“O espírito do Senhor Deus me enviou a proclamar a Boa Nova aos pobres”. Nessas palavras do profeta Isaias encontramos a inauguração do ministério de Jesus e ao mesmo tempo o conteúdo do nosso ser e do nosso operar em favor dos pobres como batizados e batizadas, fazendo a verdade na caridade. (Ef 4,15). Nessas palavras a Igreja diocesana de Roraima encontrou novo alento para renovar seu compromisso profético com a opção preferencial pelos pobres através da realização do projeto pastoral da “Casa da Caridade”.
Graças à intervenção direta do Santo Padre, o Papa Francisco, foi restaurado o antigo mosteiro das Monjas beneditinas, considerado uma peça valiosa do patrimônio histórico-eclesial de Roraima, e hoje está sendo devolvido à Diocese e à cidade de Boa Vista como centro vital de toda a obra caritativa e social da Igreja católica de Roraima. O objetivo principal é o trabalho orgânico e sinodal de todas as pastorais, movimentos e serviços que trabalham na dimensão da Caridade para oferecer assistência aos mais pobres e um caminho de formação a toda a comunidade roraimense na pedagogia do amor, a partir da caridade de Cristo.
Profundamente importantes ao longo do processo foram as reflexões do Concilio Vaticano II e do São Paulo VI sobre a necessidade da criação de uma “cultura da Caridade” para a realização da civilização do amor. Assim como Cristo revelou ao mundo o rosto de Deus Pai acolhedor e misericordioso para com todos os seus filhos e filhas, a nossa inspiração e ação começa a partir dos Pobres pois a eles é destinado primeiro o anúncio da Boa Nova da salvação. Além disso, mesmo no meio da complexidade com que somos chamados a caminhar junto com eles, os pobres permanecem um “lugar teológico” no qual vislumbrar os traços típicos do rosto de Deus muitas vezes desfigurado “sem aparência e nem beleza alguma...” (Is 53,2.), seu chamado para a conversão.
Essa vocação dirige-se a toda a igreja, animada pelo amor conforme São Paulo nos lembra em sua segunda carta aos cristãos de Corinto: “a caridade de Cristo nos pressiona”. Assim a missão da Igreja é tornar-se cada vez mais Casa acolhedora para todos os filhos de Deus, Ele que é pai dos órfãos e defensor das viúvas, do humilde e de quem clama a Ele. Para toda a comunidade cristã e de maneira especial para toda a igreja local a Casa da Caridade – Papa Francisco começa seu ministério a partir dos pobres. Esse não é nem uma escolha particular tampouco um compromisso de poucos, mas Fidelidade de todos ao projeto de Deus e exigência de radicalidade originada pelo batismo além de um dever de coerência entre a profissão de fé e o nosso estilo de vida...
De fato quando nós rezamos a oração do Pai Nosso que sobe a Deus da Igreja que celebra e que anima seu anúncio na catequese, essa mesma invocação “pressiona” a comunidade toda a viver no amor como família de Deus assumindo sua mesma solicitude paterna e materna para com todo aquele que se sente perdido privado de todos os meios de sustentação ou simplesmente de toda a razão para viver e esperar. Viver o dom da comunhão como fruto do Espírito nos torna uma comunidade verdadeiramente Cristã, uma Igreja Sinodal.
Dessa forma é possível encarnar o Espírito das bem-aventuranças redescobrindo a essencialidade do anúncio e o radicalismo exigente do Evangelho e vivendo a comunhão fraterna contra toda a tentação de exclusão. Esse é o itinerário de conversão que a nossa igreja católica de Roraima, a partir da Casa da Caridade e a partir dos pobres, quer assumir para que os mesmos pobres nos levem a descobrir o rosto de Deus. E para que esse projeto de amor se torne realidade, caberá à mesma Casa da Caridade favorecer um verdadeiro caminho pedagógico para toda a igreja diocesana para que cada Cristão e cristã, batizado e batizada, encontre na opção preferencial pelos pobres a realização plena de seu compromisso batismal como profeta, sacerdote e Rei, uma Realeza que resplandece da natureza do nosso Senhor e Rei que não veio para ser servido, mas sim para servir. Dessa forma a Casa da Caridade se torna também uma catequese a partir do serviço direto aos pobres.
Temos Esperança que a nossa igreja diocesana, a partir da perspectiva Pastoral lançada pelo projeto da Casa da Caridade “Papa Francisco” possa se tornar cada vez mais uma igreja “família de Deus” que vive na comunhão Sinodal conforme a imagem do Mistério da Trindade que é a melhor comunidade e que dá consistência a todas as relações dentro e fora da igreja, entre pastores e fiéis e entre pastorais, grupos e movimentos. Queremos nos tornar sempre mais uma igreja povo Deus itinerante e Peregrino, que não fica cuidando da manutenção da cristandade, mas que olha para a realidade atual com paciência e terna compaixão para aprender a ouvir os apelos do mundo atual e com a confiança amorosa no espírito que a acompanha diuturnamente, sair de si mesma para encontrar novos rumos e novas respostas para a construção de um mundo mais justo fraterno e solidário.
Queremos que a Casa da Caridade encarne em si o compromisso de todo o Povo de Deus que está em Roraima assume para não deixar cair a profecia que caracteriza uma Igreja disponível a viver as bem-aventuranças e que, por isso mesmo, se faz pobre e sempre posicionada do lado dos mais pobres, como garantia de abertura e de acolhida e compromisso para a construção aqui nessa terra daquela Casa Comum que é sinal e antecipação do Reino de Deus.
Enfim queremos que essa Casa nos ajude sempre mais a sermos Igreja missionária na história e no território em que ela se encontra; uma igreja capaz de acolher, proteger, promover e integrar sempre mais o bem presente no mundo, na história e no coração de cada ser humano desprezado e marginalizado como um sinal da continuação da missão de Cristo Salvador e Libertador. Por isso será típico da Casa da Caridade lembrar a toda a igreja diocesana o quanto seja fundamental recuperar o rosto humano de Cristo que caminha com seu povo, que acolhe e sara sua feridas, que tem compaixão e parte o pão com todos. É para isso que hoje existe a Casa da Caridade.
Pe. Lúcio Nicoletto - Vigário geral de Roraima
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