Lembrando
as palavras em que Jesus chama Lázaro para fora do túmulo, Dom Leonardo Steiner
refletiu na homilia do 5º Domingo da Quaresma sobre o fato de “sair do reino
dos mortos. Reino
dos mortos-vivos, vivos-mortos”. O cardeal apresentou o “Senhor visível aos nossos
olhos, falando conosco.
Os olhos que
veem a presença do Senhor
e os ouvidos que
ouvem a voz do Senhor.
A voz do Senhor
que nos
arranca do reino dos mortos. Ele nos deseja vivos, não mortos, nem mortos-vivos;
vivos, aqueles
que caminham ao encontro do Reino da
Ressurreição”.
“Morri!
Perdi as esperanças! Nada mais tinha sentido, tudo virado sem-sentido, vida
sem sentido.
Sumiram os labores, as cores, os sabores.
Perdi a companhia, busquei a terapia, de mim
me esquecia, sempre
mais, eu
desaparecia”, disse o Arcebispo de Manaus, se introjetando na figura de Lázaro.
“Me
perdi, morri. Meu mundo
virou um túmulo
e me deixei envolver
completamente pela
desesperança. Atei minhas
mãos e meus
pés; deixei de andar,
caminhar. Cobri os meus
olhos nada
mais via e nem descobria. Nada
mais via, não mais me mexia, não mais vivia. Meu
mundo era
um túmulo,
escuridão! Não
suportava a luz, não
desejava companhia, sozinho
vivia. Perdi cores, perdi sabores, perdi caminhos.
Não mais
convivia”, refletiu Dom Leonardo em torno daquele que morre.
Nas
suas palavras, o cardeal foi explicitando aquele que poderia ser o pensamento
de que, está no túmulo: “assim, anunciaram a minha
morte. No túmulo
em que
vivia, não mais
vivia e putrefação me
fazia. Os dias, todos
os dias, os dias
que somados não
eram mais que
4. Pois 4 era
apenas o dia
em que
me perdera em
minha humanidade
e não mais
ansiava, esperava, buscava, sonhava na minha
fragilidade. Quatro
dias apenas
diziam do meu tempo, da minha finitude, de estar apenas dentro
de mim e em
torno de mim.
Me enterrei em
mim mesmo,
na fraqueza de mim
mesmo, no desanimo de mim mesmo”.
É
o pensamento de Lázaro que diz: “e ali
jazia para desespero
e desconsolo de minhas
irmãs Marta e Maria. Tanto desgosto que o esforço não compensava. A elas
restou o consolo, o socorro,
daquele da nossa humanidade
fizera sua morada,
tenda, casa.
Aquele que
a humanidade e fragilidade
fizera caminho, vida
nova. Sim
Ele somente Ele poderia
tirar-me do reino dos mortos-vivos”.
Pensamentos
que segundo Dom Leonardo dizem: “e de dentro
da minha escuridão,
da minha exaustão,
sem percepção,
nem percebi que
havia retirado a pedra do meu túmulo. Como e nada via e nem percebia, não a luz de sua presença, o inefável desejo
de trazer-me novamente à vida”.
Diante
disso, o Cardeal Steiner chamou a enxergar a “Luz na finitude de um mundo
fechado sobre si mesmo, mas possibilidade de um
novo tempo e
de um novo espaço em que me moveria.
Envolto em meu
mundo, dentro
de meu mundo,
na escuridão e obscuridade
de meu mundo
ouvi o grito, a voz
forte: ‘Lázaro, vem para fora!’ E sua
voz era
tão forte,
tão suave, tão cheia de vida, tão cheia de convite, tão cheia de amor, que me conduziu para fora do meu túmulo. A voz
de meu Senhor
e Deus me
conduziu para fora
do reino dos morto-vivos. E eu o quase morto sai com
as mãos e os pés
atados. Eu todo
coberto com
os lençóis mortuários não
via pois o lençol também meu rosto
cobria. Não sei como
andei, mas a voz
de meu Senhor
e Deus era tão
penetrante que
perpassou todo o meu ser
e os membros de meu
corpo atados puseram-se em movimento”.
Diante
do chamado de Jesus a desatai-o, Dom Leonardo imagina Lázaro que “desatados os
lençóis, livre caminhei entre os vivos!
Quando ressoou aos meus ouvidos a voz do Senhor da Vida voltei à vida,
e não mais
desejei o reino dos morto-vivos. Quando ressoou aos meus
ouvidos a voz
da Vida, abandonei a morte. Só
mais desejava a vida,
o reino dos vivos,
a Vida, a Vida
das Vidas. E, assim,
livre não
mais temi os tropeços,
os dissabores, os fracassos,
as perdas, as mortes.
A sua voz
me acompanha sempre
dizendo e insistindo: sai para fora!
Lázaro vem para
fora! E eu
ouvindo e obedecendo e caminhando e esperando, não
mais voltei ao túmulo.
A Ele ouvindo, nada
mais de escuridão,
nada mais
medo, nem mesmo de vergonha,
pois Ele me anima e convida vem para
fora”.
Citando as palavras do Papa Francisco no Angelus
de 05 de abril de 2014, Dom Leonardo lembrou que “Cristo não se conforma com os
sepulcros que nós construímos com as nossas escolhas de mal e de morte, com os
nossos erros, com os nossos pecados. Ele não se resigna a isto! Ele nos
convida, quase nos ordena, que saiamos do túmulo no qual os nossos pecados nos
fizeram cair. Chama-nos insistentemente a sair da escuridão da prisão na qual
nos fechamos, contentando-nos com uma vida falsa, egoísta, medíocre. «Sai!»,
nos diz, «Sai!". É um convite à verdadeira liberdade, a deixar-nos alcançar por
estas palavras de Jesus que hoje repete a cada um de nós. Um convite a
deixar-nos libertar das «faixas», das faixas do orgulho. Porque o orgulho
torna-nos escravos, escravos de nós mesmos, escravos de tantos ídolos, de
tantas coisas. A nossa ressurreição começa por aqui: quando decidimos obedecer
a este mandamento de Jesus saindo para a luz, para a vida; quando caem do nosso
rosto as máscaras (...) e não encontramos a coragem do nosso rosto original,
criado à imagem e semelhança de Deus”.
São promessas presentes na primeira e segunda
leituras, afirmando que “talvez,
por isso Santo Agostinho vê na ressurreição de Lázaro uma figura do
sacramento da Penitência”, citando o texto do Sermão 139 sobre o Evangelho de
São João: “Como Lázaro do túmulo, tu sais quando te confessas. Pois, que
quer dizer sair senão manifestar-se como vindo de um lugar oculto? Mas para que
te confesses, Deus com voz forte, te chama com uma graça extraordinária. E
assim como o defunto saiu ainda atado, do mesmo modo o que vai confessar-se
ainda é réu. Para que fique desatado dos seus pecados, o Senhor diz aos
ministros: Desatai-o e deixai-o andar”.
Lembrando
o tempo da Quaresma,
Dom Leonardo fez ver que “nos convida a nos
deixarmos invadir e tomar
pelo reino
dos vivos. Deus
só nos
deseja vivos
e não mortos.
Ele nos deu sua palavra, Ele se deixou como pão vivo, Ele deu a vida por nós na
cruz, venceu a morte e instaurou o Reino da vida. Não nos escondamos e não
morramos nas dificuldades e tensões.
As dificuldades e tensões
são apenas
o convite para sairmos mais livres para dentro do reino dos vivos.
Andar, ver, respirar, pois Deus
nos deseja vivos!”.
Em
relação à Campanha da Fraternidade, que continua a nos acompanhar no movimento
de conversão a que a quaresma nos convida, Dom Leonardo citou novamente o Papa
Francisco: “A alimentação é fundamental para a vida
humana; com efeito, participa na sua sacralidade e não pode ser tratada como
uma mercadoria qualquer. Os alimentos são sinais concretos da bondade do
Criador e frutos da terra. Vêm-me à mente os nossos avós e o respeito que
tinham pelo pão; beijavam-no quando o colocavam na mesa e não permitiam que nem
sequer uma migalha fosse desperdiçada. O próprio Cristo, na Eucaristia, fez-se
pão, pão vivo para a vida do mundo (cf. Jo 6,51)”.
Continuando com a cita do Santo Padre, o Arcebispo lembrou: “Respeitar
os alimentos e conceder-lhes o lugar predominante que têm para a vida do homem
só será possível se, além de nos interessarmos pela sua produção,
disponibilidade e acesso, assim como pelas medidas técnicas do comércio
agrícola, tomarmos consciência de que constituem uma dádiva de Deus, da qual
somos meros administradores. (...) nossa primeira preocupação deve centrar-se
no ser humano enquanto tal, considerado na sua integridade e tendo em consideração
as suas necessidades reais, particularmente de quantos carecem do sustento
básico para a própria sobrevivência. Caros irmãos e irmãs, neste período de
crises interligadas, a mensagem de Cristo, até para os não-crentes,
interpela-nos a não dar simplesmente de comer, mas a dar-nos a nós próprios ao
serviço do próximo, reconhecendo e garantindo a centralidade da pessoa humana.
Esta prioridade só pode ser salvaguardada, se voltarmos a acreditar na
fraternidade e na solidariedade, que devem inspirar as relações entre as
pessoas e entre os povos”, palavras proferidas pelo atual Pontífice em 17 de
outubro de 2022.
Daí,
o Cardeal Steiner disse que “o tempo da penitência desse ano
nos convida a superar a desfraternidade
oferecendo o nosso pouco aos que necessitam”, lembrando o lema da Campanha da
Fraternidade: “Dai-lhes vos mesmos de comer!”. Por isso, afirmou que “diante de
tantos conflitos,
diante de tantas guerras,
diante de tanta
violência, também
em nossa
cidade, nossa tendência
é nos fecharmos, perdermos a esperança, não mais ouvirmos a voz
do Filho de Deus
que nos
diz: ‘Vem para fora’”.
Finalmente,
Dom Leonardo fez um convite a que “caminhemos, irmãos e irmãs. Caminhemos na
solidariedade, na caridade, na liberdade. Paz
não é falta
de tensões e confusões.
Paz é podermos nas tensões
e confusões, oferecer vida, esperança e,
ao mesmo tempo, perceber quem nós somos
e para onde
caminhamos. Caminhamos para o Reino da Vida nova: Jesus Ressuscitado”, pedindo
que “Deus nos
conceda a vida nova
para não
vivermos no reino dos mortos, mas no
Reino dos vivos!”.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
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