Foi lançado nesta segunda-feira 18 de abril na sede da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) o Caderno de “Conflitos no
Campo – Brasil 2021” da Comissão Pastoral da Terra (CPT), organismo vinculado à
CNBB.
O relatório, considerado um dos maiores aportes da CPT à
sociedade brasileira, registrou 1.768 conflitos no campo em 2021, um 13,92% a
menos em comparação à 2020 que registrou 2.054 ocorrências. São situações que
envolvem questões ligadas à terra, à água e aos direitos trabalhistas, que mostram
a disputa pela terra e pelo território no Brasil, atingindo direta ou indiretamente
897.335 pessoas.
O lançamento contou com a presença do secretário-geral da
CNBB, Dom Joel Portella Amado, o presidente da CPT, Dom José Ionilton Lisboa de
Oliveira, e representantes da Comissão Pastoral da Terra, dos povos indígenas,
dos povos do campo e de organizações relacionadas com a Reforma Agraria.
O presidente da CNBB, Dom Walmor Azevedo de Oliveira, enviou
uma mensagem aos participantes do lançamento. Em suas palavras, destacando a
importância do relatório, o arcebispo de Belo Horizonte (MG) recordou as
palavras do Papa Francisco: “Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem
terra, nenhum trabalhador sem direitos”.
Segundo o secretário-geral da CNBB, o acesso à terra e a informação
real, em contraposição às falsas notícias, são condições essenciais numa
verdadeira democracia, cada vez mais ameaçada no Brasil. O bispo auxiliar do
Rio de Janeiro relacionou o trabalho da Comissão Pastoral da Terra e tudo o
relacionado com o Caderno de Conflitos com o processo da 6ª Semana Social
Brasileira, que tem como tema “Por terra, teto e trabalho”.
O foco dos conflitos por terra e por água no Brasil hoje
está na Amazônia Legal, que registrou 641 conflitos por terra em 2021 (49,49%
do total), 124 por água e 54 ocorrências de trabalho escravo. Os povos
indígenas são um dos coletivos mais atingidos. Nesse sentido, Jaque Kuña
Aranduhá, liderança indígena do povo Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul (MS),
destacou a importância do Cadernos, que considera uma ferramenta importante
para a luta dos povos indígenas do Brasil.
Um dos povos indígenas mais atingidos em seu território em
2021 foi o Povo Yanomami, cujo território está sendo duramente afetado pelo
garimpo ilegal. Segundo o Relatório, em 2021 foram registradas 109 mortes na Terra
Indígena Yanomami em decorrência de conflitos com os garimpeiros ilegais, o que
significa um aumento de 1.110%. Do total, 101 mortes foram registradas no
estado de Roraima.
Segundo o presidente da CPT, nascida em 1975, “nascemos e existimos
para cuidar da vida”, colocando o Caderno de Conflitos como um exemplo desse
cuidado com a vida, inspirado em Jesus Bom Pastor e que busca o bem comum, “tantas
vezes ameaçado pelo capitalismo selvagem, pelas mineradoras, pelo agronegócio,
pelas madeireiras e pelo garimpo ilegal”. O bispo da Prelazia de Itacoatiara
enfatizou que a CPT procura “estar perto das famílias ameaçadas e que sofreram
algum tipo de violência, injustiça e crime”.
A CPT está perto “para ser solidário, encorajar, proteger,
mas também ajudar a divulgar o que acontece e que não encontra espaços sempre
nos meios de comunicação”, insistiu Dom José Ionilton, que também se referiu à
importância da incidência política diante dos projetos de lei que ameaçam e
prejudicam os pequenos e traz benefício para quem já tem o capital. Uma
situação que piorou nos últimos anos segundo o bispo, que lembrou as vítimas da
luta pela terra no Brasil.
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