Com as palavras da oração do abandono
de Charles de Foucauld iniciou Dom Joaquim Hudson de Souza Ribeiro sua
intervenção no final da celebração em que nesta sexta-feira 02 de fevereiro de
2024 foi ordenado bispo, assumindo a missão de bispo auxiliar da arquidiocese
de Manaus. Uma ordenação presidida pelo cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de
Manaus, tendo como bispos co-ordenantes Dom Luiz Soares Vieira, arcebispo
emérito de Manaus, e Dom Mário Antônio da Silva, arcebispo de Cuiabá.
Depois das homenagens da sociedade civil, as religiões de matriz africana e do clero da arquidiocese de Manaus, comentando o lema episcopal, “Ministrare
non ministrari” (Servir e não ser servido), Dom Hudson Ribeiro disse que “a
primeira vez que li essa frase em latim, foi na ocasião da chegada de Dom Luiz
Soares na Arquidiocese de Manaus em 1992”, dizendo que “foi por causa dele que
escolhi o mesmo lema de brasão episcopal”, agradecendo a presença do arcebispo
emérito de Manaus e o fato de ter acreditado nele, tê-lo acolhido em sua casa
como filho e, “sobretudo por ter me ensinado, pelo seu testemunho, o valor do
serviço e da simplicidade”.
Um serviço que disse ter estado presente
em sua família como “exercício contínuo de repartir com quem tinha menos que a
gente”, o que ele aprendeu de sua mãe Rosa, que “ensinou aos filhos que o
melhor, tinha que ser sempre para os outros”.
Ele insistiu em trazer memórias da infância, pois em palavras do poeta
Fernando Pessoa “o melhor do mundo são as crianças”, afirmando que “o mundo
fica pior quando deixamos que a criança que vive em nós, morra”.
O significado da palavra serviço, Dom
Hudson disse ter aprendido “na pequena comunidade de base que eu freqüentava
com meus irmãos”, na Paróquia São Pedro Apóstolo, no bairro de Petrópolis. Um legado
do Mons. Sabino que “muito nos ensinou o que Jesus nos deixou como preceito de
viver em comunidade, de rebaixar-se sempre, tomar toalha, água e bacia e lavar
os pés uns dos outros, evitando não querer ser nem grande e nem primeiro”,
ressaltou. De Mons. Sabino disse ter escutado pela primeira vez a frase atribuída
a Gandhi: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. Foi na comunidade que
ele foi ampliando o repertório do serviço, descobrindo que “da mesma mesa do
pão da palavra e do pão da Eucaristia, devem brotar o compromisso pela busca e
encontro de outros serviços outros importantes pães”.
Ele foi relatando esses pães: “serviço
do pão da justiça, do pão da paz, do pão da esperança, do pão da igualdade, do
pão da equidade, do pão do respeito às diferenças, do pão que se alegra com as
vitórias pela vida não pelas derrotas das guerras; do pão que enxuga as
lágrimas e se faz colo de mãe que acolhe nos momentos de provação da vida; do
pão da amizade; do pão que defende e promove a vida em todas as suas
circunstâncias; do pão da compaixão e sensibilidade; do pão do conhecimento, da
cultura e da arte; do pão de defesa da Amazônia – da floresta e de seus povos;
do pão do mistério do aqui e agora e do que ainda virá na promessa da
eternidade, e que teima dia a dia a conjugar o verbo esperançar, carregando a
cruz uns dos outros”. Um serviço que em sua maior expressão “brota de um
coração humilde que encontrou na cruz de Cristo a razão de sua existência”.
O novo bispo lembrou palavras do Cardeal
Martini, onde ele diz que “o crucificado é porta da Trindade” e que “Deus-amor”
é mais bem representado por Jesus humilhado, pobre, sofredor, crucificado”. Daí
Dom Hudson disse que “somente a loucura da cruz nos dará parâmetros para reler
a história do mundo como promoção verdadeira e profunda do ser humano e de seus
valores, não por meio da força, do poder que violenta, nem mesmo pela
legitimidade da lei, mas pelo caminho do serviço que se desdobra em atitudes de
compaixão, de perdão, de misericórdia, e que nos desafiam a assumir atitudes
proféticas a partir dos valores do Reino de Deus no cuidado para com toda a
criação”.
Em seu ministério episcopal, ele
pediu que ecoem as mesmas palavras de Jesus: “o filho do homem não veio para
ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”. E a Nossa Senhora
de Guadalupe, ele pediu que nos momentos de dúvidas, sofrimentos e provações ele
encontre amparo em suas palavras: “Não estou eu aqui que sou tua mãe?!”. Uma
intercessão que também pediu para uma longa lista de santos e santas e para os
bispos que lhe ensinaram o valor da profecia, agradecendo a presença dos bispos
co-ordenantes. Também lembrou das paróquias por onde ele passou, Mons. Sabino e
padre Orlando com quem tem morado por muitos anos, as pastorais e diversos
grupos que tem feito parte de sua vida, pedindo que “as nossas redes se
fortaleçam nas diferenças e na diversidade por meio da acolhida e do respeito”.
Dom Hudson agradeceu a acolhida do
Santuário São Jose, lembrando que “foi no pátio dessa casa salesiana que um dia
o querido amigo Pe. Damásio me apresentou Dom Bosco sonhador, me ajudou a
alimentar a vocação e a sonhar outros sonhos”. Ele agradeceu à vida religiosa, os
diáconos, leigos e leigas, pedindo ajuda para assumir as palavras de Santo
Agostinho: “para vós sou bispo, convosco sou cristão”. Um agradecimento também
a Dom Leonardo Steiner, “por confiar, por acreditar, por incentivar, por me
acolher, por compartilhar ensinamentos e inquietações, por partilhar do que se
tem, do que se sabe, do que se é, do que se sonha a partir dos valores do Reino
de Deus, e do que se acredita como Igreja Sinodal”, pedindo que “Deus nos
proporcione junto a Dom Zenildo e Dom Tadeu, sapiência, para sermos sinal do
amor de Cristo junto ao povo de nossa Arquidiocese de Manaus”.
Aos padres se dirigiu com as palavras
da Primeira Carta de Pedro: “Faço uma admoestação aos presbíteros que estão
entre vocês, eu que sou presbítero como eles...”, afirmando que “mesmo hoje
tendo sido ordenado bispo, continuo presbítero como vocês. Irmão de vocês”, e
pedindo: “ajudem-me a ser expressão de unidade e de comunhão junto ao
presbitério de Manaus e no pastoreio do povo de Deus caminhando com vocês.
Muito obrigado por rezarem comigo nesse momento”.
Finalmente, o novo bispo disse querer
“continuar caminhando com vocês ‘como aquele que serve’, pois ‘de graça e pela
graça recebi esse ministério’ e, portanto, de ‘graça e pela graça’ devo também me fazer presença servidora nessa Igreja de
Manaus”, dizendo que o que mais deseja e pede a Deus é “servir e não ser
servido”.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
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