quinta-feira, 17 de junho de 2021

Refletir diante de números que deixaram de interessar



Nos próximos dias, o Brasil vai ultrapassar os 500 mil óbitos em decorrência da pandemia da Covid-19, uma marca que deve nos levar a parar e pensar. Mas será que o povo brasileiro sente necessidade de refletir diante desse fato lamentável? Será que os números interessam ou o povo já se acostumou com uma realidade que se tornou corriqueira?

Se realmente for assim, a gente deve refletir, pessoalmente e como sociedade, e nos perguntarmos qual é o nosso grau de humanidade. A insensibilidade diante da morte é uma prova de que a gente perdeu aquilo que nos torna humanos. Aos poucos nossos corações vão se endurecendo e perdendo a empatia, uma atitude da qual a gente não pode abrir mão na medida em que a gente se diz gente.

Todos nós conhecemos muitas pessoas que partiram, vítimas desta pandemia que tanta dor e sofrimento tem provocado na vida da humanidade. O luto se fez presente em muitas famílias, que viram como seus entes queridos, inclusive vários da mesma família, partiam de modo prematuro. São perdas diante das quais somos chamados a ser sinal de esperança e de consolo.



A Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) quer que este momento possa servir como oportunidade para rezar, homenagear e se mobilizar, fazendo memória de tantos brasileiros e brasileiras que partiram. Não se trata de números, são pessoas concretas, com quem a gente partilhou momentos importantes da nossa vida. Sim, momentos da vida, pois toda vida importa.

Quando a gente fica impassível diante dos fatos, se torna difícil mudar a realidade. Uma transformação social que possa ajudar a construir um Brasil melhor para todos e todas, onde a defesa da vida seja colocada em primeiro lugar, se torna mais do que urgente. Cobrar políticas públicas que ajudem a estancar uma sangria e um sofrimento cada vez maiores é algo que não pode mais ser adiado.

Diante do empenho que muitos têm em querer mostrar grandes números de apoiadores e seguidores, de gente que se deixa guiar por líderes autoproclamados salvadores da pátria, estamos ante fatos concretos que não deveriam ser negados, mesmo que alguns, cegados por quem nunca se importou com a morte, mostrem menosprezo.

Se 500 mil mortos não mexem com a gente, se fazemos de conta que tudo está ok, se nos justificamos dizendo que isso não tem a ver com a gente, se deixamos de lado nossa necessária solidariedade, nos tornaremos cumplices de uma sociedade que ignora o sofrimento alheio. Ou a gente para, pensa e busca soluções concretas, também a longo prazo, ou estaremos condenados para sempre a viver como seres irracionais.


Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1- Editorial Rádio Rio Mar

2 comentários:

  1. Que texto! Que reflexão carregada de humanismo e amor. O luto é nosso. É de todos, devemos agir, tomar uma atitude! A dor é nossa, não é do lado de lá.

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  2. Ama ao próximo como a ti mesmo...que possamos resgatar o sentido desse mandamento... não são números, são pessoas, são nossos irmãos e irmãs!

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