Uma Igreja com rosto amazônico é construída em sinodalidade,
caminhando junto com os povos indígenas. Belém do Solimões, na Diocese de Alto
Solimões tem se tornado uma referência de Igreja inculturada, que acompanha as
comunidades do povo Ticuna, o mais numeroso da Amazônia, espalhado na Tríplice
Fronteira entre o Brasil, a Colômbia e o Perú, mas também outros povos indígenas
da região.
Nessa caminhada, aconteceu de 27 a 30 de março de 2022 o 1º
Ajurí de Ecologia Indígena, organizado pela Associação de Desenvolvimento
Artístico e Cultural da Aldeia Indígena de Belém do Solimões (ADACAIBS) e a
Associação de Mulheres Indígenas MAPANA, com a participação de mais de 300
indígenas, de mais de 30 comunidades das Terras Indígenas Eware I e Eware II, entre
caciques e lideranças, com grande participação de jovens e mulheres, dos povos Ticuna,
Kokama e Kambeba.
O objetivo era “buscar juntos soluções possíveis, abraçar
novos compromissos e projetos para os problemas urgentes, crescentes e comuns
das comunidades participantes”, tendo como lema: Ngi’ã tadaugü torü ĩpata ya
guanearü! (Vamos cuidar de nossa Casa Comum!).
Nos encontros, onde a língua indígena é a forma de se
comunicar, também se fazem presentes outras expressões culturais da região, que
mostram a mística que acompanha a vida dos povos originários, o que facilita a
compreensão aos indígenas de diversas etnias e línguas presentes nos encontros.
Nesta ocasião foi apresentado em forma de teatro diferentes realidades que
atingem aos povos: diminuição e falta de peixes, diminuição e falta de madeira,
aumento do lixo, falta de saneamento básico, alcoolismo, drogas, violência...
O fato de se reunir as comunidades indígenas, de caminhar
juntos, em prol do cuidado da Casa Comum, se torna um elemento importante,
também para a vida da região e de uma Amazônia constantemente ameaçada. O
encontro foi momento para socializar experiências que ajudam entender que é
possível mudar a realidade, também nas comunidades indígenas.
Nesse sentido, os participantes do encontro conheceram o Projeto
Guardiões ecológicos, da REPAM-Brasil; o Projeto Agrovida (REJICARS); o Projeto Vida, das irmãs Cordimarianas,
financiado por MISEREOR/FUCAI; a Eco Cooperativa Manaus; projetos de Avicultura/Agricultura
da MAPANA (IDAM). Mas também escutaram os gritos que vem das comunidades, o que
levou a buscar possibilidades de somar entre as diferentes instituições que
trabalham na região, dentre elas a Paróquia São Francisco de Assis de Belém do
Solimões, os Frades Menores Capuchinhos de Belém do Solimões, a Diocese de Alto
Solimões, a Caritas, o CIMI, a REPAM-Brasil, e as comunidades indígenas.
A voz das mulheres e jovens indígenas tem iluminado os
participantes do encontro para “compreender aonde precisamos avançar para
amadurecer como povos indígenas das terras Eware I e Eware II, com protagonismo
e reponsabilidade para com a nossa Mãe Terra e as futuras gerações”.
Tudo o que foi vivenciado no encontro foi recolhido no
Documento Final, onde são relatadas as ações que devem ser realizadas a curto,
médio e longo prazo, nascidas “de uma atenta escuta e de uma maior
conscientização de todos”, e apoiadas por unanimidade.
A curto prazo serão realizadas oficinas sobre cada uma das
temáticas, no mês de junho, para professores e estudantes indígenas; a
preparação do 9º Festival de Cultura Indígena do Eware, a ser realizado de 4 a
9 de julho de 2022, com a temática da Ecologia; prosseguimento do 1º AJURI de
Ecologia Indígena, envolvendo também as comunidades que não se fizeram
presentes.
A médio e longo prazo, os participantes decidiram elaborar o
projeto de um centro cultural de formação; realizar, durante o 9º Festival de
Cultura Indígena, o próximo Encontro Geral das comunidades do Eware I e II, com
a presença dos caciques, para dar vida oficial ao Centro Cultural e planejar os
próximos passos; projeto para um centro de triagem de materiais recicláveis
para comercialização; projeto para abertura de uma delegacia indígena em Belém
de Solimões.
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