O Centro de
Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, em Aparecida (SP), acolhe de 12 a 14 de
julho de 2024 o 8º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação (PASCOM Brasil),
que tem como tema “Pastoral da Comunicação em uma mudança de época: desafios e
perspectivas”.
Um encontro para que,
segundo o bispo de Campo Limpo e presidente da Comissão Episcopal para a
Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Valdir
José de Castro, possamos “compartilhar nossas experiencias, alegrias, desafios,
mas sobretudo que possamos renovar nosso compromisso com a Evangelho de Jesus,
compromisso de sermos sinais da boa nova no mundo da comunicação, ser
instrumentos de comunicação que constrói pontes e gera a cultura do encontro”.
O Secretário do
Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, Mons. Lucio Ruiz, definiu os
participantes como "um grande dom para a Igreja", reconhecendo que
"o que fazem e como fazem, a dedicação, o empenho e a sabedoria com que
percorrem o caminho da Evangelização através da Comunicação são uma riqueza,
não só para a Igreja que peregrina no Brasil, mas para toda a Igreja".
Na conferência de
abertura, em que refletiu sobre o tema central do encontro, pediu para
"nos questionarmos sobre como transmitir a Mensagem que transforma a
história em um momento em que a fé, em todo o mundo, está em discussão e, como
se diz, as Igrejas estão se esvaziando". Diante disso, ele propôs
"responder com coragem e criatividade para proclamar, com entusiasmo ainda
maior, o que mudou nossas vidas, o que deu sentido à nossa existência, o que
mudou a história, porque, como os Apóstolos, 'não podemos calar o que vimos e
ouvimos'".
Baseando-se no
Relatório Síntese da primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre
Sinodalidade, ele enfatizou que "todo ser humano constrói sua identidade
individual em um ambiente cultural que fornece a estrutura para a compreensão
de si mesmo, de seu papel na sociedade, uma hierarquia de valores e um
propósito desejável para o desenvolvimento de sua vida", algo marcado hoje
pela "imersão em processos digitais que afetam a maneira como as pessoas
adquirem informações, formam seus pensamentos, trocam expressões de afeto,
assumem valores e compartilham vários momentos", o que é chamado de
"cultura digital", que molda vários elementos, criando um ecossistema
cultural complexo, que o Papa Francisco chama de "mudança de época".
Refletindo sobre a
necessidade de inculturação do Evangelho, Mons. Lucio Ruiz lembrou que
Francisco pede que "toda a Igreja 'escute', que tenhamos a coragem de
descobrir a 'carne sofredora de Cristo' e que sejamos todos, em primeira
pessoa, os 'bons samaritanos' que curam as feridas da história, com o amor
salvador e redentor de Jesus". Partindo da importância de Pentecostes,
ressaltou que os apóstolos, com a presença do Espírito, pregam e o povo os
entende, afirmando que "o 'medo' é contrariado pela coragem de 'pregar'; o
'estar fechado' é contrariado pelo 'sair'; o ser entendido somente entre eles,
é contrariado pelo 'ouvi-los falar em sua própria língua'".
A partir daí, ele
insistiu que "não basta pregar, precisamos ser compreendidos!",
considerando que ser compreendido é "um sinal da presença do
Espírito", para o qual é necessário "inculturar a pregação para que
ela possa ser compreendida na língua do povo". A partir dessa perspectiva,
assinalou que "os processos de inculturação são necessários para
estabelecer um diálogo efetivo com cada cultura e, assim, poder identificar as
necessidades de cada ambiente", algo que referiu à realidade digital, que
"não é simplesmente um instrumento, mas uma cultura, a nossa".
Desde o Concílio
Vaticano II, com o decreto Inter Mirifica, a comunicação passou a ser
considerada como um espaço, mostrando os passos dados pelo Magistério
pontifício, que "seguindo a evolução cultural, também caminhou e
aprofundou a encarnação da Mensagem na cultura comunicacional". Isso o
levou a questionar "se essa consciência de inculturação, para que a
Mensagem seja 'pregada e compreendida', projeta estruturalmente nossas
homilias, nossa catequese, nossas confissões, nossos ensinamentos, nossa
pastoral e nosso currículo acadêmico...".
Lucio Ruiz
considera a cultura digital como um desafio missionário para a Igreja, ainda
mais se levarmos em conta que 68% da população mundial está imersa na
"cultura digital", o que exige o envolvimento de toda a Igreja, o que
apresenta desafios, dada a vertigem das mudanças. Isso exige uma mudança de
perspectiva, e ver que "a comunicação não é uma atividade da Igreja, mas
sua essência", o que exige um retorno às origens, "à essência
teológica do que é constitutivo para nós", chamando a "passar da
tecnologia ao querigma", o que muda tudo.
"Por que a
Igreja ainda não reconhece e aceita a cultura digital como um espaço de
evangelização e missão?", perguntou o secretário do Dicastério para a
Comunicação da Santa Sé. A isso ele respondeu que "esse fenômeno se deve
ao fato de que ainda não foi superada a visão instrumental do digital",
considerado uma ameaça, algo superficial, um espaço de lazer, com linguagem
frívola, leve, incapaz de gerar uma comunicação válida, de ir ao encontro da
pessoa e transmitir a Mensagem. Isso requer, insistiu novamente Lucio Ruiz,
"passar de um instrumento a uma cultura", que seja compartilhada, que
compreenda o espaço e o tempo e que evangelize.
A necessidade de
passar do instrumento à cultura busca evitar "uma pastoral que usa o
digital para fazer um caminho paralelo enquanto o mundo vive imerso em uma
realidade diversa". Não se trata apenas de "digitalizar a
pastoral", mas de uma "pastoral digital", ou seja,
"proclamar a Mensagem na linguagem, nos tempos, nas dinâmicas, na
narrativa, na forma própria desta cultura, para que os homens e mulheres de
hoje possam entendê-la e vivê-la", sublinhou, relacionando-a com a missão,
"porque se a cultura é nova, e essa cultura é habitada, então a cultura é
missionária". Para isso, é necessário usar o idioma nativo das pessoas,
"para que elas conheçam, entendam e vivam a Mensagem que realmente
responde às perguntas existenciais de cada homem e mulher, e que realmente muda
o curso da história".
Na reflexão sobre
“Inteligência Artificial: o futuro no presente”, com a assessoria de Everthon
de Souza Oliveira e Aline Amaro da Silva, que abordaram as Aplicações e
Implicações Sociais da Inteligência Artificial e seu uso na Pastoral da
Comunicação. O primeiro apresentou brevemente o que é a Inteligência
Artificial, algumas das suas técnicas e tendências e até onde pode chegar,
afirmando que “ao tentar unir Pastoral e Inteligência Artificial devemos
avaliar se de fato temos uma Pastoral Inteligente ou uma Evangelização
Artificial”.
Com relação ao
segundo elemento, foi colocado que a Igreja é impactada de diversas maneiras
com as plataformas tecnológicas. De fato, plataformas da IA são usadas na
evangelização, mostrando seus benefícios e potencial, seus riscos e desafios e
sua aplicação. Isso demanda pensar o futuro desde a necessidade de formação, a
produção de conteúdo, o fortalecimento da articulação e a garantia da
integração espiritual.
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