A Solenidade
da Ascensão do Senhor é o dia em que a Igreja católica celebra o Dia Mundial
das Comunicações Sociais, que em 2024 completa 58 anos. Cada ano, o Papa envia
uma mensagem (pode ler aqui) que leve à reflexão. Neste ano o tema é: “Inteligência
artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana”.
A
Inteligência Artificial, que “está a modificar de forma radical também a
informação e a comunicação” no desafia a nos questionarmos como “permanecer
plenamente humanos e orientar para o bem a mudança cultural em curso”, diz
o Papa Francisco na mensagem. Inspirado em Romano Guardini, ele faz um chamado
a não fazer leituras catastróficas, insistindo em que os problemas “só podem
ser resolvidos passando pelo homem”, desafiado a ter uma espiritualidade mais
profunda.
O Santo
Padre adverte do “risco de ser rico em técnica e
pobre em humanidade”, o que demanda um olhar espiritual, e descobrir o
coração como “o lugar interior do encontro com Deus”. Por isso, ele insiste na
sabedoria do coração, “que permite ver as coisas com os olhos de Deus”, e faz
com que a existência humana não se torne insípida. O Papa reflete sobre as oportunidades
e perigos da Inteligência Artificial, nos advertindo contra a tentação de se
crer “sujeito totalmente autónomo e autorreferencial, separado de toda a
ligação social e esquecido da sua condição de criatura”, de “querer conquistar
com as próprias forças aquilo que deveria, pelo contrário, acolher como dom de
Deus”. A Inteligência artificial permite “contribuir para o processo de
libertação da ignorância e facilitar a troca de informações entre diferentes
povos e gerações”, mas também pode ser instrumento de “poluição cognitiva”,
gerando fake news, criando e divulgando “imagens que parecem perfeitamente plausíveis,
mas são falsas”, fazendo com que se distorçam as relações.
Essa
realidade demanda, segundo a mensagem, “modelos de regulamentação ética para
contornar os efeitos danosos, discriminadores e socialmente injustos dos
sistemas de inteligência artificial”, que levam a uma redução do pluralismo, a polarização
da opinião pública e a construção do pensamento único. O desafio é “crescer
juntos, em humanidade e como humanidade”, não se deixar levar no mundo da
comunicação pelos interesses do mercado ou do poder, insistindo em que “a
informação não pode ser separada da relação existencial”, o que demanda valorizar
o profissionalismo da comunicação, responsabilizando cada comunicador”, e junto
com isso ter capacidade crítica.
A mensagem
coloca alguns questionamentos que levam a refletir sobre o exercício da
comunicação, advertindo sobre o perigo da inteligência artificial acabar por “construir
novas castas baseadas no domínio informativo”. Frente a isso faz a proposta de
favorecer “a escuta das múltiplas carências das pessoas e dos povos, num
sistema de informação articulado e pluralista”, evitando que “uns poucos
condicionem o pensamento de todos”, e destacando que “somente juntos é que
cresce a capacidade de discernir, vigiar, ver as coisas a partir do seu termo”.
Tudo isso em vista de “orientar os sistemas da inteligência artificial para uma
comunicação plenamente humana”.
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