A Pastoral
da Comunicação (PASCOM Brasil) realiza de 12 a 14 de julho em Aparecida (SP)
seu 8º Encontro Nacional, com o tema: “Pastoral da Comunicação em uma mudança
de época: desafios e perspectivas”. Um espaço de reflexão, de partilha, de
busca de novos caminhos para avançar juntos em vista do anúncio do Evangelho.
Nessa dinâmica
comunicativa, cada vez mais determinada pela cultura digital, Moises
Sbardelotto refletia sobre “Igreja em saída nas estradas digitais”, partindo
sua reflexão da ideia de caminhar juntos nas estradas digitais. Se faz
necessário lembrar as palavras do Papa Francisco no Dia Mundial das Comunicações
Sociais de 2014: “entre as estradas estão também as digitais, congestionadas de
humanidade, muitas vezes ferida”.
Essa
afirmação nos leva a refletir, segundo Sbardelotto, sobre a presença plena dos
cristãos nas redes sociais, lembrando a colocação do Diretório de Comunicação
da Igreja no Brasil, que no número 230 afirma: “A Igreja é chamada a se
inculturar digitalmente, e sua presença nos ambientes digitais é incentivada
por ser um lugar de testemunho e anúncio do Evangelho. Isso exige que os
cristãos e as cristãs presentes na rede consigam ir além dos instrumentos e
tomem consciência das mudanças fundamentais que as pessoas, a cultura e a sociedade
experimentam nesse contexto, para aí também serem sal e luz do mundo”.
Uma
participação nas redes sociais que tem que levar a refletir sobre o modo como
pessoal e comunitariamente, se deve viver no mundo digital, com amor ao
próximo, atentos aos outros no caminho comum ao longo das rodovias digitais.
Algo que nos remete à sinodalidade, lembrando que no Informe de Síntese da
Primeira Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, o capítulo
17 fala sobre “Missionários no ambiente digital”, o que mostra que essa
temática é uma preocupação da Igreja católica.
Ele abordou
a questão dos pedágios das estradas digitais, ressaltando que o cristão não
pode ser ingênuo, “nos ambientes digitais não podemos entrar como se fosse um
lugar neutro, existem problemáticas”. Sbardelotto apresentou os resultados de
uma pesquisa sobre o uso das mídias sociais no Brasil, afirmando que no início a
internet era um espaço livre, um lugar aberto, democrático, que se tornou um latifúndio
dominado pelas plataformas: Google, Amazon, Appel, Meta, Microsoft. Ele refletiu
sobre a soberania dos nossos dados, questionando para onde estão indo os nossos
dados, algo de fundamental importância, porque “os dados são o petróleo contemporâneo,
a grande fonte de renda dessas empresas”.
De fato, a
internet não é um lugar neutro, é um lugar com interesses políticos e
económicos, sublinhou. Nesse sentido, ele refletiu sobre o lucro dessas
empresas com as informações, que nem sempre são positivas, destacando que o que
interessa é gerar lucro. Como consequência dessa realidade colocou o aumento de
depressão e suicídio com o surgimento das redes sociais, surgindo assim o que
denominou de “geração ansiosa”. Uma realidade que demanda da Igreja pensar no
impacto que isso tem em sua missão.
Partindo do
livro “Influenciadores digitais católicos: efeitos e perspectivas”, Sbardelotto
questionou se o que acontece é engajamento ou assujeitamento. Algo que leva à criação
frequente de conteúdos que geram impacto; disputa pela visibilidade e pela
relevância; temor constante de desaparecer; não transparência algorítmica das
plataformas. A consequência disso é o que ele chama contratestemunhos digitais,
deixar-se levar pelo bezerro digital: visibilidade, voltar os olhos para mim;
futilidade, esquecendo da essência da fé cristã; falsidade; agressividade. Atitudes
que levam a pisotear o Evangelho, o que tem que levar a pensar o que está
acontecendo no caminho da missão digital.
Se faz
necessário um discernimento entre a lógica do lucro e a lógica da graça. A
primeira propõe uma economia da atenção, consumo, individualidade, descarte; a
segunda se concretiza na economia do dom, Deus que se entrega gratuitamente; a comunhão,
a comunidade, o encontro. Desde aí abougou por uma presença discernente no
ambiente digital, discernir o que nós fazemos em rede.
Ele lembrou
as palavras de Francisco: “Nós cristãos, não temos um produto para vender, mas
uma vida para comunicar”. Diante disso afirmou a necessidade de ter clareza
disso para que nossa missão seja fiel ao Evangelho, refletindo sobre as
estradas digitais á luz do Caminho, que deve nos levar de volta às fontes, ao
Jesus dos Evangelhos e ao Evangelho de Jesus. Daí a proposta de partir do
Evangelho, de como o caminho pensado para caminhar hoje à luz do Evangelho.
Sbardelotto
propus alguns caminhos: o Caminho da proximidade, a atitude do Bom Samaritano,
prestar atenção às pessoas que estão à margem da nossa comunicação digital,
presença samaritana nas redes; o Caminho do anúncio do Reino, pensar em estratégias
coletivas de missão coletiva, para chegar naqueles que chamou de pagãos
digitais, aqueles que seguem o caminho do mercado, que tem que levar às ovelhas
perdidas, superando uma linguagem católica só para católicos, buscando caminhos
alternativos de engajamento social.
Igualmente
propus o Caminho do banquete, anunciar uma coisa boa, o amor de Deus, que é Pai,
que é Mãe, comunicar um banquete apetecível; o Caminho estreito, ser coerentes,
fiéis ao Evangelho nesse mercado que vai muitas vezes contra o Evangelho, falando
de ser um anti-influenciador digital, jogar contra a lógica dos influenciadores;
o Caminho da Cruz, o missionário digital é seguidor de alguém que afastou de se
mesmo a tentação da fama, do dinheiro, do poder, alguém que não condescendeu
com a mercantilização da Casa do Pai, que não serviu a dos senhores. Na Cruz,
ressaltou Sbardelotto, tudo foi invertido, não houve curtidas e praticamente nenhum
seguidor perante a Cruz, onde todas as lógicas são relativizadas. Tudo isso
seguindo o que ele chamou de método Emaús, que tem como passos o encontro, a
escuta, o diálogo e o testemunho.
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