quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Usar a palavra com liberdade, um passo decisivo em uma Igreja sinodal


No Sínodo das mesas redondas é interessante ver as dinâmicas que querem ser introduzidas na Igreja, um modo de ser Igreja no qual Francisco tem muito a dizer, e ele o diz. Nesse sentido, recordando uma anedota que lhe aconteceu, ele disse que, em um Sínodo onde era relator, experimentou tensões com o cardeal secretário, que proibiu que certos temas fossem introduzidos na votação, o que levou o então cardeal Bergoglio a se queixar da falta de sinodalidade e do fato de que todos não podiam se expressar livremente.

A Palavra como fruto da liberdade

Isso nos leva a refletir sobre uma questão fundamental, especialmente em uma Igreja sinodal, na verdade, em todas as formas de ser Igreja, o que significa a palavra como fruto da liberdade. Uma Igreja que respeita a palavra de cada membro. É com base nessas pequenas intuições que se cria um espírito de comunhão e se constrói um modo de ser Igreja, algo que não é fácil de assumir nestes tempos, mas sem o qual é difícil prever um futuro promissor para a vivência da catolicidade.

Somente dessa forma, com a possibilidade de usar a palavra livremente, pode-se progredir em uma sinodalidade na Igreja que, nas palavras do Santo Padre em seu discurso de abertura, "ainda não está madura". Até certo ponto, em alguns órgãos eclesiais, perpetua-se o hábito de não permitir que todos se expressem livremente, algo que Francisco insiste em deixar para trás, e uma das razões pelas quais ele convocou este Sínodo sobre a sinodalidade.



Tornar o Espírito presente em círculos menores

Na medida em que o Espírito se fizer presente nessas mesas redondas, nos 35 círculos menores em que se organiza a sala sinodal, as vozes daqueles que se sentem rejeitados pela própria Igreja ou pelo mundo, estando ou não nessa sala, se sentirão acolhidas, pois não podemos nos esquecer de que este é um Sínodo da Igreja, com representantes das Igrejas do mundo inteiro, e ninguém deve ser a voz de si mesmo, mas de uma Igreja que já percorreu um caminho no processo de escuta e nas diferentes etapas que se realizaram.

Uma Igreja sinodal deve ser uma Igreja com um olhar que abençoa, buscando desejar e construir o bem. E essa construção do bem deve ser um requisito para aqueles que estão sentados nas mesas redondas em que a sala sinodal está organizada. Aqueles a quem foi confiado, por meio do discernimento comunitário, encontrar novas maneiras de tornar uma Igreja sinodal uma realidade, não podem ser pessoas que colocam paus nas rodas. Apoiar as reformas do Papa Francisco, sempre com a liberdade de discuti-las na busca da construção do bem, não é negociável para aqueles que são membros do Sínodo.

A metodologia do Sínodo

A Igreja sinodal sonhada por Francisco é uma Igreja que acolhe os pequenos, os simples, uma Igreja que é o abraço de Deus, especialmente para tantos homens e mulheres que estão sobrecarregados, cansados, que se sentem perdoados por sua abertura à ação do Espírito. Há muitos dias pela frente para se olharem nos olhos e, assim, abrirem seus corações a pessoas diferentes, muitas delas estranhas umas às outras, mas que ganharão confiança para construir juntas, com uma metodologia que busca a Igreja para decidir em um espírito de comunhão, como Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, insistiu no briefing com os jornalistas realizado na Sala Stampa em 5 de outubro.

Ruffini insistiu na confidencialidade e explicou a metodologia de trabalho até o final da primeira fase da Assembleia Sinodal. Um elemento fundamental é a conversa no Espírito, onde todos falam e escutam, uma possibilidade que também existirá nas congregações gerais, insistindo na liberdade com a qual Francisco quer que a Assembleia sinodal seja vivida, a fim de avançar no caminho da comunhão, um dos grandes desafios deste Sínodo sobre a sinodalidade, a partir de uma experiência espiritual.




Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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