No quinto
domingo da Quaresma, o cardeal Leonardo Steiner iniciou sua homilia lembrando
que estamos “a caminho de Jerusalém para podermos participar do Mistério da
Salvação, o Mistério da Salvação que passa pela morte”, dizendo que igual
do grão de trigo que morre e dá fruto, “nós ao morrermos podemos dar muito fruto”,
o que mostra a resposta enigmática de Jesus diante da pergunta dos gregos que
lhe procuram.
Um desejo de
ver Jesus, que segundo o arcebispo de Manaus, “não era curiosidade, não era um satisfazer
um ouvi dizer”. Segundo ele, “ver tem a ver com estar, escutar, ser tocado,
trata-se de um anseio de escuta, de aprendizado, de direção, um novo sentido de
vida”, vendo na resposta de Jesus a Felipe e André, algo que “nos mostra
como nós podemos ver Jesus”.
Dom
Leonardo destacou que “o encontro com Jesus acontece com a Palavra que deixa
ver quem é o Filho do Homem, Ele Palavra nos ensina que a vida é para ser
doada, ofertada, entregue, generosidade, disponibilidade”. O cardeal
ressaltou que “nada de escondimento, de só para mim e nada para ti, esse
processo existencial de quem percebe que a vela é vela na sua essência quando ilumina,
quando se consome. Só no seu consumir é que ela ilumina e cria o momento da oração,
da prece, do recolhimento, é no consumir-se que a vela é vela, senão ela é
apenas um enfeite”.
“A semente
lançada na terra é plena de força e vigor, toda semente é vida a explodir, vida
que deseja vir à luz, a vida da semente deseja desabrochar, frutificar, essa é
a graça da semente, o sentido da semente, ela morre e gera vida, morre e se
multiplica”, disse o cardeal, que destacou “quanto vigor e energia da vida
em tantas sementes graças á generosidade”, e junto com isso, que “porque
morreu também nós podemos nos alimentar com os frutos”.
Segundo Dom
Leonardo Steiner, “na semente vemos a vida que nasce da morte, e no morrer
gerar vida”, ressaltando que “morrer, vida nova, o segredo da semente, é o
que ela carrega, vida que deseja oportunamente vir à luz, deseja frutificar”. A
semente nos ensina que “Deus nos gerou plenos de vida, temos o vigor, temos
vida, e a vida conquistada no amor de Jesus, a possibilidade que temos de levar
nossa vida à consumação, à plenificação”, destacou o cardeal.
“Quem ama
não tem poder, apenas serviço, cuidado generoso, quem ama perde poder, que
doa não possui, é que no amor tudo é dar, quando somos semente”, destacou o
cardeal. Ele refletiu sobre a lógica da semente que morre, dizendo que “o amor
serviço é contrário à vida que nos impede de possuir e desejar sempre mais”. Ele
denunciou que “às vezes vivemos numa dinâmica destruidora, onde vamos acumulando,
dominando, possuindo, e permanecemos como uma vela de enfeite, uma decoração,
desperdiçamos a graça do amor, de dar a vida, de iluminar, de maturar, de
transformar, de plenificar, consumar a nossa vida e a vida dos outros”, dizendo
que “entramos numa espécie de processo de insatisfação existencial, de doença
psíquica, humanamente decaímos quando nos fechamos em nós mesmo e não desejamos
servir”.
Ele enfatizou
que “quem cuida é disponível, serve, ama, vive e ama como Deus vive e ama”. Isso
porque “servir, ajudar os outros, da sentido à vida, enche o coração de
alegria e esperança”, afirmando que “Jesus trouxe ao mundo uma esperança
nova, e o fez como a semente, fez-se pequeno como um grão de trigo”, insistindo
em que “para produzir fruto, Jesus viveu o amor até o fim, deixando-se despedaçar
pela morte como uma semente que se deixa romper debaixo da terra, na Cruz foi
rompido e dali nasceu vida para todos nós”, que definiu como o ponto extremo de
seu abaixamento, o ponto mais elevado do amor, de onde brotou a esperança, a
vida nova.
A esperança
nasce da Cruz, disse Dom Leonardo Steiner, que vê a Quaresma como tempo de “contemplar
a Cruz, fixar nossos olhos em Jesus Crucificado”. Uma esperança que brota
pela força do amor do Crucificado, e que faz com que na Páscoa, Jesus
transformou assumindo sobre si mesmo nosso pecado em perdão, segundo o cardeal.
Uma esperança que “supera tudo, porque nasce do amor de Jesus, que se fez grão
de trigo na terra e morreu para dar vida, aquela vida plena de amor de onde nos
vem vida nova”, ressaltou.
Na primeira
leitura destacou “a força misericordiosa de Deus, o esforço misericordioso
de Deus para abrir os olhos diante da cegueira do povo, tocar o povo que
estava com um coração endurecido”, insistindo o profeta Jeremias na volta ao
primeiro amor, que deseja levar o povo a ver quanto era amado por Deus.
“Jesus
nos atrai pela sua bondade, pela sua entrega de vida na Cruz”, que no morrer
a todos nós atrai, segundo Dom Leonardo Steiner. Um amor de Deus que nos leva à
conversão, definindo Deus como “o crucificado, o doado, o entregue, o amoroso,
o mais humano dos humanos”. O cardeal disse que “nós caminhamos ao encontro do
Crucificado nesses dias, deixemo-nos atrair por ele”.
Na passagem
da Carta aos Hebreus destacou que às portas da Semana Santa “somos despertados
por uma vida que se consumou no amor para que fossemos salvos. Seria despertar
para a doação, para o serviço, para o acolhimento, para a generosidade, para a
equidade, para a fraternidade”, numa vida onde “a graça de viver é servir”,
segundo o presidente do Regional Norte1 da CNBB.
Da Campanha
da Fraternidade destacou que nos recorda que “o amor está a guiar as palavras e
as escutas e as nossas relações”, enfatizando que “a irmandade não nasce da
dominação”, destacando a necessidade do diálogo, o serviço, a abertura, o
acolhimento, a alegria de servir, a reverência no conviver”. Por isso, ele
disse que “somos convidados a construir uma fraternidade, uma irmandade que
transforme a vida na nossa sociedade, tornando-a mais saudável, mais convivial”.
O cardeal denunciou
a violência das nossas relações sociais e destacando a necessidade de estender
o nosso amor a todo ser vivo, a toda a Criação, e pedindo que “Deus Pai nos
ajude nesta Quaresma a compreender o valor da amizade social e a viver da
beleza da fraternidade humana aberta a todos para além dos nossos gestos, dos nossos
gostos, dos nossos afetos e preeminências, num caminho de verdadeira penitência
e conversão”. Para isso se faz necessário “uma vida doada, entregue, ser
amor e serviço, amar servindo, servir amando”, concluiu.
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