Com
a celebração dos Ramos iniciamos com a Semana Santa, disse Dom Leonardo Steiner no início da homilia
deste domingo. Segundo o Arcebispo de Manaus, “com o Domingo
dos Ramos meditamos, contemplamos, nos
confrontamos com a verdade
maior de nossa
fé: Deus
feito igual
a nós, Deus morrente, na morte, amante! Em
Jesus de Nazaré que hoje
entra solenemente na cidade de Jerusalém, celebramos Deus da nossa humanidade e fragilidade. Na nossa fragilidade e
pecado, abre-se o horizonte de sermos amados até o fim”.
No
relato da paixão segundo
Mateus, a humanidade é tal que “sofre a condenação
e a morte”, afirmou o Cardeal Steiner. Lá aparece “Deus
sofredor, Deus dor,
Deus que
morre; Deus humildade,
Deus humanidade,
Deus que
morre; Deus paixão,
Deus sem
razão, Deus
que morre; Deus
solidão, Deus
sem ação, Deus que morre”.
Ele lembrou do grito desesperado e desesperador de
Jesus que ainda ecoa nos nossos ouvidos:
“Meu Deus, meu
Deus por
que me
abandonaste”.
O
Arcebispo denunciou que “ecoa ainda na voz de Jesus o grito da humanidade abandonada em
não compreender
o abandono do Pai
em tantas situações
desesperadoras. Grito e gemido
de não compreender,
de querer entender o
porquê do abandono no sofrer.
E, no entanto, como Jesus, no abandono, nos
abandonamos em suas
mãos. No não
mais compreender,
no não mais
saber, também
nós nos
abandonamos e entregamos a Ele o nosso espírito”.
Citando o Comentário aos Salmos de Santo Agostinho, Dom Leonardo lembrou:
“Despertemos, pois, e estejamos vigilantes na fé. Consideremos aquele que
assumiu a condição de servo, a quem há pouco contemplávamos na condição de
Deus; tornando-se semelhante aos homens e sendo visto como homem, humilhou-se a
si mesmo, fazendo-se obediente até à morte (cf. Fl 2,7-8). E quis tornar suas
as palavras do salmo, ao dizer, pregado na cruz: Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonaste? (Sl 21,1). Ele ora na sua condição de servo, e recebe a nossa
oração na sua condição de Deus; ali é criatura, aqui o Criador; sem sofrer
mudança, assumiu a condição mutável da criatura, fazendo de nós, juntamente com
ele, um só homem, cabeça e corpo. Nossa oração, pois, se dirige a ele, por ele
e nele; oramos juntamente com ele e ele ora juntamente conosco”.
Sobre a pergunta de Jesus: “Meu
Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?”, o Arcebispo de Manaus citou as
palavras do Papa Francisco na Homilia do Domingo de Ramos de 2020: “É uma frase
impressionante. Jesus sofrera o abandono dos seus, que fugiram. Restava-lhe,
porém, o Pai. Agora, no abismo da solidão, pela primeira vez designa-o pelo
nome genérico de «Deus». E clama, «com voz forte», «porquê», o «porquê»
mais dilacerante: «Porque me abandonaste também Tu?» Na realidade, trata-se das
palavras de um Salmo (cf. 22,2), que nos dizem como Jesus levou à oração
inclusive a extrema desolação. Mas, a verdade é que Ele a experimentou:
experimentou o maior abandono, que os Evangelhos atestam reproduzindo as suas
palavras originais. Por que tudo isto? Uma vez mais… por nós, para servir-nos.
Porque quando nos sentimos encurralados, quando nos encontramos num beco sem
saída, sem luz nem via de saída, quando parece que nem Deus responde,
lembremo-nos que não estamos sozinhos. Jesus experimentou o abandono total, a
situação mais estranha para Ele, a fim de ser em tudo solidário conosco. Fê-lo
por mim, por ti, por todos nós; fê-lo para nos dizer: «Não temas! Não estás
sozinho. Experimentei toda a tua desolação para estar sempre ao teu lado». Eis
o ponto até onde nos serviu Jesus, descendo ao abismo dos nossos sofrimentos
mais atrozes, até à traição e ao abandono”.
Ao elo da primeira leitura, Dom Leonardo Steiner
destacou que “no auge da dor e da destruição da humanidade Jesus entra na
intimidade do Pai, exclama, grita não me abandones, de ti vim, para ti desejo
voltar, não me abandones. E não o abandonou. Mais humano Deus não poderia ser.
No grito de Jesus ouvimos nossa humanidade desesperada, na dor, na fome, na
guerra, na morte, em fuga”. Já na segunda leitura, o Cardeal nos faz ver que Paulo
“nos trazia aos nossos olhos a presença de Deus que se fez um de nós, como nós,
o Deus
feito homem!”
“Assim
é Deus-cruz no qual reluz a nossa humanidade”,
afirmou seguindo as palavras de São
Paulo na carta aos filipenses, insistindo
em que “Deus esvaziou-se, não se
assegurou na sua divindade,
mas se humilhou, trilhou o caminho da morte, se fez morte. E, assim, Ele se torna para nós o nome mais sublime: Deus-homem, homem-Deus, o homem que veio dar razão à nossa
finitude humana, iluminar nossas dores e
desilusões”.
É
por isso, que o Cardeal insistiu em que “nada de mais
nosso, mais
próximo de nós,
como nós,
em nós
que o Homem
Jesus que hoje
entra em Jerusalém para
padecer a condenação,
sofrer a paixão
e morrer na cruz.
Ninguém mais
humano, mais
homem, mais
humanidade que
o Crucificado”.
“E,
n’Ele nos
vemos, n’Ele nos
lemos, n’Ele nos
cremos partícipes da mesma sorte, isto é,
da mesma morte.
Na mesma morte,
na mesma sorte
de penetrarmos o mistério da dor
e da morte. Mistério da dor e da morte no qual nos movemos
todos os dias,
ora com
mais intensidade,
ora com
maior suavidade.
Mas sempre
envoltos por
esse mistério
incompreensível. E hoje
ouvindo as palavras de Paulo e ouvirmos
e vermos a dor, o sofrimento, a condenação, a exaustão
do Filho do Homem
até a morte, nos voltamos para esse mistério com maior reverência. Reverência,
isto é, com
maior abertura,
maior acolhimento,
por vermos no Filho
do Homem o caminho
da completa abertura
e reverência em
relação com
o Pai. Por mais que não percebemos o
caminho da liberdade”, destacou o Arcebispo de Manaus.
“Esse
será nosso caminho na Semana
Santa: nos deixarmos tomar
pelo mistério da morte como plenitude da vida”,
ressaltou Dom Leonardo. Segundo ele, “esse jogo
de morte no qual Deus
mesmo se inseriu e experimentou como grandeza, porque amor. Grandeza
não de uma piedade
conformista, mas de um
itinerário e caminho
único de quem
viu no Filho do Homem,
no Filho de Deus,
de plena realização
na fraqueza se entregar à vida, ao Pai. No abandono,
nos abandonamos em
suas mãos.
Ali, no abandono
começamos uma vida nova
com o Pai”.
Lembrando
a coleta da solidariedade, da Campanha da fraternidade, o Cardeal Steiner disse
que “hoje oferecemos o nosso caminho de conversão, de encontro com Jesus que
deu sua vida por nós. A coleta é expressão do nosso caminho quaresmal: ‘Dai-lhes
vos mesmos de comer’. Quantos irmãos e
irmãs que nesse tempo quaresmal foram ao encontro dos necessitados. Quantos
irmãos e irmãs continuam o caminho de caridade iniciado no tempo da pandemia. A
vida, morte e ressurreição de Jesus nos atrai e nos faz consolo. Em nome de
todas as irmãs e todos os irmãos que receberam e receberão ajuda, receberão o
pão da caridade, a gratidão”.
Finalmente,
o Arcebispo de Manaus pediu que “o Senhor das dores nos ajude
no caminho desta Semana.
Ele nos
mostrará na dor e na morte
não o reino
dos mortos, nem
o Reino dos morto-vivos, nem dos vivo-mortos, mas
apenas na morte
o Reino dos vivos,
o convívio o mais
precioso e suave com
o Pai”, insistindo em que “o Senhor nos conceda a graça
de uma Semana Santa! Entremos com Ele em Jerusalém e experimentemos o que
faz de nós o amor”.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
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