terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Mauricio López: "O ritmo da Igreja na América Latina tem o selo de Querida Amazônia"


Como "um processo que continua", é assim que Mauricio López vê os passos dados desde a publicação de Querida Amazônia, a exortação pós-sinodal de um Sínodo no qual o atual coordenador do Centro de Redes e Ação Pastoral do Celam participou de forma muito ativa, em sua qualidade de Secretário Executivo da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM).

A grande novidade deste processo está na "irrupção de um novo sujeito eclesiológico dos povos, comunidades e da Igreja encarnada na Amazônia", elemento que, nas palavras de Mauricio López, "continua avançando e dando vida a toda a Igreja e a este território". Mais do que apenas um documento inspirador, o auditor sinodal enfatiza que "Querida Amazônia acolheu, afirmou e abraçou um programa". E acima de tudo, ele disse que "esta periferia que irrompeu no centro para ajudar, para iluminar, continua avançando com este programa".

Para Maurício, "há muita vida em movimento na Amazônia, independente da terrível situação pandêmica que continua a atingir, sobretudo, os povos mais vulneráveis, e que reflete precisamente a urgência de novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral". Neste contexto de pandemia, ele insiste que "percebemos que ainda há uma necessidade imperativa e inegável de transformar a dinâmica eclesial, de continuar a tecer a conversão pastoral". Por esta razão, ele destaca o papel do Papa Francisco, como alguém que "intui, abraça a história de um caminho já percorrido, afirma-o no momento da renovação eclesial e o projeta para frente".



A partir daí, Mauricio López enfatiza que, "neste sentido, vemos realmente que o processo ainda está vivo, que foi absolutamente decisivo na resposta muito mais profunda, mais testemunhal, profética, eficaz e consensual da Igreja em meio a esta pandemia e com uma visão absoluta de continuar tecendo esta conversão junto com a Igreja regional e com a Igreja universal".

Falando das realizações concretas, ele enumerou algumas delas: "primeiro, a apropriação que muitas comunidades, povos, organizações e órgãos eclesiais fizeram do processo". A partir daí, ele define Querida Amazônia como "uma carta de amor do Papa para afirmar que suas propostas e vozes são relevantes e, em muitos lugares, algumas das grandes novidades ainda estão sendo refletidas, levadas em conta, incorporadas como propostas pastorais que Querida Amazônia apresenta".

Em segundo lugar, a criação da Conferência Eclesial da Amazônia, a CEAMA, "que é um fruto direto desta experiência do Sínodo e afirmada pela Exortação Apostólica, é agora o instrumento capacitador, em construção, mas já com aprovação canônica ad experimentum do Papa Francisco, para assegurar que, em uma chave estrutural, com uma visão de longo prazo e com uma perspectiva territorial-regional e plenamente eclesial, continuem a ser feitos progressos nestes processos".




No processo de desenvolvimento da CEAMA, ele enfatiza que "comissões e grupos de trabalho estão sendo criados, e alguns deles vêm articulando suas reflexões há algum tempo, definindo um caminho a seguir, e no momento atual, eles continuam a avançar com um planejamento pastoral que está sendo feito para a CEAMA". Tudo isso focalizou "algumas das questões mais urgentes: a questão da ministerialidade, a questão da formação para essa ministerialidade, os ministérios da mulher, aspectos da espiritualidade inculturada, algumas questões associadas à ecologia integral, o cuidado com a casa comum, questões também associadas às áreas de comunicação, a defesa dos povos, os direitos humanos e, acima de tudo, outros elementos facilitadores, como a criação do rito amazônico, os diáconos permanentes, etc.".

A outra grande novidade, segundo Mauricio López, são "muitas das instâncias que já foram articuladas em torno dos processos de transformação eclesial neste território, tanto eclesial como não". Aqui se destaca a REPAM, "que desempenhou um papel absolutamente decisivo na escuta e preparação do Sínodo Amazônico, que levou à Querida Amazônia". Juntamente com ela, CLAR, CELAM, a Cáritas da América Latina e muitas das alianças que estão sendo estabelecidas em termos de articulação com os povos indígenas, como o Fórum Social Pan-Amazônico, como a Aliança Mundial para a Amazônia. São órgãos que "receberam um forte impulso desta Exortação Apostólica para reafirmar suas causas, seus canais, seus processos, suas agendas", reafirma Maurício.

Em sua reflexão, ele ressalta que "a amplitude de visão de Querida Amazônia conseguiu atender aos apelos do território, mas delinear, com a mão corajosa e clarividente do Papa Francisco, o impulso para o futuro porque as mudanças são necessárias agora, progressivamente, mas agora". Tudo isso acontece "na chave da Igreja, em um ritmo lento, mas concreto, visível e evidente". Em termos de ecologia integral, "mudanças que precisam ser feitas agora diante da enorme crise ambiental que estamos vivenciando" são reafirmadas.

Para Mauricio López, "vimos como todos esses órgãos discerniram desde Querida Amazônia para reorientar suas missões, reafirmar suas missões, afirmar ainda mais as causas da incidência política e continuar a produzir transformações que durante a pandemia, como já expresso, estão agora tendo ainda maior relevância". Por esta razão, ele não hesita em dizer abertamente que "se não tivéssemos tido a Assembleia do Sínodo Amazônico, o processo de escuta e a Exortação Apostólica, estou absolutamente certo de que a resposta da Igreja à pandemia em articulação com a sociedade e as comunidades teria sido muito mais frágil, mais fragmentada, menos decisiva".



Isto não significa que não tenha sido insuficiente, pois "os irmãos e irmãs que vivem neste território continuam sendo crucificados, assassinados por defender a vida, perseguidos, criminalizados; o desmatamento cresceu incessantemente durante a pandemia, mas a força dos processos também foi investida com a presença do Espírito Santo, graças a esta Exortação Pós-Sinodal que tem agora dois anos".

Falando de mudanças específicas no nível da América Latina e do Caribe, a partir de seu papel no CELAM e de sua destacada participação em todo o processo da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, tanto na escuta, na sistematização das vozes, quanto na metodologia, ele enfatiza que "toda a dinâmica de renovação e reestruturação do CELAM, já aprovada para os próximos dois anos, é explicitamente inspirado pelos quatro sonhos pastorais do Papa na Querida Amazônia, quatro sonhos que vêm do povo de Deus, que refletem a vida, a esperança e suas dores, mas que são assumidos pelo Papa: sonho social, sonho cultural, sonho ecológico e sonho eclesial".

Além disso, Maurício ressalta que "muitas das dinâmicas pastorais que estão sendo construídas, articuladas a partir de redes, plataformas, com uma visão muito mais ampla e uma visão ministerial, uma visão também de conversão integral, têm a marca e a trama direta de Querida Amazônia". Algo também presente na Assembleia Eclesial, "o modo de escutar, o modo metodológico de preparação, a grande participação do povo de Deus, a visão eclesial, não apenas episcopal, e a presença da periferia, do improvável no processo". Tudo isso é "o fruto do caminho feito com o Papa Francisco na Amazônia e que se tornou um instrumento vivo, não só no papel, mas de vida que se transformou graças à Exortação Querida Amazônia".

Reconhecendo que ainda há um longo caminho a percorrer, Maurício insiste que "o ritmo da Igreja na Amazônia, o ritmo da Igreja na América Latina e eu acredito que a influência em alguns aspectos da Igreja universal, tem o selo deste processo, tem o selo da Querida Amazônia e tem a marca viva deste povo de Deus a caminho, dos povos e comunidades indígenas, camponeses e das igrejas e membros da Igreja encarnados neste território".


Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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