A
Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade continua seu trabalho, agora com
as chamadas congregações gerais, mas também com outros episódios que mostram o
desejo do Papa Francisco de escutar a realidade. Como Paolo Ruffini destacou em
coletiva de imprensa, Francisco e outros membros do Sínodo almoçaram nesta
terça-feira em Santa Marta com um grupo de pobres, constituindo assim um novo
círculo menor, uma nova mesa redonda. Em suas palavras, os pobres disseram que
a única coisa que esperam da Igreja é amor.
Uma Igreja com os pobres
Nas
congregações gerais 140 pessoas já falaram, o que representa mais de um terço
dos membros da assembleia. Nelas, fios comuns estão sendo tecidos a partir de
diferentes temas, sempre com uma visão do que é atual no mundo, com constantes
apelos à paz diante de guerras e conflitos. Um chamado para ser uma Igreja
humilde, em favor dos pobres, que têm muitos rostos. A questão dos abusos de
todos os tipos também foi abordada, com um apelo para que se apoiasse as
vítimas, incluindo o abuso a religiosas e a necessidade de protegê-las. Na
realidade, a Assembleia Sinodal é um momento de debate e reflexão sobre muitas
questões.
Os
convidados ao briefing de 11 de outubro foram o Card. Gérald Cyprien Lacroix,
Arcebispo de Quebec (Canadá) e membro do Conselho de Cardeais, Grace Wrakia, de
Papua Nova Guiné, e Luca Casarini, ativista italiano da "Mediterranea Saving
Humans", que é um convidado especial sem direito a voto.
Uma atitude genuína de escuta
No dia do
61º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, o cardeal canadense
definiu a figura do Papa João XXIII, que convocou o Vaticano II, como
profética, vendo este Sínodo como uma continuação do último concílio, que
enfatizou a importância da Igreja como o povo de Deus. Esse caminho sinodal, de
acordo com o arcebispo de Quebec, "nos ajuda a descobrir a presença do
Senhor em cada pessoa batizada", e ele disse que está vivendo a assembleia
sinodal a partir de uma atitude de escuta autêntica, como uma experiência que
lhe permite, a partir dessa escuta, "refinar, mudar meu pensamento",
como algo que nos torna "crentes mais críveis".
Em suas
palavras, enfatizou que não somos completos, todos precisamos dos outros e os
outros precisam de nós, e este Sínodo nos permite reconhecer a riqueza dos
outros, como uma "orquestra sinfônica em que cada um tem seu próprio
instrumento", citando as palavras do Papa Francisco. Isso o levou a
destacar "a beleza de ver tantas pessoas reunidas, de todos os cantos do
mundo, um caldeirão de culturas, de tradições". Isso significa que os
círculos menores "ajudam a compartilhar, a partir da realidade da
vida", experiências pessoais que questionam "nosso modo de ser
Igreja, de estar juntos".
A partir
daí, observando que somos incompletos, ele pediu uma mudança de atitude para
viver e irradiar a luz do Evangelho. Também para abrir espaço para os outros,
para escutar uns aos outros à luz do Evangelho, de modo que "estaremos
mais bem preparados quando voltarmos para casa para enfrentar os desafios que
temos pela frente". Um Sínodo que ajuda a entrar na realidade das guerras,
da mudança climática, que deve levar a "oferecer ajuda como povo de Deus",
a caminhar juntos para discernir e ver como enfrentar os desafios e levar
justiça e esperança ao mundo.
Sinodalidade na vida cotidiana
Vinda de
Papua Nova Guiné, Grace Wrakia apresentou as múltiplas realidades de seu país e
da Igreja local e o que marcou a espiritualidade e os ritos religiosos
presentes em sua cultura antes da chegada do cristianismo, há 150 anos. Em seu
testemunho, ela destacou que eles vivem em comunhão, a partir dos três pilares
da sinodalidade, vendo-se como uma família com relações que vão além do sangue,
uma vida de forma comunitária, com uma espiritualidade em que as relações com
todos, com os diferentes, são muito importantes, e isso os torna parte de uma
única família, a família do povo de Deus.
Uma
sinodalidade que é vivida na vida cotidiana, nas decisões nas aldeias, onde
todos são escutados, inclusive as mulheres, considerando um verdadeiro prazer o
fato de a Igreja e o Papa estarem abertos a pequenas regiões como Papua Nova
Guiné, mostrando assim a importância de escutar, porque todos nós temos algo
importante para contribuir, "podemos explicar como viver em comunhão, como
tecer fios na estrutura da vida da família e da Igreja".
Ajuda mútua que deixa espaço para o amor
Por sua
vez, Luca Casarini começou denunciando o fato de que a morte no Mediterrâneo se
tornou normal. A partir daí, ele disse que se sentia "privilegiado, porque
em um mundo onde há uma competição para ver quem pode matar mais pessoas, um
mundo onde o ódio predomina, salvar uma vida, abraçar um irmão, uma irmã no
mar, é um presente infinito que muda a vida, que muda a minha vida". No
Mediterrâneo, ele disse que há duas formas de pobreza, uma pobreza material,
que faz com que as pessoas pobres deixem a única riqueza que têm, sua terra e
sua família, e uma pobreza espiritual, em que não somos capazes de chorar por
uma criança que morre. Uma ajuda mútua que deixa espaço para o amor, dizendo
que dessa forma encontramos Jesus e Deus, e que precisamos praticar o amor.
Um Sínodo
em que o protagonismo não está na doutrina, mas em aprender a caminhar juntos,
nas palavras do Cardeal Lacroix, insistindo que se trata de enraizar esse modo
de viver a Igreja e, assim, enfrentar as grandes questões com mais meios,
buscando fazer das ideias de cada um o objeto de um discernimento comum. Nessa
perspectiva, ele insistiu na necessidade de ter a humildade de pensar que não
somos os únicos detentores da verdade, de buscar caminhos de convergência para
não ficarmos estagnados, de ter uma atitude positiva que leve a ver a
diversidade como algo importante e a ser acolhido.
A missão da Igreja
Quando
perguntada sobre a prática missionária da Igreja, Grace Wrakia enfatizou que
hoje estamos vivendo uma nova evangelização, na qual estamos mais conscientes
das culturas, com missionários com uma mentalidade aberta, respeitando as
tradições e os modos de vida, algo que não era feito nos primeiros anos da
evangelização. Por esse motivo, ela enfatizou essa nova maneira de anunciar o
Evangelho, em que escutar os povos originários é importante.
Reconhecendo
os erros, as páginas menos gloriosas, o cardeal canadense lembrou que em seu
país houve grandes exemplos de inculturação e práticas em defesa das populações
indígenas. Olhando para o momento atual, ele afirmou que está em curso um
processo de reconciliação, que foi ajudado pela visita do Santo Padre no ano
passado. A partir daí, ele destacou que é necessário tempo para reconstruir a
confiança, dizendo que é preciso dialogar com os povos originários e que os
caminhos de cura já começaram, insistindo que é hora de perdoar, caminhar
juntos e seguir em frente.
Por fim, o
Cardeal reconheceu como nestes poucos dias de assembleia está se enriquecendo,
ao escutar nos círculos menores e em outros momentos, que o levam a
"descobrir a beleza dessas pessoas" que "me fazem refletir sobre
meu modo de ser, de me relacionar com os outros, minha atitude, é algo que
enriquece, que abre o horizonte", sobretudo naquelas pessoas que vivem
realidades muito diferentes. Isso lhe permite "ser mais humilde, não
qualificar imediatamente as pessoas". Algo que o levou a dizer:
"quando eu voltar para casa, serei um homem diferente, um pastor
diferente, com uma visão mais ampla e mais bondosa".
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