentos de empatia,
que evitam viver como se nada estivesse acontecendo em volta da gente, ou como
se nada do que acontece nos atingisse. Não podemos nos somar a discursos
dominantes que justificam mortes cruéis, seja quem for o ajustiçado.
Quando a gente não conhece a realidade na sua
totalidade, quando os verdadeiros culpados ficam protegidos por um sistema que
tem lado, nos tornamos aliados daqueles que se colocam como donos da lei,
inclusive da lei suprema que é a vida, da qual ninguém pode dispor. Um dos
grandes desafios é defender a vida, e isso a gente o consegue quando a gente tem
sentimentos, quando o coração está aquecido. A friagem sempre tem que ser
passageira, sobretudo aquela que pode nos esfriar o coração para sempre.
Que bonito! Sinto tanto pelas mentiras usadas para dominação, pelas meias verdades encobrindo a realidade. Aquecer o coração deve ser também sair de si mesmo e se colocar no lugar do outro. O que o outro espera de mim?
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