Como "um processo que continua", é assim que
Mauricio López vê os passos dados desde a publicação de Querida Amazônia, a
exortação pós-sinodal de um Sínodo no qual o atual coordenador do Centro de
Redes e Ação Pastoral do Celam participou de forma muito ativa, em sua
qualidade de Secretário Executivo da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM).
A grande novidade deste processo está na "irrupção de
um novo sujeito eclesiológico dos povos, comunidades e da Igreja encarnada na
Amazônia", elemento que, nas palavras de Mauricio López, "continua
avançando e dando vida a toda a Igreja e a este território". Mais do que
apenas um documento inspirador, o auditor sinodal enfatiza que "Querida
Amazônia acolheu, afirmou e abraçou um programa". E acima de tudo, ele
disse que "esta periferia que irrompeu no centro para ajudar, para
iluminar, continua avançando com este programa".
Para Maurício, "há muita vida em movimento na Amazônia,
independente da terrível situação pandêmica que continua a atingir, sobretudo,
os povos mais vulneráveis, e que reflete precisamente a urgência de novos
caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral". Neste contexto de
pandemia, ele insiste que "percebemos que ainda há uma necessidade
imperativa e inegável de transformar a dinâmica eclesial, de continuar a tecer
a conversão pastoral". Por esta razão, ele destaca o papel do Papa
Francisco, como alguém que "intui, abraça a história de um caminho já
percorrido, afirma-o no momento da renovação eclesial e o projeta para
frente".
A partir daí, Mauricio López enfatiza que, "neste
sentido, vemos realmente que o processo ainda está vivo, que foi absolutamente
decisivo na resposta muito mais profunda, mais testemunhal, profética, eficaz e
consensual da Igreja em meio a esta pandemia e com uma visão absoluta de
continuar tecendo esta conversão junto com a Igreja regional e com a Igreja
universal".
Falando das realizações concretas, ele enumerou algumas
delas: "primeiro, a apropriação que muitas comunidades, povos,
organizações e órgãos eclesiais fizeram do processo". A partir daí, ele
define Querida Amazônia como "uma carta de amor do Papa para afirmar que
suas propostas e vozes são relevantes e, em muitos lugares, algumas das grandes
novidades ainda estão sendo refletidas, levadas em conta, incorporadas como
propostas pastorais que Querida Amazônia apresenta".
Em segundo lugar, a criação da Conferência Eclesial da
Amazônia, a CEAMA, "que é um fruto direto desta experiência do Sínodo e
afirmada pela Exortação Apostólica, é agora o instrumento capacitador, em
construção, mas já com aprovação canônica ad experimentum do Papa Francisco,
para assegurar que, em uma chave estrutural, com uma visão de longo prazo e com
uma perspectiva territorial-regional e plenamente eclesial, continuem a ser
feitos progressos nestes processos".
No processo de desenvolvimento da CEAMA, ele enfatiza que
"comissões e grupos de trabalho estão sendo criados, e alguns deles vêm
articulando suas reflexões há algum tempo, definindo um caminho a seguir, e no
momento atual, eles continuam a avançar com um planejamento pastoral que está
sendo feito para a CEAMA". Tudo isso focalizou "algumas das questões
mais urgentes: a questão da ministerialidade, a questão da formação para essa
ministerialidade, os ministérios da mulher, aspectos da espiritualidade
inculturada, algumas questões associadas à ecologia integral, o cuidado com a
casa comum, questões também associadas às áreas de comunicação, a defesa dos
povos, os direitos humanos e, acima de tudo, outros elementos facilitadores,
como a criação do rito amazônico, os diáconos permanentes, etc.".
A outra grande novidade, segundo Mauricio López, são
"muitas das instâncias que já foram articuladas em torno dos processos de
transformação eclesial neste território, tanto eclesial como não". Aqui se
destaca a REPAM, "que desempenhou um papel absolutamente decisivo na
escuta e preparação do Sínodo Amazônico, que levou à Querida Amazônia".
Juntamente com ela, CLAR, CELAM, a Cáritas da América Latina e muitas das
alianças que estão sendo estabelecidas em termos de articulação com os povos
indígenas, como o Fórum Social Pan-Amazônico, como a Aliança Mundial para a
Amazônia. São órgãos que "receberam um forte impulso desta Exortação
Apostólica para reafirmar suas causas, seus canais, seus processos, suas
agendas", reafirma Maurício.
Em sua reflexão, ele ressalta que "a amplitude de visão
de Querida Amazônia conseguiu atender aos apelos do território, mas delinear,
com a mão corajosa e clarividente do Papa Francisco, o impulso para o futuro
porque as mudanças são necessárias agora, progressivamente, mas agora".
Tudo isso acontece "na chave da Igreja, em um ritmo lento, mas concreto,
visível e evidente". Em termos de ecologia integral, "mudanças que
precisam ser feitas agora diante da enorme crise ambiental que estamos
vivenciando" são reafirmadas.
Para Mauricio López, "vimos como todos esses órgãos
discerniram desde Querida Amazônia para reorientar suas missões, reafirmar suas
missões, afirmar ainda mais as causas da incidência política e continuar a
produzir transformações que durante a pandemia, como já expresso, estão agora
tendo ainda maior relevância". Por esta razão, ele não hesita em dizer
abertamente que "se não tivéssemos tido a Assembleia do Sínodo Amazônico,
o processo de escuta e a Exortação Apostólica, estou absolutamente certo de que
a resposta da Igreja à pandemia em articulação com a sociedade e as comunidades
teria sido muito mais frágil, mais fragmentada, menos decisiva".
Isto não significa que não tenha sido insuficiente, pois
"os irmãos e irmãs que vivem neste território continuam sendo
crucificados, assassinados por defender a vida, perseguidos, criminalizados; o
desmatamento cresceu incessantemente durante a pandemia, mas a força dos
processos também foi investida com a presença do Espírito Santo, graças a esta
Exortação Pós-Sinodal que tem agora dois anos".
Falando de mudanças específicas no nível da América Latina e
do Caribe, a partir de seu papel no CELAM e de sua destacada participação em
todo o processo da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, tanto na
escuta, na sistematização das vozes, quanto na metodologia, ele enfatiza que
"toda a dinâmica de renovação e reestruturação do CELAM, já aprovada para
os próximos dois anos, é explicitamente inspirado pelos quatro sonhos pastorais
do Papa na Querida Amazônia, quatro sonhos que vêm do povo de Deus, que
refletem a vida, a esperança e suas dores, mas que são assumidos pelo Papa:
sonho social, sonho cultural, sonho ecológico e sonho eclesial".
Além disso, Maurício ressalta que "muitas das dinâmicas
pastorais que estão sendo construídas, articuladas a partir de redes,
plataformas, com uma visão muito mais ampla e uma visão ministerial, uma visão
também de conversão integral, têm a marca e a trama direta de Querida
Amazônia". Algo também presente na Assembleia Eclesial, "o modo de escutar,
o modo metodológico de preparação, a grande participação do povo de Deus, a
visão eclesial, não apenas episcopal, e a presença da periferia, do improvável
no processo". Tudo isso é "o fruto do caminho feito com o Papa
Francisco na Amazônia e que se tornou um instrumento vivo, não só no papel, mas
de vida que se transformou graças à Exortação Querida Amazônia".
Reconhecendo que ainda há um longo caminho a percorrer, Maurício
insiste que "o ritmo da Igreja na Amazônia, o ritmo da Igreja na América
Latina e eu acredito que a influência em alguns aspectos da Igreja universal,
tem o selo deste processo, tem o selo da Querida Amazônia e tem a marca viva
deste povo de Deus a caminho, dos povos e comunidades indígenas, camponeses e
das igrejas e membros da Igreja encarnados neste território".
Nenhum comentário:
Postar um comentário