Fazer
memória de tudo o vivido três anos atrás e ao longo de todo o processo do
Sínodo para a Amazônia foi a motivação para a celebração realizada pelo Comitê
REPAM Manaus no dia 11 de outubro. Uma oportunidade para entender que “a gente
não perde a história e reaviva a certeza de estar colocando em prática todos os
encaminhamentos, tanto do Documento Final como da Querida Amazônia”, segundo a
irmã Rose Bertoldo.
Encaminhamento
que segundo a secretária executiva do Regional Norte1 vão se concretizando no
Regional “a partir das ações que foram tiradas como prioridade e vão sendo
realizadas nas igrejas particulares”. Tudo a partir do chão amazônico, de seus
elementos, presentes na celebração na terra, no ar, na água e no fogo. Mas
também através da Palavra de Deus e dos sonhos do Papa Francisco recolhidos em
Querida Amazônia.
Um Sínodo
que junto com a encíclica Laudato Si, ajudou a entender que “somos chamados a
entrar em sintonia no Deus que está em tudo e em todos”, segundo o padre Paulo
Tadeu Barausse. O jesuíta insistiu em que “Deus habita tudo. Deus está presente
em tudo e em todos. Isto requer de nós seres humanos uma dimensão
contemplativa”. Desde aí apelou por “uma Igreja com rosto amazônico, pobre e
servidora, profética e samaritana”, uma Igreja onde experimentar “a força do
Evangelho que atua nos pequenos”, que é convidada “a uma vida mais simples de
partilha e gratuidade”.
O jesuíta
fez ver “o compromisso de defender em nossos territórios e com nossas atitudes
a floresta amazônica em pé”; de “comprometermo-nos com uma economia integral,
na qual tudo está interligado”, de “acolher e renovar a cada dia a aliança de
Deus com todo o criado”. Algo presente na Eucaristia, que segundo ele é “fonte
de luz e motivação para as nossas preocupações pelo meio ambiente, e levar-nos
a ser guardiões da criação inteira”.
Um processo
que continua dando passos, como aconteceu neste ano com o Documento de
Santarém, fruto do encontro que fazia memória do realizado 50 anos atrás. Uma
Assembleia Sinodal onde pela primeira vez as mulheres eram um grupo
significativo, segundo lembrou a Ir. Rose, que foi uma das auditoras do Sínodo,
e que “está ajudando a trazer para a realidade a questão da ministerialidade,
voltada à presença da mulher na Amazônia, como alguém que faz a diferença”.
Espaços ocupados há tempo, mas que agora com o Papa Francisco com mais
intensidade, avançando em questões relacionadas com o diaconato feminino,
mostrando a concretude do Sínodo.
Um tempo
que vai além dos três anos que tem passado desde a Assembleia Sinodal, que teve
seu início com o processo de escuta, “onde nós fomos da periferia para o centro”,
segundo o padre Zenildo Lima. Segundo o reitor do Seminário São José da
Arquidiocese de Manaus, “nós arrastamos para Roma não somente as demandas, as
esperanças dos povos amazônicos e da Igreja na Amazônia, mas nós arrastamos
para lá um jeito de ser Igreja que marcou o centro”. Segundo o auditor sinodal,
“o atual Sínodo sobre a Sinodalidade é um desdobramento do Sínodo para a
Amazônia”.
A tarefa
agora é “voltar para as periferias e estar juntos, próximos das periferias”,
afirmou o padre Zenildo. Uma urgência diante da “derrocada da democracia e de
esperanças, e o que a gente vive hoje no Brasil é assustador e é muito
ameaçador para nossa esperança”. Periferias onde gente pequena está defendendo
dinâmicas de morte, destacou o padre, que disse que abraçar os sonhos moldados
pela Igreja e pelo Papa não será tarefa do centro e sim nossa. Por isso
ressaltou a necessidade de estarmos nas periferias, onde se reúne pouca gente,
gente pequena, nos pequenos sinais de luta que são organizados e nos pequenos
sinais de resistência, ainda mais vendo como o centro está com uma atitude avassaladora
diante dos pequenos e das periferias, que “é o lugar que a Igreja tem que estar”,
mesmo diante do fascínio pelo centro.
Algo que
tem que levar a pensar em que Igreja queremos, segundo Patrícia Cabral,
refletindo sobre a realidade das áreas missionárias na Arquidiocese de Manaus,
divididas em comunidades, mas que nem sempre é aceito. Segundo ela, isso “hoje
se tornou um desafio, porque a gente fala de voltar às periferias, a gente fala
de voltar às bases e a gente não está conseguindo isso, até porque a proposta
que muitas vezes a gente leva, ela não está encantando, porque eles estão sendo
encantados pelas outras propostas que estão sendo apresentadas", deixando
de lado tudo o que faz referência a questões sociais. Uma Igreja dividida que
desafia a se questionar sobre como trabalhar, especialmente com os jovens, que “não
querem se reunir mais dentro da Igreja”.
Uma
Assembleia Sinodal diferente, desde a procissão inicial, “desorganizada, mas
cheia de sentido, porque era o povo com o Papa, o Papa com o povo”, segundo
lembrou o padre Júlio Caldeira. Um processo que mesmo devagarzinho vai
caminhando, como está sendo mostrado nos testemunhos sobre os frutos do Sínodo.
Iniciativas pequenas, nas periferias, que estão ajudando a concretizar o Sínodo,
o que tem que levar a celebrar sem olvidar os desafios do Sínodo e a realidade
que faz parte dos diferentes países da Pan-Amazônia. Por isso, o religioso da
Consolata insistiu em “não desanimar e fazer coisas concretas. Por menores que
sejam, isso ajuda a transformar o mundo”.
Gorete
Oliveira destacou a importância da proximidade entre os movimentos sociais e o
Papa Francisco, a importância das comunidades eclesiais de base, o declínio atual
das Pastorais Sociais, da Pastoral Operária, que deve levar à Igreja a se
questionar sobre sua inserção nas periferias. Propostas do Sínodo que devem ser
refletidas, segundo a Ir. Fátima, Cônega de Santo Agostinho, que falou sobre a
separação presente dentro da própria Igreja, que desafia a estar se misturando,
especialmente nas periferias, buscando fazer realidade “o tempo novo que a
gente quer”.
Mercy
Soares falou sobre as referências do Documento de Santarém 2022 à Querida
Amazônia, refletindo sobre a vacância muito grande na Igreja católica em termos
de formação, que ajude a “chegar às bases e levar essa formação”, repensando a
estrutura logística dos cursos. Junto com isso, ela refletiu sobre a
dificuldade para trabalhar em rede, questionando “como é que a gente pode atuar
para que transforme isso aí numa rede, para se tornar uma ação em rede”,
buscando ajudar as comunidades a se formar em sinodalidade.
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