A irmã Rose
Bertoldo acaba de assumir sua nova missão como secretária executiva do Regional
Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A religiosa da
Congregação do Imaculado Coração de Maria completou recentemente 10 anos de
missão na Amazônia, da qual já se sente parte, dedicados de modo especial no
enfrentamento ao abuso, exploração sexual e o tráfico de pessoas na Rede um
Grito pela Vida.
A religiosa
assume sua nova missão “com o coração livre, pois percebo a presença de Deus”,
se colocando “numa atitude de muita abertura, escuta, como mulher que continua
aprendendo”. Ela vai relatando os desafios que espera encontrar, mas ao mesmo
tempo, enfrenta o futuro desde a perspectiva da sinodalidade, juntos, em
comunhão, buscando “construir e solidificar processos”, desde “a capacidade de
escutar, ser presença”.
Recentemente
a senhora completou dez anos de missão na Amazônia. Como se sente diante deste
novo serviço que o Regional Norte1 está lhe encomendando?
Celebrar os
10 anos de presença na Amazônia é reavivar a paixão, esse grande amor que tenho
pela Amazônia. É também fazer memória de toda a construção coletiva feita
juntos ao longo desses anos. O trabalho da Rede Um Grito pela Vida me
possibilitou conhecer as nove dioceses e prelazias do Regional Norte 1 e isso
me ajudou muito a conhecer os diversos territórios e muitas das realidades,
todo o processo sinodal e a sinodalidade construída juntos.
Não me sinto
alguém que olha a Amazônia de fora, mas alguém que já se sente parte dela. Quando a gente é parte integrante, a gente
caminha junto, constrói, sonha, aprende e reaprende no cotidiano da vida. Quando
a gente mais conhece a história da Igreja da Amazônia mais a gente se apaixona
por ela. As coisas não são fáceis, cada vez mais os territórios e seus povos
estão sendo feridos, destruídos, a gente sente a dor dessa realidade no nosso
próprio corpo, e por isso a gente se envolve cada vez mais nos processos de
mudanças, pois sonha com tempos melhores.
Estar neste
território sagrado é motivo de muita gratidão. Para mim, sempre foi uma opção
estar na Amazônia, e depois de 10 anos também a gente vai avaliando essa
presença, a gente vai percebendo o caminho realizado, e me dou conta de que
neste caminho tem muita gente que trilhou comigo. Foram caminhos construídos
juntos, é um caminho perpassado por muitos desafios, mas sempre cheio de
esperança.
Na
Congregação a gente prima muito pela itinerância de não ficar muito tempo numa
comunidade, mas eu sempre tive a consciência de que para estar na Amazônia é
necessário permanecer mais tempo, porque aqui o tempo tem outra dimensão. É
presença, para poder adentrar, conhecer com mais profundidade essa realidade e
também ser essa presença missionária junto às populações, e justo neste momento,
eu recebo o convite para este novo serviço no Regional.
Posso dizer
que não foi fácil decidir, porém não foi uma decisão individual. Rezei muito,
conversei com minha comunidade e depois conversei com minha provincial. Por isso
não assumo sozinha, assumo como uma presença Congregacional nesse território da
Amazônia. E hoje também não entendemos os serviços como uma responsabilidade
individual e sim tem a dimensão coletiva. Por isso conto com muita gente que
contribuirá nesse caminho.
Me sinto e
assumo essa missão com o coração livre, pois percebo a
presença de Deus. Ele vai dando sinais na vida da gente e vai preparando a
gente para a missão, basta a gente estar com o coração aberto. Me coloco numa
atitude de muita abertura, escuta, como mulher que continua aprendendo e se
desafia a continuar na tessitura da grande rede do cuidado da vida, da pastoral
no nosso Regional.
Quais os desafios que
enfrenta diante da nova missão?
O Regional Norte 1 tem
uma história de construção coletiva, o secretário tem a missão de articular os
serviços no território do Regional. Por isso, o primeiro desafio é conhecer
cada pastoral, serviço, me apropriar dos trabalhos de cada grupo, para poder
contribuir no fortalecimento das pastorais que existem no Regional, bem como os
organismos, redes e caminhar juntos, construindo pontes, tecendo caminhos
coletivos.
Também ser uma presença junto
às dioceses, prelazias, acompanhando os trabalhos dos coordenadores e coordenadoras,
dos bispos, dentro do possível. Se trata de dar continuidade de todo o processo
sinodal, uma experiência vivenciada com profundidade no Regional, construída
por muitas mãos. Contribuir para que as dioceses e prelazias deem vida ao Documento
Final do Sínodo e a Querida Amazônia, e sejam base para a realização dos planos
de pastoral.
Como secretária executiva
do Regional Norte1, quero continuar sendo presença enquanto Rede Um Grito pela
Vida, ampliando a articulação nas dioceses e prelazias. Junto com isso conhecer
toda dinâmica da CNBB Nacional mais de perto. E por fim neste processo de
construção de novos caminhos, dinamizar a implementação das Diretrizes do
Regional Norte 1, que a partir das Diretrizes Gerais da CNBB, foram construídas
a muitas mãos e tem um rosto próprio no coração da Amazônia.
Uma das funções do
secretariado executivo do Regional é a articulação pastoral, marcada nos
últimos anos pela sinodalidade. A senhora foi auditora no Sínodo para a
Amazônia, como continuar avançando no caminho sinodal no Regional Norte1?
As sementes de todo
processo sinodal construído juntos estão vivas, estão guardadas na terra -
coração, nos mais diversos cantos e recantos dessa Pan-Amazônia. No tempo certo
vão germinando e aos poucos se tornando árvores, dando seus frutos e abrigando
muitos sonhos que ao longo do tempo vão se tornando realidade nos diversos
territórios. É preciso respeitar os tempos que são diferentes para cada
realidade, para cada povo, nas diferentes culturas, mas nunca sufocar as
sementes e impedir seu processo de germinação. Assumo o compromisso de cuidar
para que no tempo certo possam germinar, diria, continuarei cultivando terrenos
e ajudando nos processos.
A sinodalidade é uma
opção do Regional Norte1 e o caminho percorrido pelo mesmo. Todas as Assembleias
do Regional foram marcadas pela forte presença de representações das pastorais,
dos organismos, bem como de lideranças indígenas, ribeirinhas, do campo e da
cidade, o que faz com que haja uma grande riqueza em cada assembleia. Com certeza haverá a continuidade desse
processo, fortalecendo o protagonismo dos leigos e leigas, especialmente das
mulheres.
Estamos em tempos
difíceis, quanto mais difíceis são os tempos maior é a graça que Deus nos dá. Por
isso é necessário fortalecer o trabalho em rede, juntar forças. Temos a Rede
Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), a
Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe, que são espaços de construção
para pôr em prática tudo aquilo que está englobado nos quatro sonhos o Papa
Francisco expressos na Querida Amazônia. São nossos sonhos, sonhar em uma
igreja da Amazônia que cuida da vida dos povos e seus territórios.
Peço a Deus que me dê a
graça da continuidade neste caminho da sinodalidade, que me dê a capacidade de escutar, ser presença, e a partir das
diversas realidade do Regional Norte1 construir e solidificar processos.
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