Um dia para
fazer memória, que “não é uma simples lembrança, que é um passado que se faz
presente no hoje”, segundo explicitava dom Adolfo Zon, bispo da diocese de Alto
Solimões e vice-presidente do Regional Norte1, que de 18 a 21 de setembro
realiza na Maromba de Manaus, com a participação de mais de 80 pessoas, sua 50ª
Assembleia Regional.
A memória
começa pelo olhar, um prestar atenção, afirmou o bispo de Alto Solimões, espelhado
na atitude de Jesus na passagem do Evangelho do dia, onde mostra que ele sentiu
compaixão, empatia, se colocou no lugar do outro, uma compaixão que leva à ação.
Uma memória que ajuda a lembrar tantas coisas boas vividas no Regional, após um
sentimento de compaixão dos bispos que os levou à ação, gerando processos que
ajudem a superar uma pastoral de eventos.
Dom Adolfo
Zon fez um chamado a olhar a realidade a partir da memória e assim descobrir
que hoje na Amazônia os problemas se complicaram, o que demanda saber discernir
a resposta hoje. O vice-presidente insistiu em que as igrejas do Regional
Norte1 têm um mesmo sentir, o que vai ajudar na ação evangelizadora, fazendo um
chamado a ter criatividade com critério. Uma caminhada que é uma escola,
destacando a importância da metodologia e que fazer juntos é uma graça de Deus.
Finalmente, ele pediu aos bispos, que tem o carisma e responsabilidade da
coordenação, que semeiem vida lá onde passam.
Não podemos
esquecer que é a partir da memória que se constroem os sonhos. Daí a
importância da leitura histórica da caminhada da Igreja na Amazônia realizada
pelo padre Vanthuy Neto. Uma história marcada nos primeiros momentos por dois
bispos, Dom Macedo Costa, naquele tempo arcebispo de Belém, que promoveu o diálogo
com o governo e se destacou como um dos bispos mais influentes do Concílio
Vaticano I, e Dom Frederico Costa, primeiro bispo prelado de Santarém, no
início do século XX.
A Igreja confiou
as prelazias a diversas congregações, uma Igreja que na Amazônia sempre esteve
marcada por um rosto laical. Segundo o padre da diocese de Roraima, uma
história baseada em 6 pontos, que mostrou como antecedente da organização
eclesial: povos originários, abertura dos portos para o comércio exterior, os
conflitos das fronteiras, a Igreja entre o padroado e a romanização, a presença
protestante e as prelazias e Igrejas locais como novo caminho de evangelização.
As missões
se tornaram instrumento profético na Amazônia, com grande preocupação em torno
da escravidão dos indígenas, que em poucos anos passaram de ser a maioria a ser
uma minoria, consequência da escravidão e as epidemias. O ciclo da borracha ajuda
a ver a floresta, não mais obstáculo e sim paraíso verde, fonte riquezas,
mudando o mundo amazônico. Um tempo em que as fontes de riqueza provocam
guerras de fronteira, em um tempo com grande influência da maçonaria e que
marca a chegada do mundo protestante. Um tempo em que o chamado positivismo
católico, que pretende fazer com que os habitantes da região, especialmente os
indígenas, entrem no mundo da razão.
Em 1892
nasce a diocese do Amazonas, se tornando Manaus lugar de apoio das prelazias do
interior, pudendo ser considerada “o pequeno Vaticano” do Amazonas. Aos poucos
se intensifica o chamado a fomentar o clero local, o clero indígena, dado que
todos os missionários chegavam de fora, principalmente da Europa. Aos poucos a
diocese do Amazonas vai ser dividida em novas dioceses e prelazias, uma Igreja
de festas, de religiosidade popular, até o ponto de que “a procissão era mais
importante do que a missa”, ressaltou o padre Vanthuy Neto.
Uma missão
ligada à questão da fé, mas também ao progresso da região. Se chegava para
evangelizar, sobretudo a partir do Batismo e o Matrimonio, e se realizava a
missão seguindo um tripé: escola, saúde, trabalho. A Igreja ajudará na sedentarizarão
dos povos. Uma Igreja que foi dando os passos com diversos encontros e pronunciamentos
para que pouco depois do Concílio Vaticano II, em 1966, surgisse o Regional
Norte1 da CNBB, que realizou sua primeira assembleia em 1967.
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