A Igreja do
Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil está vivenciando
de 18 a 21 de setembro sua 50ª Assembleia Regional, recordando a profecia das igrejas particulares, sua história
querendo assim alimentar a esperança, segundo afirmou o cardeal Leonardo
Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 em entrevista coletiva
com a imprensa local.
Uma caminhada
onde as mulheres tiveram um papel em destaque, segundo a Ir. Rose Bertoldo,
secretária executiva do Regional Norte1, que trouxe a memória da “presença
fecunda das mulheres nas nossas comunidades, uma presença que marca o caminho e
que faz processo”, mostrando sua gratidão por todas elas. A religiosa lembrou
nomes concretos de mulheres que a precederam no serviço que ela desempenha hoje,
que “contribuíram nesse processo de fazer caminhos e alargar a tenda da Igreja
na Amazônia”.
Em representação
dos povos originários, Deolinda Melchior da Silva, indígena do povo Macuxi, afirmou
que os povos indígenas também estão celebrando 50 assembleias, querendo
agradecer “a Deus porque os povos indígenas somos evangelizados, primeiramente
com a Palavra de Deus, sobre nossos direitos como povos indígenas, a nossa terra,
a nossa vida”. Ela lembrou a continuação da votação do Marco Temporal, pedindo
a ajuda de Deus para proteger a terra onde eles sempre moraram.
Dom Edson
Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira lembrou das imensas dificuldades
enfrentadas pelos missionários chegados, na maioria da Europa, na região. O
bispo recordou que “com o tempo, eles foram também se aperfeiçoando, se
adaptando à região”, destacando a importância do Concílio Vaticano II e sua
adaptação local no Encontro de Santarém em 1972, onde “se tomaram decisões proféticas,
é a Palavra de Deus que deve se encarnar aqui na Amazônia, a atenção às
comunidades eclesiais de base, a formação de agentes pastorais, homens e mulheres”.
Ele também destacou a importância da fundação do Conselho Indigenista
Missionário (CIMI), e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), assim como a aprendizado
com “o heroísmo desses missionários e missionárias que nos precederam”.
“As
assembleias acontecidas até agora demostram uma Igreja que busca viver e levar
o Evangelho”, destacou Dom Leonardo. Isso “numa Igreja que desejou
profundamente se encarnar, com todas as suas dificuldades e contradições, mas
procurou se encarnar”, segundo o arcebispo de Manaus, que insistiu em destacar o
papel de “uma Igreja que sempre levou em conta as dificuldades”, destacando os
frutos do caminho e pedindo que “nossa Igreja que está na Amazônia possa ajudar
a perceber a presença do Reino de Deus, Jesus Ressuscitado, Crucificado, vida
plenificada porque transformada na morte”.
Entre os
desafios atuais o arcebispo de Manaus falou da devastação da Amazônia, mas
também afirmou como um dos grandes passos dados, “que crescemos no espírito
missionário, nós temos hoje uma presença maior dos leigos na frente da catequese,
à frente das comunidades, lideranças, uma presença maior de religiosos e
religiosas, a presença maior de igrejas particulares, a presença maior de
bispos”. O cardeal destacou que “aquele primeiro desafio de chegar e começar a falar
de Deus, a falar do Evangelho, esse a gente pode dizer que está superado, mas
estamos sempre iniciando, o Evangelho é uma eterna novidade”.
Sobre o
acompanhamento à vulnerabilidade social, Dom Leonardo Steiner destacou a acompanhamento
às pessoas que passam fome, o grandíssimo esforço das comunidades, de quem
destacou sua solidariedade. Também mostrou a grande preocupação do Regional
pelos abusos sexual a crianças e adolescentes, reconhecendo a dificuldade para
ser superado, mas mostrando o grande esforço de acompanhamento por parte da
Igreja católica. Outro desafio colocado em destaque pelo arcebispo de Manaus é
a depredação da Amazônia, denunciando a situação dificílima que está
acontecendo, citando como exemplo o garimpo, “uma questão que nos aflige e
devemos tentar conscientizar as nossas comunidades e manter um diálogo com os
governos”.
Uma degradação
ambiental que definiu como ganância, sem pensar na Amazônia, nos povos originários,
no futuro do Brasil, no conjunto da casa comum. Nesse sentido, ele insistiu que
“se está pensando no meu, naquilo que eu posso usufruir”, e que sem o meio
ambiente não sobreviveremos. Daí a importância do agir da Igreja, que está
conscientizando as comunidades com a Laudato Si’, criando uma consciência bem
maior, mesmo reconhecendo que ainda devem ser dados passos e criar uma consciência
do cuidado.
Uma memória
do passado que sempre é viva e atual, segundo dom Edson Damian, que definiu a
profecia como o Evangelho vivo de Jesus, que quando encarnado na realidade, ele
denuncia as injustiças, a exploração das pessoas, a marginalização, a fome e a miséria,
que está tão presente aqui na Amazônia. Com relação à esperança, o bispo de São
Gabriel da Cachoeira disse que “nós cristãos acreditamos que a esperança é que
move a história”, chamando a descobrir, guiados pelo Espírito Santo, novos
caminhos para nos colocar ao lado das pessoas marginalizadas, oprimidas, assumindo
o grito dos povos indígenas e dizendo não ao Marco Temporal, que iria dizimar
os povos indígenas e negar seu direito fundamental ao território.
O bispo de
uma diocese onde grande parte da população é indígena disse ter assumido um
princípio desde que chegou lá: “A Boa Nova das culturas indígenas acolhe a Boa
Nova do Evangelho”, destacando os valores dos povos originários, culturais e
humanos que o levam a dizer que o Espírito Santo chegou antes dos missionários.
Por isso pediu valorizar os valores presentes nesses povos, como é a vida comunitária,
fraterna, a partilha, o cuidado da Mãe Terra, da casa comum, considerando os
povos indígenas como mestres no cuidado da casa comum, destacando tudo o que aprendeu
com eles.
A líder
indígena do povo Macuxi destacou a aprendizado com a Igreja do regional, afirmando
que “Deus olha para nós povos indígenas, com nossas culturas, com nossos
direitos a terra”. Uma presença da Igreja que a líder indígena insiste em que lhes
ajuda muito, denunciando a morte dos povos indígenas, como está acontecendo com
os yanomami.
Nenhum comentário:
Postar um comentário